segunda-feira, 11 de julho de 2011

Pedidos de CPIs e volta dos aloprados: bombas que o governo terá que desarmar

Planalto tem semana de desafios no Congresso para evitar novas dores de cabeça

Adriana Vasconcelos
BRASÍLIA. Os depoimentos do diretor-geral do Departamento Nacional de Infraestrutura e Transportes (Dnit), Luiz Antonio Pagot, previstos para amanhã no Senado e quarta-feira na Câmara, estão longe de serem o único problema que o governo Dilma Rousseff terá de administrar esta semana, antes do início do recesso parlamentar. Caso Pagot confirme as ameaças, reveladas por representantes do PR, de vincular o ex-ministro do Planejamento e atual titular das Comunicações, o petista Paulo Bernardo, ao suposto esquema de superfaturamento de obras no Ministério dos Transportes, o Planalto deverá ter dificuldades para barrar a instalação da CPI do Dnit. As articulações para a criação dessa CPI haviam perdido força com a demissão do ministro Alfredo Nascimento; mas já teriam sido coletadas as assinaturas de 24 senadores, três a menos do que as 27 necessárias.

Se não bastasse essa preocupação dupla, o governo ainda terá de administrar outras ameaças, também vindas de sua base: uma de ressuscitar o escândalo dos aloprados e outra de apoiar a criação de uma CPI do BNDES, que já contaria com 20 assinaturas e tira o sono do Planalto.

"Até sábado, a disposição de Pagot era sair atirando"

Apesar das negociações nos bastidores para tentar manter Pagot sob controle, representantes do governo admitiam ontem que o desfecho de sua audiência na Comissão de Infraestrutura do Senado ainda era uma incógnita. Inconformado com a ordem para que se afastasse do cargo, Pagot preferiu entrar de férias, desafiando o Planalto.

- Até sábado, a disposição de Pagot era sair atirando e seu alvo seria o ministro do Planejamento. Dependendo do desfecho de seu depoimento, tem CPI - previu um líder da base governista no Senado.
Preocupados com a possibilidade de a presidente Dilma ampliar para outras pastas, como Turismo e Cidades, a faxina iniciada no Ministério dos Transportes, os partidos da base se preparam para agir mirando no PT.

A estratégia, que começou a ser articulada na última semana, passaria pela aprovação, na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, de convite da oposição para que Expedito Veloso, atual secretário-adjunto da Secretaria de Desenvolvimento Econômico do Distrito Federal, dê mais detalhes sobre o suposto envolvimento do ministro da Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante, na fabricação de um falso dossiê contra o tucano José Serra, na campanha pelo governo de São Paulo de 2006.

O clima de insatisfação e insegurança dentro da base governista do Senado poderá estimular alguns aliados a fazer corpo mole durante a votação desse requerimento na CCJ. Nos bastidores, os rumores são de que o PSB estaria "querendo o sangue" de Mercadante, desde que descobriu que o ministro elaborou um dossiê apontando irregularidades na gestão do ex-ministro Roberto Amaral.

PR continua insatisfeito com preferência de Dilma por Passos

Já o PR poderia aproveitar a oportunidade para tentar sair do foco da mídia, com a ressuscitação do escândalo dos aloprados. Especialmente se a presidente Dilma optar por efetivar o nome de Paulo Sérgio Passos no Ministério dos Transportes.

- O nome do Paulo Sérgio não deixa de ser uma alternativa, mas o PR está disposto a apresentar outras para a presidente. Ela precisa ter em mente que a missão do novo ministro transcende a questão técnica, e seu papel político será fundamental para manter a aliança do PR com o governo - advertiu o deputado Luciano de Castro (PR-RR).

O presidente da CCJ, senador Eunício Oliveira (PMDB-CE), que poderia evitar que o convite a Expedito entrasse em pauta esta semana, lavou as mãos. Ele, aliás, desconfia de que o PT estaria por trás de denúncia publicada ontem pelo jornal "O Estado de S.Paulo", de que sua empresa Manchester Serviços Ltda. teria fraudado licitação de R$300 milhões com a Petrobras. Uma justificativa que poderá ser usada pelos peemedebistas para apoiar o convite é a de que Expedito estaria "pedindo para falar".

- Não sei se o convite a Veloso será aprovado. Vai depender do humor (da base) na hora - observou o presidente em exercício do PMDB, senador Valdir Raupp (RO).

O governo também terá de agir rapidamente se quiser impedir a criação da CPI do BNDES. A oposição iniciou a coleta de assinaturas no Senado, com a desculpa de investigar a participação do banco na polêmica fusão entre o Pão de Açúcar e o Carrefour. E até agora já conseguiu o apoio de 20 senadores.

A preocupação maior do Planalto, porém, seria com a possibilidade de a investigação se ampliar também sobre os R$60 bilhões que o BNDES teria destinado, durante o governo Lula, para financiar obras em 22 países, executadas por um grupo de empreiteiras brasileiras. Antes disso, porém, o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, poderá ser convidado a prestar esclarecimentos na Comissão de Meio Ambiente, Fiscalização e Controle do Senado.

Esperança do governo é a proximidade do recesso

Com tantos problemas, a estratégia governista esta semana será priorizar a votação da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2012, para garantir o início do recesso parlamentar.
- O clima não está bom. A sorte é que vai ter recesso a partir de quarta - admitiu o líder do PTB, senador Gim Argello (DF).

FONTE: O GLOBO

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