terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Por qué no te callas?

Sindicalistas reagiram às declarações do ex-presidente Lula e criticaram a maneira como o governo conduz a negociação sobre o mínimo. O presidente de uma das centrais disse que Lula “perdeu uma grande chance de ficar calado”.

Sindicalistas criticam governo e Lula: 'Ele perdeu chance de ficar calado'

O MÍNIMO DA DISCÓRDIA

Centrais preparam carta em que ameaçam rompimento com governo Dilma

Leila Suwwan

SÃO PAULO. As centrais sindicais, que aguardavam nova rodada de negociação com o governo, reagiram ao revés duplo sofrido ontem. Primeiro, devolveram a acusação de "oportunismo" ao ex-presidente Lula, lembrando que ele e Dilma prometeram, na campanha eleitoral, aumento real do salário mínimo para 2011. Surpresos com a decisão da coordenação do governo de enviar a proposta de R$545, reafirmaram a disposição de brigar nas ruas e no Congresso.

Em encontro das seis entidades ontem, o grupo decidiu emitir um documento que indica o rompimento da presidente com os trabalhadores. O primeiro grande protesto, do setor metalúrgico, acontece amanhã em São Paulo. Os sindicalistas consideram ser intransigência dos ministros de Dilma - especialmente da área econômica - o valor do novo mínimo, que corrige apenas a inflação.

Eles pediam reajuste para R$580, além da correção da tabela de Imposto de Renda e aumento nas aposentadorias. Ontem decidiram aceitar um adiantamento do reajuste previsto para 2012 e sinalizam um acordo no patamar de R$560. Os presidentes da CUT, Força, CTB, CGTB, UGT e Nova Central devem afirmar em carta aberta que Dilma está rompendo com os oito anos de gestão Lula, em favor de interesses do setor financeiro.

O presidente da CTB, Wagner Gomes, afirmou que as centrais estão dispostas ao confronto aberto com Dilma, que ajudaram a eleger.

- O presidente Lula perdeu uma grande chance de ficar calado. Ele não é mais o presidente. Quando era, esteve em um comício com a Dilma em São Miguel Paulista, e eles prometeram que o salário mínimo teria reajuste com aumento real ainda neste ano. Se tem alguém oportunista e que não cumpre acordo, é o governo - disse Gomes. - Não vamos capitular na defesa do mínimo. É lamentável que a primeira atitude da presidente seja contra os trabalhadores.

- O Lula está com problema de memória. Quando Serra propôs o mínimo de R$600 e os 10% para os aposentados, ele e Dilma estiveram reunidos com os presidentes das centrais aqui na Força, antes do comício em São Miguel Paulista, e afirmaram que podíamos garantir para nossas bases que teríamos aumento real neste ano - disse o deputado Paulo Pereira (PDT-SP), o Paulinho da Força Sindical, citando o comício de 15 de outubro em que Lula acusou José Serra (PSDB-SP) de fazer demagogia com o mínimo.

O presidente da CUT, Artur Henrique, afirmou:

- Ninguém está querendo mudar a regra do jogo. Só queremos ser tratados da mesma forma que os empresários e o setor financeiro foram tratados durante a crise, com medidas excepcionais, especialmente para os bancos privados - disse Artur Henrique, que coordena a carta aberta das centrais.

O tom do documento será de alerta para o rumo que Dilma está tomando, com uma visão fiscalista que consideram equivocada e abandonando a herança de Lula. As centrais vão bradar o lema de que 2011 é o nono ano do governo dos trabalhadores, e não o primeiro ano de um "novo" governo neoliberal.

Antonio Neto, presidente da CGTB, adotou um tom menos hostil. Disse que a radicalização não é contra Dilma, e sim contra interesses derrotados em 2010.

- Podemos aceitar um adiantamento de parte do reajuste previsto para 2012. Topo fechar em R$560, mas precisamos aguardar o governo para saber se vamos ter negociação.

FONTE: O GLOBO

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