O Globo
Há dois líderes populares no Brasil. Um de
direita, Jair Bolsonaro, e outro de esquerda, Lula. Há ainda 29 partidos
políticos registrados, mas nenhum deles tem vida própria. O PT é menor do que
Lula. O PL também depende de Bolsonaro, que já perambulou por oito partidos até
estacionar, por enquanto, nele. Isso quer dizer que nós ainda dependemos de
nomes, não de ideias.
Quando Lula estava impedido pela legislação eleitoral de se candidatar a presidente, o PT perdeu. Antes, perdera outras três vezes, duas para uma ideia, o Plano Real, e outra para outro populista, este de direita, Collor de Mello. Sem Bolsonaro para competir em 2026, o PL não tem quem o substitua, por isso o ex-presidente insiste com o governador de São Paulo Tarcísio de Freitas para que saia do Republicanos, filiando-se ao PL. Pode ser um sinal de que já começa a aceitar que não poderá concorrer, e quer fazer do PL o seu partido. Valdemar Costa Neto, que controla o PL, deve se preocupar.
O interessante é que Bolsonaro não conseguiu
nunca criar o seu próprio partido político, revelando uma incapacidade de
organização que expõe seu jeito de fazer política. Entregou a economia a Paulo
Guedes, a política do dia a dia ao então presidente da Câmara Arthur Lira, e
foi conspirar contra a democracia, dando com os burros n’água. Já Lula
construiu um partido com bases populares importantes, e conseguia mobilizar a
massa trabalhadora. Já não mais. Restou a ele representar a defesa da
democracia, diante de um antecessor que queria destruí-la.
Já foi mais temerário no avanço contra a
democracia, quando, especialmente no primeiro governo, tentou, através de
diversos movimentos, emascula-la através de projetos de leis e decretos que
dariam ao governo a possibilidade de controlar as manifestações culturais e a
liberdade de expressão. Para controlar o Congresso, “comprou” o apoio de uma
maioria de ocasião com propinas e nomeações em estatais que resultaram no
mensalão e no petrolão.
Temos hoje o exemplo de que não apenas
governos de esquerda tentam controlar as instituições nacionais. Os governos de
Bolsonaro e de Trump são característicos de autocracias que buscam superar as
barreiras institucionais a suas pretensões políticas. Tanto nos Estados Unidos
quanto cá, as últimas barreiras têm sido as Supremas Cortes do Judiciário.
Trump, que em seu primeiro governo era contido por seus próprios assessores,
está sendo contido hoje pela Justiça.
Bolsonaro foi permanentemente barrado pelo
Supremo Tribunal Federal (STF), e hoje está para ser julgado pelos crimes que
cometeu. O Brasil, também graças ao Supremo, regrediu no combate à corrupção
pela desconstrução da Operação Lava-Jato que, a pretexto de punir excessos
cometidos pelo então juiz Sergio Moro e os procuradores de Curitiba, jogou fora
a água da bacia com a criança dentro. Mas não foi por descuido, e sim por
necessidade, como o sapo de Guimarães Rosa. Não se pretendia resolver desvios
de conduta apenas, mas apagar os traços do maior escândalo de corrupção já
descoberto no país.
A decisão de Turma do STF que decidiu pela
inabilitação do juiz Sérgio Moro seria apenas sobre o processo do triplex do
Guarujá, segundo explicação do ministro Gilmar Mendes. Mas todos os processos,
e não apenas os de Lula, foram anulados por motivos variados baseados na
decisão original, e todos os envolvidos, os que confessaram ou não, estão
liberados pela mais alta Corte de Justiça do país, como se nada houvesse
acontecido no país, ou, como disse o político Romero Jucá em telefonema
gravado, houvesse um “acordo, com STF e tudo”. Foi o que aconteceu.
Mas, na América Latina, vários países que foram atingidos pela ação corruptora da empreiteira brasileira Odebrecht em suas eleições, levaram adiante seus processos e vários ex-presidente e chefes políticos, além de empresários, foram condenados em esquemas derivados da Lava-Jato brasileira. Como um fantasma, esse escândalo de corrupção retorna para nos assombrar, como aconteceu agora no asilo político dado para a ex-primeira dama do Peru. Nadine Heredia foi fundadora do partido político que levou seu marido, Humala Olanta, à presidência da República e à cadeia posteriormente, recebeu pessoalmente U$ 3 milhões da Odebrecht a pedido de Lula, como delatou o presidente das empresa Marcelo Odebrecht. Agora, foi acolhida pelo Brasil sob uma suposta “ação humanitária”, quando é uma criminosa comum condenada a 15 anos de prisão.
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