domingo, 20 de abril de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Redução da jornada de trabalho não passa de engodo

O Globo

PIB brasileiro sofreria queda de até 16% caso houvesse mais uma folga semanal, estima estudo da Fiemg

Os projetos em tramitação no Congresso defendendo a redução da jornada semanal de trabalho ganharam apoio de setores da esquerda com base numa visão idealista e distorcida da realidade econômica. Defensores do fim da jornada de 44 horas semanais — ou 6x1, com seis dias trabalhados e um de folga — ignoram (ou fingem ignorar) que a mudança teria consequências dramáticas para o crescimento e a geração de riqueza.

Num cenário otimista, reduzi-la para 40 horas, com duas folgas semanais, provocaria queda de 14,2% no PIB, com perda de 16 milhões de empregos e de R$ 102 bilhões em impostos, segundo estudo da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg). Tal cenário considera que haveria aumento de 1% na produtividade do trabalho, patamar muito superior ao 0,2% anual registrado entre 1981 e 2024. Sem esse aumento, a queda no PIB chegaria a 16%, com perda de 18 milhões de empregos e de R$ 118 bilhões em impostos, destinados a investir em educação, segurança ou saúde.

Estimando a perda com base noutra metodologia, o economista Fernando de Holanda Barbosa Filho, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV/Ibre), calculou que a redução da jornada para 36 horas resultaria em queda de 11,3% no valor adicionado pelo trabalho à economia. Independentemente do método, é consenso que haveria encolhimento da riqueza produzida, portanto menos oportunidades e maior miséria.

Não é difícil entender os motivos. De olho nos votos, ninguém no Congresso defende diminuir salários de forma proporcional à redução das horas trabalhadas. Sem isso e sem maior produtividade, a redução da jornada não passa de um aumento salarial sem lastro. Muitas empresas não podem absorver o baque, e os custos seriam repassados ao consumidor, aumentando a inflação. As incapazes de repassar tudo seriam forçadas a demitir ou a substituir trabalhadores formais por informais.

Defensores da redução da jornada argumentam que a medida ajudaria a aumentar a produtividade. Trata-se de uma falácia. De acordo com esse pensamento mágico, os trabalhadores gerariam a mesma produção trabalhando menos horas — como se estivessem fazendo corpo mole à espera da mudança. A realidade é o oposto disso. Setores que conseguem se manter produtivos já reduziram a jornada para cinco dias semanais. De resto, a produtividade do trabalho no Brasil tem evoluído de forma medíocre há décadas, e nem Congresso nem governo têm tomado medidas para resolver essa deficiência, a principal da economia brasileira.

Os países que reduziram a jornada com sucesso viviam conjuntura bastante distinta. A Coreia do Sul introduziu a semana de cinco dias em 2004. O novo sistema começou no setor público e nas empresas maiores antes de ser adotado pelas demais. De lá para cá, o desemprego se manteve abaixo dos 5%, mesmo durante a pandemia. Coreanos trabalham mais horas que empregados nos países ricos, mas dedicam cada vez menos tempo ao emprego. Como conseguem? A produtividade cresce a altas taxas. Três garçons coreanos dão conta de atender o mesmo número de mesas, trabalhando menos. Com isso, pode haver mais folgas. No Brasil, a situação é outra. Levando em conta férias e feriados, o brasileiro trabalha muito menos que a média global. Sem que se torne mais produtivo, não é hora de reduzir a carga ainda mais.

Morte por ‘desafio do desodorante’ expõe barbárie na internet

O Globo

Episódio que vitimou menina de 8 anos em Brasília comprova urgência de resgatar PL das Redes Sociais

Causou comoção no país a morte de uma menina de 8 anos, no Distrito Federal, por ter, segundo investigações preliminares, inalado gases ao participar do “desafio do desodorante” na internet. Essa aberração, que circula na rede social TikTok, consiste numa disputa para ver quem inala a maior quantidade do produto em menor tempo. A polícia apura os responsáveis pelo conteúdo e se houve falhas por parte da plataforma digital.

O avô encontrou a criança desacordada. Sob uma almofada úmida, havia um frasco de desodorante. A menina chegou a ser levada ao hospital, onde a equipe médica conseguiu reanimá-la, mas morreu dias depois. Não há racionalidade em tais desafios. Há outras versões da sandice, com inalação de esmalte de unha, solvente de tinta, spray de limpeza de computador, gasolina ou laquê. Todos relativamente fáceis de encontrar no ambiente doméstico. Quando participa do desafio, geralmente a criança está sozinha, dificultando o socorro.

