O Globo
A ameaça de colapso da mina 18 da Braskem em Maceió, que
colocou o Brasil em
alerta, é apenas a face mais visível do desastre provocado pela exploração
irresponsável e predadora de sal-gema na capital alagoana.
A possibilidade de o desmoronamento abrir uma
cratera de enormes proporções no fundo de uma lagoa e contaminar com resíduos e
minério o ecossistema local é assustadora, mas o enredo não é novo.
Maceió convive com a tragédia desde 2018,
quando começaram a surgir crateras nas ruas e rachaduras nas paredes das casas.
Um tremor de 2,5 graus na escala Richter aterrorizou os moradores daquela parte
da cidade.
Mais de 60 mil tiveram de abandonar suas casas. Hospitais, escolas, igrejas, comércios ficaram inutilizados, e houve uma onda de depressão e transtornos mentais na população. O que sobrou no entorno da área que pode acabar engolida pela terra é um cenário de guerra, uma cidade fantasma.
Com o pânico instalado, as autoridades locais
se lançaram numa insólita disputa para saber quem foi mais leniente com a
Braskem. O grupo do governador Paulo Dantas (MDB),
aliado de Renan
Calheiros (MDB), acusa o prefeito João
Henrique Caldas (PL), aliado de Arthur Lira (PP),
de ter feito um acordo de reparação muito vantajoso à companhia, enquanto
aliados do prefeito dizem que a turma de Renan é que sempre esteve no bolso da
petroquímica.
É uma pendenga em que não há vencedor
possível. Desde que a primeira das 35 minas foi implantada, nos anos 1970,
todos os governantes de uma forma ou de outra pegaram leve com a empresa.
Na esfera nacional, a situação não é
diferente. O inquérito aberto em 2019 pela Polícia
Federal para apurar os responsáveis ainda não acabou. Embora tenha
exigido um plano de fechamento das minas desestabilizadas que, de acordo com
reportagem do GLOBO, sofreu diversos atrasos, a Agência Nacional de Mineração (ANM),
a quem cabe fiscalizá-la, nunca multou a Braskem.
A CPI criada no Senado há mais de um mês para
apurar o caso ainda não começou a funcionar, porque nem os partidos do governo
nem os da oposição indicaram seus integrantes. A Petrobras, que
detém 36,1% das ações da Braskem —controlada pela Odebrecht, com 38,3% —, só se
manifestou ontem, uma semana depois do alerta de colapso da mina 18, mesmo
assim de forma tímida, dizendo apenas que “monitora o tema” e “se solidariza
com as famílias”.
Enquanto a maior tragédia ambiental urbana do
planeta se agravava no Brasil, o presidente Luiz Inácio Lula da
Silva circulava pela conferência do clima, em Dubai, cobrando responsabilidade
dos países desenvolvidos. Sobre o que se passava em Maceió, Lula não disse uma
palavra.
A esta altura, não há mais dúvidas de que a
causa do abalo foi a atividade mineradora da Braskem. A companhia afirma ter
“compromisso com a segurança das pessoas” e informa ter desembolsado mais de R$
9 bilhões com indenizações à Prefeitura e aos moradores. Mas, em seus
comunicados públicos, só se refere à tragédia de Maceió como “evento
geológico”.
Desde 2019, quando o Serviço Geológico do
Brasil-CPRM constatou que as minas foram construídas muito próximas umas das
outras sobre uma falha geológica e sem condições básicas de segurança, a
companhia fechou as minas, mas já contestou esse diagnóstico diversas vezes,
até na Justiça.
(Não deixa de ser irônico que uma empresa controlada pela Odebrecht, que sempre
se assumiu corrupta, mas sempre fez questão de propagandear a excelência de
suas obras, esteja no olho do furacão justamente em razão de obras malfeitas).
Em 2021, os representantes da Braskem ainda
diziam que não havia sinal de risco de colapso das minas, apesar dos alertas em
contrário. Até hoje a empresa não assumiu formalmente a responsabilidade pela
destruição — e nunca, nem indiretamente, pediu desculpas à população de Maceió.
Parece que não se aprendeu nada com as
últimas duas catástrofes provocadas pela mineração irresponsável — a de Mariana, que
arrastou 350 casas e deixou 19 mortos em 2015, e a de Brumadinho,
que matou 272 pessoas.
A Vale, que esteve no
epicentro das duas, cometeu uma série de desmandos no processo, mas desembolsou
R$ 70 bilhões em indenizações. E pediu desculpas. Nada disso torna a empresa
melhor ou menos culpada, tampouco apaga a destruição ou traz os mortos de
volta. Mas demonstra um mínimo de empatia com quem perdeu tudo o que tinha.
Um comentário:
70 bi,vamos combinar,é dinheiro pra dedéu.
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