- Valor Econômico
Cresce defasagem entre o Brasil e as maiores economias
A corrida eleitoral no Brasil mudou de patamar na última semana pela ocorrência de três eventos, na seguinte ordem: a intenção do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, de firmar um acordo com o presidente Michel Temer para lançar-se candidato à Presidência da República até que o presidente decidisse se disputaria ou não a reeleição; o assassinato da vereadora do Psol Marielle Franco e de seu motorista Anderson Gomes no Rio de Janeiro que está, há um mês, sob intervenção federal contra a violência; e a decisão, informada a aliados pelo presidente Michel Temer, de concorrer à reeleição em outubro, conforme noticiou o jornal "O Estado de S. Paulo" na edição de domingo.
A morte da ativista despertou comoção, alicerçou protestos em toda parte e mostrou que as esquerdas não perderam a capacidade de articulação e de somar esforços em defesa de suas causas. Os atos em memória de Marcielle acompanhados por multidões nas capitais das grandes cidades e, principalmente, em São Paulo e Rio, coincidem com a proximidade do julgamento de recurso encaminhado pela Defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4) que já condenou Lula a 12 anos e 1 mês de prisão. Em decisão de segunda instância.
Essas três informações colocam combustível na corrida eleitoral e podem precipitar a sucessão no Ministério da Fazenda e a recomposição da equipe econômica de Temer.
O ministro da Fazenda pode ter queimado sua última caravela ao antecipar ao presidente da República, via imprensa, que deixaria a Pasta no início de abril para circular pelo país, mostrar seus feitos e tornar-se conhecido - sendo que, se em três meses, seu nome não decolasse retiraria a candidatura para apoiar Temer caso este decidisse disputar a reeleição. O presidente devolveu a ousadia de Meirelles na mesma moeda. Segundo o jornal "O Estado de S. Paulo", o presidente teria afirmado a pelo menos três interlocutores estar decidido a buscar um novo mandato.
Com essa ação, em tese, Temer desmobiliza seu ministro da Fazenda que não teve de esperar tanto tempo quanto supunha para decidir se permanece na Pasta até dezembro. Permanecer no ministério tem sido a alternativa apontada por Meirelles à candidatura. A despeito dessa intenção, os cargos de ministro pertencem ao presidente da República. E o tempo todo.
Meirelles assumiu, há semanas, o interesse de se candidatar em outubro e, a partir daí, passou a dedicar boa parte do seu tempo a entrevistas concedidas a veículos de comunicação de Norte a Sul. A atitude do ministro instigou o núcleo político do governo a pensar na sucessão de Meirelles e no deslocamento do titular de Planejamento, Dyogo Oliveira, para a Fazenda. A secretária do Tesouro Nacional, Ana Paula Vescovi, tornou-se o principal nome a ser acionado para comandar o Planejamento.
O núcleo político de Temer é formado pelos ministros palacianos Eliseu Padilha (Casa Civil), Moreira Franco (Secretaria-Geral da Presidência) e Carlos Marun (Secretaria de Governo), além do senador Romero Jucá (líder do governo no Senado).
Nas últimas semanas, Henrique Meirelles reforçou sinais de que o secretário-executivo da Fazenda, Eduardo Guardia, seria por ele indicado a comandar a casa, caso deixasse o governo para disputar a eleição. Guardia - experiente e reconhecido especialista em políticas e contas públicas - é identificado, porém, com o governador Geraldo Alckmin, do PSDB, e também postulante ao cargo de presidente do Brasil, a partir de 1º de janeiro. Guardia já atuou como secretário de governo do tucano.
Dyogo Oliveira, além de ter como padrinho Romero Jucá, a quem substituiu logo após o senador afastar-se do comando do Ministério do Planejamento em função de apurações acerca da Lava-Jato, conquistou o presidente Temer ao propor a liberação das contas inativas do FGTS no ano passado e apoiar medidas que possam aquecer o consumo para melhorar a atividade ainda que no curto prazo, uma vez que um ciclo alentado de crescimento depende de estabilidade macroeconômica de longo prazo que só vingará com a reforma da Previdência. Essa reforma, mesmo enxuta, ficará para o próximo governo que, muito provavelmente, terá de propor sua ampliação durante os quatro anos de gestão do presidente a ser eleito em outubro.
As razões acima são algumas pelas quais o mercado financeiro reagirá no caso de eventual troca de Meirelles por Oliveira, que é considerado "flexível" o bastante para aprovar medidas com potencial para atrair votos ao candidato do governo à eleição e que está mais para Temer do que para Meirelles. Contudo, a reação do mercado pode ser limitada pela evaporação da agenda econômica em tempos de campanha. Também contribui para conter a reação dos mercados o fato de a política monetária começar a ser orientada para 2019.
Tome a eleição o rumo que tomar, é ponto pacífico que o crescimento sustentado dependerá fundamentalmente de uma agenda que promova a produtividade. O Brasil deixou para trás a recessão e cresce há trimestres, mas está em absoluto atraso em relação a outras economias. E não há dúvida de que o próximo presidente terá de dar início à compensação do que em breve será um abismo.
Segundo a OCDE, de 2014 a 2017 o Brasil encolheu 5,5%, enquanto os EUA cresceram 9,5%, os países da zona do Euro, 7,8% e o mundo 14,2%. Aplicando as projeções da OCDE para este ano e o próximo, de 2014 a 2019 o Brasil terá expandido sua economia em 0,4%, os EUA em 14,6%, a zona do Euro em 12,3% e, o mundo, em 22,7%.
Ao próximo presidente também vai se impor a necessidade urgente de restabelecer a confiança no país. Ainda que o risco-país mostre equilíbrio em patamar muito melhor que o visto no passado recente, a taxa de câmbio sugere um vazamento importante de dinheiro para o exterior. Não fosse assim, o Brasil não teria déficit praticamente zero no balanço de pagamentos e embora receba ao ano US$ 80 bilhões de investimento externo direto o dólar está entre R$ 3,20 e R$ 3,25. Sem demanda, o câmbio estaria bem abaixo de R$ 3. Talvez em torno de R$ 2,80.
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