Infelizmente, casos como o do Distrito Federal são mais frequentes do que se imagina. Recentemente, uma menina de 7 anos no ABC paulista e outra de 11 em Pernambuco perderam a vida em circunstâncias semelhantes. Levantamento do Instituto DimiCuida — que atua na prevenção de jogos perigosos na internet — mostra que, de 2014 a 2025, ao menos 56 crianças e adolescentes entre 7 e 18 anos morreram ou ficaram gravemente feridos no Brasil em consequência de desafios compartilhados nas redes sociais. O número leva em conta casos noticiados na imprensa ou relatados a organizações da sociedade civil.

Episódios assim expõem o território sem lei das redes sociais, onde proliferam os conteúdos abjetos, como desafios letais, incentivos à automutilação, apologia a crimes de ódio, a maus-tratos de animais ou moradores de rua e à perversidade. Tais atrocidades continuam disponíveis e podem ser acessadas por crianças e adolescentes, a despeito dos filtros que as empresas afirmam aplicar. O Projeto de Lei das Redes Sociais, que, entre outros pontos, atribui às plataformas a corresponsabilidade por conteúdos que veiculam, se perdeu nos labirintos do Congresso. A proposta foi bombardeada pela oposição sob o pretexto descabido de que instituía censura — e rigorosamente nada foi colocado em seu lugar. Pela urgência do tema, deveria ser resgatada sem demora.

Nos últimos dias, as Polícias Civis de Minas Gerais e do Rio Grande do Norte, com apoio do Laboratório de Operações Cibernéticas da Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp), deflagraram operações para reprimir essas práticas criminosas. A Polícia Civil do Rio prendeu dois adultos e apreendeu seis adolescentes acusados de cometer crimes contra menores na internet. São ações necessárias, mas precisam ser constantes e mais abrangentes. De nada adianta agir depois que as tragédias já se consumaram. Algo precisa ser feito — e logo. Não é possível que crianças continuem a morrer de forma estúpida, vitimadas pela barbárie que se esconde nas redes sociais.

Política econômica se subordina ao modo eleição

Folha de S. Paulo

Com baixa aprovação a Lula, governo prioriza medidas de impacto; ministro anuncia isenção da conta de luz a 60 milhões

A administração petista indicou com clareza o que pretende nesta segunda metade do mandato presidencial ao trocar um projeto aprofundado de mudança do Imposto de Renda, que daria sequência à reforma tributária, por uma proposta de isenção para rendas até R$ 5.000 mensais, hoje peça de propaganda oficial.

Premido pela baixa aprovação popular a Luiz Inácio Lula da Silva, o governo entrou em modo eleição —e suas ações, aí incluída a política econômica, estão subordinadas a essa prioridade. Assim também se demonstrou com a nomeação do marqueteiro de campanha para o posto de ministro da Comunicação.

Não por acaso, a outra grande inovação gestada neste ano pelas pastas da economia foi o crédito consignado para trabalhadores celetistas garantido pelo FGTS, com o qual se procura atenuar os efeitos da alta dos juros promovida pelo Banco Central autônomo para conter a inflação impulsionada pelo gasto público.

Divulgaram-se há poucos dias estimativas oficias de que a expansão contínua de despesas de execução obrigatória deverá inviabilizar, a partir de 2027, o funcionamento da máquina pública, por esgotamento de recursos nos limites do Orçamento. O governo Lula, no entanto, parece reagir como se os números tratassem de décadas à frente.

Em tal contexto, não espanta que o ministro Alexandre Silveira, de Minas e Energia, sinta-se à vontade para anunciar de moto próprio um projeto de lei destinado a isentar 60 milhões de pessoas da conta de luz, mesmo depois de seu colega da Fazenda, Fernando Haddad, ter negado estudos nesse sentido em sua pasta ou na Casa Civil.

A aparente divergência não passaria, segundo Silveira, de uma "falta de comunicação". É sintomático, de todo modo, que nem Haddad nem Lula tenham se posicionado sobre uma medida de tamanho impacto.

Ainda que a sugestão não venha a prosperar, trata-se de exemplo da forma com que temas complexos, como o intrincado sistema elétrico brasileiro e seus subsídios cruzados, vão sendo tratados à base de voluntarismo —enquanto problemas de fato urgentes são empurrados com a barriga, e o BC enfrenta sozinho a ameaça inflacionária.

