O adeus ao ex-ministro tucano Paulo Renato Souza, que no governo Fernando Henrique criou os mais importantes exames de avaliação do ensino no país, como o Enem e o Provão (atual Enad), reuniu ontem petistas e tucanos na defesa de cobranças e metas na educação. Quatro ministros do governo Dilma compareceram ao velório, em SP, entre eles o da Educação Fernando Haddad. A presidente Dilma e o ex-presidente FH destacaram o legado dos testes criados por Paulo Renato para a qualidade do ensino. Aos 65 anos, o tucano teve um infarto fulminante
União pelas avaliações no ensino
Tucanos e petistas elogiam legado do ex-ministro Paulo Renato, morto no sábado
Silvia Amorim
A morte do ex-ministro da Educação Paulo Renato Souza, vítima de um infarto fulminante, aos 65 anos, na noite de sábado, levou ao velório ontem, na capital paulista, não só tucanos e aliados, mas também integrantes do alto escalão do governo da presidente Dilma Rousseff. Ao lado de tucanos históricos, todos defenderam o sistema de avaliações do ensino no país, exaltando o papel decisivo que o ex-ministro - que criou o Enem, o Provão (hoje Enad) e o Fundef - teve para o avanço da educação no país. O atual titular do ministério, Fernando Haddad, referiu-se ao trabalho de Paulo Renato, a quem chamou de amigo, como uma "contribuição valiosa" para o Brasil.
- Foi uma pessoa que deu uma contribuição valiosa, sobretudo nas áreas de avaliação e da equalização do financiamento da educação. Essas são iniciativas que conferem ao ministro Paulo Renato a estatura de um homem público que deixa um legado importante ao Brasil - afirmou Haddad, no velório.
De manhã, a presidente Dilma divulgou uma nota lamentando a morte do ex-ministro. "Recebi com pesar a notícia da morte do ex-ministro da Educação Paulo Renato Souza", diz na nota, ressaltando que o tucano "prestou relevantes serviços ao país".
O Ministério da Educação também emitiu nota oficial, ressaltando o trabalho de Paulo Renato à frente da pasta entre 1995 e 2002, quando "idealizou o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (Saeb)". O mesmo discurso foi reforçado por outros ministros de Dilma que estiveram na Assembleia Legislativa, local do velório.
- Foi um grande educador. Conheci Paulo Renato num momento de divergência e aprendi com ele como é importante para um homem público construir convergências. Era homem que pensava o Brasil e tinha compromisso com o país - comentou o ministro dos Esportes, Orlando Silva.
- Foi uma pessoa que pensou muito a educação. É uma perda muito grande - completou a ministra da Cultura, Ana de Hollanda.
Antes deles, já havia rendido suas homenagens a Paulo Renato o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, que destacou a sua postura como político.
- Estivemos em trincheiras opostas na vida pública, mas eu sempre tive uma relação de amizade com ele, que me fez respeitá-lo e considerá-lo como um grande homem público. Várias vezes no parlamento, embora eu sendo governo e ele oposição, defendemos projetos juntos.
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, de quem Paulo Renato foi ministro da Educação em suas duas gestões, resumiu em uma frase o legado do colega.
- Ele mudou a educação no Brasil - disse FH. - Os passos fundamentais, o que está acontecendo agora e que vai crescer ainda mais, como dar acesso a todas as crianças à escola... Ele criou o Fundef, que foi um dos passos fundamentais para melhorar a educação, o Enem, fez a Lei de Diretrizes e Bases da Educação... Enfim, deixou uma obra marcante - concluiu FH.
Para o ex-governador José Serra (PSDB), Paulo Renato foi o melhor ministro da educação que o Brasil já teve.
- A educação se divide em duas etapas: antes e depois de Paulo Renato - disse.
O trabalho pela universalização do acesso à escola para crianças e jovens foi um dos feitos do ex-ministro repetido por tucanos e petistas.
- Foi o grande responsável pela universalização do acesso ao ensino fundamental - destacou o governador Geraldo Alckmin.
Ex-ministro passou mal enquanto dançava
Paulo Renato estava aproveitando o feriado de Corpus Christi em um hotel na cidade de São Roque, a 59 quilômetros da capital paulista, quando teve um infarto fulminante. O ex-ministro estava acompanhado da namorada, Anke Roesler. Enquanto dançavam, ele sentiu uma dor no peito e desmaiou. Paulo Renato chegou a ser socorrido, mas chegou ao hospital já sem vida.
Com um histórico antigo de problemas cardíacos, Paulo Renato já havia posto três pontes de safena ainda quando era ministro, além de cinco stents (tubos usados em cirurgias cardíacas para impedir o entupimento de artérias) mais recentemente. Amigos contaram que ele se cuidava, fazia exercícios e controlava o peso.
- Ela me disse: "Seu amigo morreu feliz" - contou o ex-ministro da Fazenda Maílson da Nóbrega, referindo-se ao relato que teve de Anke.
O filho mais velho do ex-ministro, Renato Souza Neto, de 41 anos, classificou a morte do pai como "serena e indolor".
- Sei que ele estava muito feliz, num resort, foi uma coisa muito serena.
O corpo de Paulo Renato será velado por 24 horas para que dê tempo que suas duas filhas que moram no exterior cheguem. O enterro será hoje, às 10h, no Cemitério do Morumbi.
FONTE: O GLOBO
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