quarta-feira, 13 de abril de 2011

Gigantes desiguais:: Míriam Leitão

A China é o nosso principal parceiro comercial, mas nós somos só 2% do comércio externo chinês. Nossas exportações para eles são 83% de produtos básicos; nossas importações são 97% de manufaturados. Para cada empresa brasileira que exporta para a China, há oito que fazem importação. Quatro itens exportados pelo Brasil são 90% do total. Os 10 principais produtos chineses são 15% da pauta deles que chega ao país.

Os números contam uma história que não é favorável ao Brasil. Nós temos vocação para exportação de commodities metálicas e agrícolas, mas estamos ficando confinados a isso, pela estrutura do comércio exterior chinês. Apesar de estarem no mesmo grupo classificado de Bric (Brasil, Rússia, Índia e China), as desigualdades entre os dois países no campo comercial são grandes. Analistas brasileiros não acreditam que a viagem da presidente Dilma Rousseff vá mudar este quadro: o Brasil continuará sendo exportador de commodities e importador de produtos com tecnologia. O Brasil teve superávit comercial com a China em 2010, de US$5 bilhões, mas porque houve forte aumento do preço das matérias-primas. Somente de minério de ferro foram US$13,3 bilhões de receita, ou 43% de tudo que vendemos aos chineses. Nos dois primeiros meses deste ano, a participação do minério foi ainda maior: 61,3%.

A alta dos preços das commodities levou a China a ter pela primeira vez em sete anos um déficit trimestral na balança comercial com o mundo. As importações chinesas de minério de ferro, do mundo todo, subiram 14,4% de janeiro a março, para 180 milhões de toneladas, enquanto o preço médio subiu 59,9%, quatro vezes mais. Já as importações de soja caíram 0,7%, para 10,96 milhões de toneladas, mas o preço médio subiu 25,7%. Ou seja, a conjuntura internacional beneficia o Brasil até mesmo quando há redução de compra por parte dos chineses. Mas nem sempre será assim, é isso que o Brasil tem que ter em mente.

- A visita de Dilma não vai levar à nenhuma mudança drástica nas relações comerciais entre os dois países. O Brasil continuará vendendo commodities e a China, manufaturados. Os setores que têm um lobby mais forte junto ao governo conseguem algum tipo de benefício na viagem, mas não existe varinha mágica que mude o quadro, é um problema conjuntural. O que precisamos é de estratégia de longo prazo, porque o saldo comercial do Brasil com a China tem uma margem muito estreita, não é uma viagem que vai mudar isso - disse Kevin Tang, diretor da Câmara de Comércio e Indústria Brasil-China.

A diretora-executiva da consultoria Overchina, Andrea Martins, conta que têm dificuldade de encontrar empresas brasileiras com produtos de maior valor agregado que possam entrar na China. Além do preço do câmbio, dos custos trabalhistas e de infraestrutura, muitas marcas brasileiras têm pouca visibilidade fora do país.

- Tenho procurado empresas brasileiras que tenham patente própria para levar para a China. Mas não é fácil montar uma lista que possa interessá-los. Tenho tido dificuldade de enxergar produtos brasileiros de maior valor agregado que possam entrar lá. Até as marcas que poderiam ir às vezes ainda não cumpriram um ritual de comércio internacional, que é passar por outras grandes praças, como Nova York, Paris e Tóquio. Os chineses são muito preocupados com isso, por isso vender para esses lugares é importante antes de entrar na China - explicou Andrea.

Até em alguns alimentos o Brasil encontra barreiras. O caso da carne suína é um bom exemplo. Há cinco anos o Brasil tenta vender carne de porco aos chineses, que alegam questões sanitárias para não comprar do país. Há um ano, o setor apresentou uma lista de 26 frigoríficos para inspeção chinesa, mas eles só visitaram 13. Desse total, três frigoríficos foram autorizados esta semana, mas nem mesmo o presidente da Abipecs, Pedro de Camargo Neto, sabia, até ontem, quais eram.

A China tem muitas artimanhas, mas não temos sabido superar as barreiras e ter uma pauta mais diversificada. A melhor hora para fazer isso é agora, enquanto ainda temos a vantagem das commodities em alta.

FONTE: O GLOBO

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