quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Micheletti proporá volta de Zelaya após pleito

Ana Flor
Enviada Especial a Tegucigalpa
DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Deposto reassumiria em 2 de dezembro, três dias depois de eleição de sucessor, como maneira de travar tentativa de continuísmo

Proposta é aceita pelas alas mais radicais de apoio ao golpe, que anteriormente não aceitavam restituição sob nenhuma hipótese


O governo golpista de Honduras apresentará hoje, no início das negociações com chanceleres da OEA (Organização dos Estados Americanos) para dar fim à crise política, uma proposta em que oferece ao presidente deposto Manuel Zelaya um retorno ao cargo no dia 2 de dezembro -três dias após as eleições presidenciais para eleger o seu sucessor.

A proposta é aceita pelas alas mais radicais de apoio a Roberto Micheletti -que antes não aceitavam a volta de Zelaya- e recebeu o aval, segundo fontes do governo, da Igreja Católica, de empresários e de políticos.

A oferta do governo golpista, que inclui um pacote de outras medidas como a definição de um gabinete predefinido para Zelaya, demonstra que o grupo de Micheletti reconhece a necessidade de uma saída negociada para a crise e aceita a volta do líder deposto ao poder.

Conselheiros políticos de Micheletti não acreditam que as negociações se encerrem nesta semana, na presença de chanceleres da OEA. Eles estimam em pelo menos mais duas semanas para a costura de um acordo -e defendem a permanência de Zelaya na embaixada brasileira até dezembro.

A presença da OEA no país, entretanto, não é considerada vã. Ela serviria para definir quem serão os negociadores de cada lado e criar comissões que iriam detalhar as bases de um acordo amplo.

Segundo um conselheiro de Micheletti, Zelaya perdeu a confiança de políticos, empresários e da sociedade em geral ao insistir na realização de uma consulta popular sobre a convocação de uma Assembleia Constituinte, considerada ilegal pela Justiça e pelo Congresso e estopim para a sua deposição. Uma volta à Presidência com os mesmos poderes de antes do golpe abriria espaço para ele tentar levar adiante uma reforma constitucional e até adiar as eleições.

"Sabemos que se Mel [apelido de Zelaya] voltar ao poder e decidir continuar com políticas inconstitucionais, os outros países não vão enviar tropas. Dirão que esse é um problema de Honduras", diz outro assessor de Micheletti, justificando por que ele não aceita a pressão internacional para que entregue imediatamente o cargo.

Uma volta ao poder já com um sucessor democraticamente eleito esvaziaria, no ponto de vista do atual governo, a autoridade de Zelaya.

Para garantir que as eleições ocorram normalmente e sejam internacionalmente aceitas -a OEA vem sinalizando até aqui que só consideraria legítimas as eleições caso elas se dessem sob Zelaya-, Micheletti estaria disposto a abrir espaço para observadores de todas as organizações que desejem acompanhar o processo eleitoral.

Entre as demais propostas do governo golpista está a definição, nas negociações, de um pacote amplo de ajuda externa a Honduras.

Outro ponto que está sobre a mesa de negociações é uma anistia para ambos os lados. Para os partidários de Micheletti, qualquer definição acordada terá de ser ratificada pela Corte Suprema.

Como recompensa por deixar o poder, há vozes que defendem que Micheletti seja liberado do status de ex-presidente uma vez que Zelaya reassuma o posto -assim, poderia concorrer ao cargo em eleições futuras. Esse ponto, entretanto, não entraria no acordo agora. Seria analisado pela Justiça nos próximos meses.

As negociações mediadas por chanceleres da OEA se iniciam hoje e têm previsão de término para amanhã.

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