Em entrevista ao jornal O Globo, o ministro responsável pela publicidade oficial, Sidônio Palmeira, considerou que o governo não explorou o bastante a herança danosa recebida de Jair Bolsonaro (PL). Concorde-se ou não com a afirmação, o fato é que foi a rejeição ao bolsonarismo que deu um terceiro mandato a Lula.

A esta altura, um presidente que lidera as pesquisas para a disputa do próximo ano deveria estar mais preocupado com a herança que deixará. Na última reeleição petista, Dilma Rousseff manteve o pé no acelerador do gasto público, negou o quanto pôde a necessidade de ajustes e adiou as decisões difíceis para o segundo mandato. Deu no que deu.

Mensagens cifradas do planeta K2-18b

Folha de S. Paulo

Cientistas encontram sinais de organismos a 124 anos-luz, reacendendo na Terra a esperança de entender a origem da vida

Um ditado célebre no meio científico diz que ausência de evidência não é evidência de ausência. Agora, com notícias entusiasmantes sobre possível sinal de vida no planeta K2-18b, cabe a paráfrase: presença de evidência não é (ainda) evidência de presença.

Feita a ressalva, impõe-se reconhecer a importância da descoberta do astrofísico Nikku Madhusudhan, do Instituto de Astronomia da Universidade de Cambridge (Reino Unido).

Madhusudhan e colaboradores usaram dados do telescópio espacial James Webb para analisar informações físico-químicas provenientes do K2-18b, que se encaixa na classe sub-Netuno —de tamanho inferior ao menor dos planetas gasosos do Sistema Solar, mas maior que a Terra; no caso em tela, 8,6 vezes sua massa.

Utilizou-se o chamado método de trânsito. Quando um planeta passa em frente à estrela que orbita, parte da luz do astro atravessa sua atmosfera e o espectro de brilho assim modificado carrega informação sobre os gases que a compõem. O grupo de Cambridge encontrou assinaturas de dimetilsulfeto (DMS) e dimetildissulfeto (DMDS).

Na Terra, tais compostos são produzidos unicamente por seres vivos, como microrganismos. Trata-se, portanto, de uma evidência indireta de vida no K2-18b, que se acredita ser um planeta hiceano, ou seja, com hidrogênio na atmosfera e oceanos de água em estado líquido.

O próprio Madhusudhan aponta a necessidade de repetir observações para garantir que o sinal encontrado seja robusto, no nível em que as chances de anomalia estejam abaixo de 1 em 1 milhão. Afinal, pode ser um artefato estatístico —quando o resultado não é reflexo da realidade, mas efeito secundário de métodos de análise ou coleta de dados.

Tampouco se exclui que haja um mecanismo abiótico desconhecido para gerar DMS ou DMDS em outros mundos. Por ora, a hipótese mais aceita é que os mares do K2-18b fervilhem com bactérias ou algo assim.

E vida inteligente? Há muito a humanidade busca saber se não está solitária no cosmos. Mesmo que haja extraterrestres entre as estrelas, subsiste a dificuldade da distância: o K2-18b está a 124 anos-luz da Terra (cada ano-luz corresponde a 9,5 trilhões de quilômetros). Pelas leis da física como as conhecemos, qualquer contato se afigura como altamente improvável.

Nada disso diminuirá o brilho da descoberta, se comprovada. Ela fala à curiosidade atávica da humanidade pela origem dos fenômenos que lhe deram a luz.

O insulto e a injúria sentados no Salão Oval

O Estado de S. Paulo

Trump se junta a um autocrata centro-americano para desmoralizar o Judiciário dos EUA. A Suprema Corte tem evitado cair em provocações, mas precisará estabelecer um limite

Os apetites autoritários de Donald Trump, combinados com sua concepção maximalista do Poder Executivo, estão submetendo o Estado de Direito nos EUA a um teste de estresse sem precedentes, que põe a Casa Branca em rota de colisão com a Suprema Corte. Ante os atritos do governo com o Judiciário, a Corte, com a prudência que lhe cabe, tem buscado garantir o devido processo legal, preservar as prerrogativas do Executivo e evitar uma crise constitucional.

