A presença de Aécio Neves e José Serra no Congresso da Juventude com discursos e horários diferentes mostra o dilema que o partido vai enfrentar até 2014
Karla Correia
Goiânia — Situados no meio do fogo cruzado entre os apoiadores do senador Aécio Neves (PSDB-MG) e o ex-governador de São Paulo José Serra, os militantes da ala jovem se esforçam para transformar a Juventude Tucana em uma cura para as divisões crônicas que afetam o partido e se agravaram a partir das eleições de 2002, quando Serra perdeu sua primeira campanha presidencial para Luiz Inácio Lula da Silva.
"Nossa maior preocupação hoje é demonstrar a unidade do partido", diz o presidente nacional da Juventude do PSDB, Marcelo Richa. Não é uma tarefa fácil. O reflexo das cisões do partido na ala jovem do tucanato era claro no Congresso Nacional da Juventude Tucana, que começou na sexta-feira em Goiânia (GO). "Todo mundo aqui se identifica com o Serra. São pessoas que trabalharam nas duas campanhas dele para a Presidência da República e criaram uma ligação forte com ele", diz um militante que preferiu não se identificar.
Mas a derrota de Serra para a presidente Dilma Rousseff em 2010 fortaleceu o sentimento do partido pela necessidade de renovação dos seus quadros — e de suas candidaturas. É nessa onda que, hoje, o senador mineiro surfa. "A pecha de segundo colocado colou no Serra. O nome mais forte dentro da juventude, hoje, é o do Aécio", avalia o jovem tucano.
"Esse conflito não existe. É uma pauta que só tem importância para a imprensa" José Serra, ex-governador de São Paulo
Ciente desse quadro, um Serra afável, disponível ao assédio da juventude desfilou ontem, após o encerramento dos debates, no encontro. Distribuiu beijinhos, conversou com os militantes, afagou e foi afagado. Em um sinal claro da mensagem de unidade pretendida pela organização do evento, a "Turma do Chapéu" — movimento mais forte dentro da Juventude Tucana, de origem mineira e fortemente aecista — cercou Serra, tirou fotos. O ex-governador deixou o evento minimizando o embate com Aécio. "Esse conflito não existe. É uma pauta que só tem importância para a imprensa", disse Serra, fazendo coro com as declarações do senador mineiro. "O PSDB está unido, sólido. Nossa proposta é resgatar a história, as conquistas do partido", pregou Aécio.
Caixa de ressonância
Hoje a ala que mais cresce dentro do PSDB, a Juventude Tucana se transformou não só em uma caixa de ressonância das tensões do tucanato, mas também em uma arma de peso dentro do partido de oposição, que tem de lidar com os riscos usuais de encolhimento presentes em qualquer sigla que esteja fora do círculo do governo federal e enfrentar uma militância petista atuante nas mídias sociais. A disputa pela simpatia da ala é consequência natural desse cenário.
"O PSDB está unido, sólido. Nossa proposta é resgatar a história, as conquistas do partido" Aécio Neves, senador (PSDB-MG)
"A relevância do grupo cresce também na medida em que se verifica um rejuvenescimento do eleitorado e toda a atenção que vem sendo dedicada às mídias sociais. A eleição de 2010 foi um laboratório dessa tendência", observa o secretário nacional de Juventude do PSDB, Wesley Goggi. Vem daí o empenho por uma presença mais forte dessa fatia da legenda nas eleições de 2012. O principal tema do congresso realizado em Goiânia foi anunciar os 400 nomes pinçados dentro da Juventude Tucana para disputar cargos eletivos no pleito do próximo ano.
"Tudo isso se enquadra na lógica de construção de uma candidatura forte para a disputa presidencial de 2014", diz Goggi. "Unido, o PSDB já vai enfrentar uma disputa difícil, contra um adversário que, hoje, domina a máquina pública. Com o partido desunido, a eleição de um presidente tucano está simplesmente condenada ao fracasso", acrescenta.
FONTE: CORREIO BRAZILIENSE
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