O Estado de S. Paulo
Há uma percepção generalizada de que Donald Trump não sabe muito bem o que está fazendo
A avalanche de notícias ruins continua, sem
qualquer indício de que vá parar logo. Na segunda semana de abril, o mercado de
Treasures estressou, após um leilão com demanda fraca e boatos recorrentes de
ordens de venda vindas da Ásia, um sinal de que a confiança nos papéis sempre
considerados como livres de risco está sofrendo arranhões. Essa situação levou
o presidente americano a adiar por noventa dias as chamadas tarifas recíprocas.
Poucos dias depois, foi a vez da liberação de
importações vindas da China na área de telefones e outros eletrônicos, a
chamada “emenda Apple”. Mas tudo isso em meio a ameaças de novas tarifas e
outras retaliações.
A complicação, certamente não esperada por Trump, foi a decisão chinesa de enfrentar a guerra na linha de olho por olho, tanto na área tarifária quanto na comercial. O controle mais estrito nas exportações de terras raras e a suspensão das entregas de aviões da Boeing são bons exemplos.
Resta evidente que as ações chinesas já
vinham sendo preparadas há muito tempo, e têm como base a segurança de que, por
suas características, o país pode encarar os custos da guerra comercial por
mais tempo que os
EUA, que já enfrentarão eleições legislativas
logo adiante.
A insegurança e a volatilidade estão minando
a confiança de países e agentes, afetando todos os mercados e implicando
paralisia nos planos das empresas no curto prazo e nas decisões de
investimento.
O comércio internacional está parando, o que
se vê na vertiginosa queda de reservas de espaços nos navios de linha,
especialmente na direção dos EUA.
Por essa razão, o Fed está correto ao adotar
uma posição de cautela, esperando mais tempo para decidir os próximos passos da
política monetária, o que provocou a ira de Trump, que não hesita em abrir mais
uma linha de conflito que vai realimentar a incerteza. Continua muito difícil
antever o fim da história. Mas parece seguro dizer que:
- O presidente americano faz apenas o que
quer, seguindo seus instintos, improvisando muito;
- Há uma percepção generalizada de que Trump
não sabe bem o que está fazendo;
- Volatilidade e incerteza estarão presentes
por bastante tempo;
- O custo da perda de credibilidade do
governo americano será enorme;
- Caminhamos para uma forte redução do
comércio internacional;
- Nos EUA, a inflação subirá rapidamente e a
atividade vai se contrair até, eventualmente, uma recessão.
Os mercados financeiros continuarão a
refletir essas tendências. Muito susto pela frente.
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