Essa encruzilhada ficou evidente no caso de Kilmar Abrego Garcia, um salvadorenho residente nos EUA que foi deportado para uma prisão de segurança máxima em El Salvador sem qualquer processo legal. No dia 10 passado, a Corte sustentou unanimemente uma decisão da Justiça federal determinando que o governo “facilite” o retorno de Abrego Garcia. A resposta de Trump foi a mais cínica possível: em um teatro midiático armado no Salão Oval, calculado para tripudiar da Suprema Corte, Trump mostrou ao mundo que ignorará a sua decisão fingindo respeitá-la.

Com a presença de autoridades do alto escalão, Trump recebeu o presidente de El Salvador, o orgulhoso autocrata Nayib Bukele, para encenar um impasse conveniente, como se nenhum dos dois pudesse fazer nada sem abusar de seus poderes. “Cabe a El Salvador decidir”, disse a procuradora-geral dos EUA, Pam Bondi. “Se quiserem devolvê-lo, vamos facilitar, fornecendo um avião.” De sua parte, Bukele afetou escrúpulos: “Espero que não estejam sugerindo que eu contrabandeie um terrorista para os EUA”, disse aos repórteres referindo-se a Abrego Garcia, contra quem não há nenhuma acusação de terrorismo. O secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, recitou diligentemente seu papel na pantomima, advertindo que a relação entre dois países é uma questão de política externa, cuja condução cabe ao Poder Executivo e escapa à alçada do Judiciário.

Como notou o articulista do Financial Times Edward Luce, “o drama no Salão Oval ofereceu uma lição cívica para o mundo: o governo dos EUA tem mais respeito por um homem forte estrangeiro do que por sua própria Suprema Corte”.

A farsa se prestou a normalizar dois precedentes assustadores e interligados. O primeiro é a ideia de que o governo pode prender pessoas à revelia da Justiça americana e encarcerá-las em algum Gulag improvisado mundo afora. Esse corolário foi expresso em uma declaração de três ministras da Suprema Corte: “As implicações da posição do governo” são “de que não só cidadãos estrangeiros, mas também cidadãos dos EUA podem ser detidos nas ruas, colocados à força em aviões e confinados em prisões estrangeiras sem oportunidade de reversão se a revisão judicial for ilegalmente negada antes da remoção”. E o voto prossegue: “A história não é estranha a tais regimes ilícitos, mas o sistema de leis desta nação foi projetado para impedir, e não viabilizar, a sua ascensão”.

O próprio Trump confirmou essa intenção: “Se for um criminoso nacional (americano), para mim não há nenhum problema”, disse durante o encontro. “Os nacionais são os próximos. Você precisa construir mais uns cinco lugares”, disse a Bukele, referindo-se às prisões salvadorenhas, arrancando risos no Salão Oval.

O segundo precedente é o descumprimento de decisões judiciais, como parte do projeto de Trump de emular não só o Estado policial de Bukele, mas todo o seu maquinário autocrático: remover juízes, intimidar adversários políticos, solapar o devido processo legal e eventualmente os limites de mandatos presidenciais. “A acumulação de todos os Poderes, Legislativo, Executivo e Judiciário, nas mesmas mãos”, já alertava um dos Pais Fundadores dos EUA, James Madison, “pode justamente ser designada como a própria definição de tirania”.

Uma colisão entre o Executivo e a Suprema Corte parece cada vez mais próxima. As políticas mais caras ao movimento Maga, das tarifas indiscriminadas à chantagem com os recursos do ensino superior, passando pelo desmonte da burocracia federal até a deportação de residentes estrangeiros por crimes de opinião ou mesmo sem qualquer acusação formal, ameaçam a divisão dos Poderes e direitos fundamentais. Até o momento, a Suprema Corte tem dado exemplos meritórios de autocontenção para evitar uma crise constitucional. Mas esse objetivo não pode ser mais importante que impedir a dilapidação da Constituição.

O caminho para a insolvência

O Estado de S. Paulo

Taxa real de 7% imposta aos títulos da dívida pública expõe nível de desconfiança no Brasil semelhante ao da crise do governo Dilma e serve de alerta para o fracasso da política fiscal

Os investidores estão dando ao governo federal a oportunidade de aferir o nível de desconfiança que ronda a política fiscal de Lula da Silva. Ao embutirem, desde dezembro de 2024, juros reais – já descontada a inflação – de mais de 7%, os títulos da dívida pública brasileira de longo prazo mostram que é alto o descrédito na solvência de um governo focado no aumento dos gastos e sem margem para elevar ainda mais a arrecadação. O descontrole impõe um preço muito alto pelo risco de compra dos títulos que financiam a dívida.

Uma recente reportagem do Estadão mostrou que há quatro meses esses títulos, com vencimento aproximado de dez anos, romperam a barreira dos 7% e desde então mantêm taxas semelhantes às que eram cobradas entre 2015 e 2016, quando o País viveu uma das piores crises de sua história, que culminou com o impeachment da presidente Dilma Rousseff. Apesar de o novo marco ter sido atingido em dezembro, desde outubro a taxa vinha gradativamente se aproximando desse patamar.

A simples equivalência com um período tão crítico para a economia nacional seria suficiente para disparar sinais de alerta no governo, diante de um endividamento público de 76% do Produto Interno Bruto (PIB). Economistas ouvidos na reportagem estimaram que, mesmo que o País não registrasse déficit nas contas públicas, ainda assim seriam necessários ao menos 13 anos para estabilizar o patamar de uma dívida tão acentuada.

Mudar esse cenário é uma escolha de governo, que não aparenta disposição para se afastar da crença lulopetista que vê no Estado o grande indutor do desenvolvimento nacional. Assim, mesmo em meio a uma situação fiscal complicada, criam-se programas sem o respectivo aprofundamento da capacidade orçamentária. Um exemplo é o Pé-de-Meia, que combate a evasão escolar no ensino médio. O programa tem previsão de custo de R$ 12,5 bilhões neste ano, mas só teve R$ 1 bilhão incluído no Orçamento de 2025 aprovado pelo Congresso. Há outros exemplos, como o Auxílio Gás e o próprio Bolsa Família.

Um relatório da Instituição Fiscal Independente (IFI) do Senado divulgado em fevereiro alertou para o aumento dos desafios do Tesouro Nacional na gestão da dívida em momentos de aperto monetário como o atual. A taxa básica de juros de 14,25% – com probabilidade de chegar a 15% até junho – piora a percepção de risco no controle da dívida, deixa os títulos mais voláteis e afasta investidores dos papéis destinados ao financiamento da dívida pública. Além disso, ter uma elevada parcela de títulos remunerados pela Selic na composição do endividamento faz com que o custo médio da dívida suba proporcionalmente mais em situações de aperto monetário. E haja recursos para a rolagem desse endividamento.

Não à toa, o descasamento entre as políticas monetária e fiscal é hoje um dos principais entraves à economia. A política monetária busca controlar a inflação, que em março acumulou taxa de 5,48% em 12 meses pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), calculado pelo IBGE. A expectativa do mercado financeiro, de acordo com o mais recente relatório Focus, do Banco Central (BC), é de que chegue ao fim de 2025 em 5,65%, isto é, 1,15 ponto porcentual acima do teto permitido. A redução de gastos pelo governo poderia contribuir para conter a inflação e, por consequência, afrouxar um pouco a política de juros do BC. Mas o que se vê nas medidas apadrinhadas por Lula é exatamente o oposto.

O conturbado cenário internacional já traz a sua cota de incertezas a países emergentes, como o Brasil. Soluções internas voltadas ao equilíbrio econômico e fiscal – como um efetivo corte de despesas, desindexação da economia, fiscalização e redimensionamento de programas sociais – seriam um bom sinal em direção à equalização da dívida e recuperação da confiança no País. Mas, pelo que mostra o levantamento da venda de títulos pelo Tesouro, o governo Lula da Silva está a anos-luz dessa meta. Como bem resumiu o ex-secretário do Tesouro Jeferson Bittencourt, as taxas de juros refletem hoje a certeza de que o arcabouço fiscal não vai entregar a solvência prometida.

Uma vitória das mulheres

O Estado de S. Paulo

Para Justiça britânica, mulheres trans não podem ter todos os direitos das mulheres

A Suprema Corte britânica decidiu por unanimidade que, para efeitos da lei antidiscriminação (Equality Act), os termos “mulher” e “sexo” se referem a “uma mulher biológica e um sexo biológico”. Fundamentalistas da ideologia de gênero, para quem qualquer questionamento ao slogan “mulheres trans são mulheres” é uma “violência”, já dispararam acusações de “transfobia”. Em antecipação, o vice-presidente da Corte, Patrick Hodge, advertiu ao anunciar a sentença: “Aconselhamos a não ler esse julgamento como um triunfo de um ou mais grupos na nossa sociedade à custa de outro. Não é”. Pessoas transgênero continuam protegidas contra discriminação por serem transgênero, mas agora as mulheres terão instrumentos legais para defender suas prerrogativas enquanto mulheres.

O gatilho foi uma decisão do governo escocês de conceder 50% das vagas em conselhos públicos para mulheres, inicialmente garantidas a qualquer pessoa que se declarasse mulher. Organizações feministas recorreram à Justiça, e o governo restringiu a possibilidade a portadores do Certificado de Reconhecimento de Gênero, um documento obtido mediante um diagnóstico de disforia de gênero após dois anos de experiência com o novo gênero. Mas isso significava que, em teoria, um conselho poderia ser formado por 50% de homens e 50% de “homens vivendo como mulher”. As associações recorreram de novo e o caso terminou na Suprema Corte.

O problema é que o certificado garante a mudança de gênero (a identidade social). Mas autoridades estavam esticando (ou sendo pressionadas a esticar) essa ficção legal como se ela garantisse a mudança de sexo (a constituição congênita).

Que uma Corte tenha sido obrigada a constatar que a realidade biológica é inelutável é revelador sobre o obscurantismo de nosso tempo. Mas quando pessoas são instruídas a normalizar fórmulas exóticas como “gênero fluido” ou “corpos que menstruam”, há algo de revigorante numa sentença que afirma que “o conceito de sexo é binário, uma pessoa é ou uma mulher ou um homem”. Pessoas estavam sendo canceladas, demitidas ou processadas por dizer o que a Corte está dizendo agora: que mulheres trans são homens, ao menos biologicamente. Mais do que revigorante, é questão de justiça garantir às mulheres certas proteções que “necessariamente excluem homens”, mesmo que eles tenham um pedaço de papel que os declare mulher ou até tenham passado por cirurgia de mudança de sexo.

Pode uma associação de lésbicas ou de apoio à amamentação ou de terapia a mulheres vítimas de estupro excluir uma mulher trans sem o risco de ser recriminada ou criminalizada por transfobia? Agora, sim. A sentença restaura a possibilidade de provisões exclusivas para mulheres em banheiros, vestiários, hostels ou serviços médicos. Isso sem falar em esportes ou prisões femininas. Uma pesquisa no Reino Unido revelou que dois terços dos prisioneiros trans que se identificam como mulher foram condenados por ofensas sexuais.

Sem tolher nenhum direito ou proteção das pessoas trans, a decisão da Corte é uma vitória para as mulheres – e para o bom senso.

O significado de Brasília, 65 anos

Correio Braziliense

Celebrar o aniversário de Brasília é reafirmar o compromisso com o Estado Democrático de Direito. Não se trata apenas de uma cidade que tem importância política por se tratar de uma capital federal; trata-se de marco civilizatório

Na fachada do Museu Histórico de Brasília, esculpida sobre o mármore, lê-se uma das mais célebres frases de Juscelino Kubitschek sobre a nova capital. "Deste Planalto Central, desta solidão que em breve se transformará em cérebro das altas decisões nacionais, lanço os olhos mais uma vez sobre o amanhã do meu país e antevejo esta alvorada, com fé inquebrantável e uma confiança sem limites no seu grande destino". Era com esse espírito, genuinamente patriótico, que o então presidente da República, em 1956, dava novo rumo ao país.

O pensamento de JK, gravado em um dos monumentos que formam a Praça dos Três Poderes, dá a dimensão do significado de Brasília para a nação. Ao completar 65 anos, a capital de todos os brasileiros cumpre a missão de enfrentar as grandes questões nacionais — não sem momentos difíceis. Em praticamente um terço de sua trajetória, Brasília representou o regime de exceção. Foram 21 anos em que as liberdades civis estiveram subjugadas por um regime autoritário, com consequências presentes até os dias de hoje. 

Mas Brasília também é palco de conquistas relevantes. Foi na capital federal que o Brasil se reencontrou com a democracia, em 15 de março de 1985. E desde então o país vive, há 40 anos e de forma ininterrupta, em um regime de liberdade política. Em outra contribuição histórica da nova capital, Brasília foi palco da Constituição Cidadã. Nenhuma carta constitucional, em todos os tempos, assegurou tantos direitos aos brasileiros como a que foi elaborada a partir de 1987 e promulgada em 5 de outubro de 1988. Não se pode, portanto, falar de democracia sem considerar a fundamental contribuição de Brasília para essa conquista. 

Celebrar o aniversário da capital federal é reafirmar o compromisso com o Estado Democrático de Direito. O sentimento e o trabalho árduo de homens públicos como JK, Tancredo Neves, José Sarney e Ulysses Guimarães é que animam o espírito de Brasília. Não se trata apenas de uma cidade que tem importância política por ser a capital federal; trata-se de marco civilizatório. É papel intransferível de Brasília trabalhar e dar o exemplo para que o Brasil se torne mais democrático, mais justo e mais inclusivo. 

Para o todo e sempre, o 21 de abril também deve ser lembrado como o antídoto para episódios infelizes como o 8 de Janeiro. Os ataques às instituições da República, na mesma Praça dos Três Poderes onde está escrita a mensagem de JK mencionada acima, evidenciam uma total incompreensão do significado de valores como democracia, Estado Democrático de Direito — e de Brasília. É preciso combater a intolerância e o extremismo. E Brasília é o palco principal para essas iniciativas.

O caminho para o avanço nacional passa necessariamente por Brasília. Ao completar 65 anos, a capital federal reitera sua vocação de servir o país. Essa missão traz grande responsabilidade. Mas, com a confiança depositada por seu criador, a cidade de todos os brasileiros está preparada para seguir adiante no desafio.

Páscoa: uma confraternização pela paz

O Povo

Neste domingo, celebra-se a maior festa do cristianismo. É o dia em que Jesus ressuscita dos mortos e, libertando a todos do pecado, também assegura a vida eterna, pela fé cristã. A partir desse pensamento, os fiéis são levados a refletir sobre o amor de Deus e o sacrifício de Cristo por todos. É um momento de renovar a fé dos que creem e de refazer o compromisso em seguir os passos de Jesus, vivendo de acordo com o que ele pregou.

Pela tradição católica, a Semana Santa teve início no Domingo de Ramos, relembrando a chegada triunfal de Jesus a Jerusalém. Na Sexta-Feira Santa, os cristãos relembram a morte de Jesus na cruz. Há celebrações, orações e meditações, mas é o único dia do ano litúrgico em que não há missas nas igrejas católicas. Predominam a reflexão e o silêncio, com o objetivo de rememorar a crucificação e a morte de Cristo. É dia de jejum e abstinência.

O Sábado de Aleluia é um dia de espera, representando o tempo em que Jesus permaneceu no túmulo. O altar das igrejas fica desnudo e o sacrário está vazio, simbolizando a ausência de Cristo. Há a Vigília Pascal. Neste Domingo de Páscoa, ou Domingo da Ressurreição, os fiéis comemoram a vitória sobre a morte e o pecado. Após o luto dos dias anteriores, ressurge a esperança da nova vida.

Para os fiéis, os rituais têm um caráter celebrativo e espiritual. Para a população em geral, é uma tradição reunir as famílias independentemente das crenças de cada um. É uma das festas do ano em que as comunidades se preparam a fim de confraternizar. É louvável que isso ocorra diante de tempos tão tensos como os que têm sido vividos nos últimos anos.

Em meio a disputas polarizadas, muitas das vezes causadas por conflitos de posicionamentos políticos, assiste-se constantemente a imbróglios familiares devido a opiniões distintas. Os pontos de vista divergentes se tornaram inimigos, e não apenas adversários. É lamentável, pois, que tenha havido esse afastamento entre famílias, amigos e outras comunidades próximas. Assim, faz-se necessário ajudar a promover um clima marcado pela não violência a fim de contribuir para a redução da violência e o estímulo da reflexão crítica e da convivência com o diferente.

A propósito, a Páscoa já era comemorada antes da época de Cristo. Era o festejo do povo judeu por causa da libertação da escravidão no Egito, que teria durado cerca de 400 anos. O próprio Jesus, segundo a Bíblia, participou de celebrações pascais. A partir dele, houve um novo significado para a festa. A boa-nova anunciada por ele trouxe mais conforto para o povo se libertar dos sofrimentos à época.

Assim, crendo ou não nos rituais religiosos, espera-se que os sentimentos de esperança e alegria que nutrem este dia sejam suficientes para reunir as pessoas queridas em torno do pensamento da confraternização e da paz universal.

A todos, uma feliz Páscoa! 

 

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