Governo já prevê que alta do IPI sobre carro importado vá parar na OMC
O aumento do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) nos carros importados, principalmente asiáticos, vai significar um peso a mais no bolso do consumidor brasileiro. A tributação adicional de 30 pontos percentuais no IPI foi criada anteontem pelo governo para beneficiar montadoras instaladas no país que vinham enfrentando queda nas vendas. O problema é que algumas destas empresas utilizam componentes importados e agora terão que comprar peças aqui. Com isto, o chamado "carro nacional" também deverá ficar mais caro. O governo já se prepara para uma possível contestação do novo IPI na Organização Mundial do Comércio (OMC).
A conta ficou para o consumidor
BARREIRA AOS ESTRANGEIROS
Imposto maior diminui a concorrência e há risco de alta generalizada nos preços de carros
Ronaldo D"Ercole, Lino Rodrigues e Henrique Gomes Batista
A alta do IPI para os carros importados e a exigência de nível mínimo de 65% de nacionalização de componentes, para evitar a aplicação das alíquotas maiores, devem levar a um aumento de preços dos carros também fabricados aqui, com a diminuição da concorrência. A advertência é do sócio tributarista da consultoria Ernst & Young, Sergio Fontenelle. Ele afirma que muitas empresas que hoje só montam carros no Brasil, caso das montadoras francesas e coreanas, ou que trazem alguns de seus modelos da Argentina, mas usam muitos componentes importados da matriz, como as japonesas Nissan e Toyota, terão de comprar mais autopeças no mercado local para escapar da taxação maior do IPI. Essa corrida pressionará os preços dos componentes, que serão repassados para o consumidor.
- A demanda por autopeças tende a aumentar muito e os fabricantes não terão como suprir esse crescimento. de imediato - diz, completando. - O que vai acontecer é um repasse dessa alta dos preços das autopeças ao consumidor, como sempre acontece.
O Ministério da Fazenda calculou que os preços podem subir de 25% a 28% no preço dos importados. Mas alguns analistas acreditam que as importadoras podem cortar margem.
Opções serão reduzidas à metade
O consumidor ainda verá suas opções de compra reduzidas. Para Paulo Roberto Garbossa, consultor da ADK Automotive, na faixa dos R$35 mil, o número de ofertas, levando em conta modelos e versões, poderá cair de 45 para 25.
Projetos de expansão de fábricas de autopeças, observa Fontenelle, levam entre seis meses a um ano para serem concluídos. Antes disso, portanto, as empresas não terão como aliviar as pressões da demanda maior.
Questionado sobre esse provável efeito da alta do IPI sobre os importados nos preços dos modelos nacionais, Rogélio Golfarb, vice-presidente da Anfavea, concordou que deverá ocorrer aumento da procura por autopeças, mas em sua opinião esse movimento não será brusco.
- O que vai ter é um gradual aumento da demanda por autopeças, isso vai acontecer, mas não do dia para a noite - disse Golfarb, lembrando que 19 montadoras disputam o mercado interno e que, por isso, a competição pelo consumidor continuará alta. - Não acredito que vai faltar peças.
Sérgio Reze, presidente da Fenabrave, entidade que reúne as revendas autorizadas de veículos, vê concorrência menor também:
- A indústria não pode se aproveitar da medida para aumentar preços e recompor margens. Se fizer isso, vamos pôr a boca no trombone. O consumidor não pode perder.
Golfarb, da Anfavea, reconheceu que a medida beneficia as montadoras já instaladas no país, mas rechaçou tratar-se de uma ação "protecionista". E culpa as distorções hoje existentes à "guerra cambial" a que se refere o ministro Mantega.
- Acho que preservamos os acordos que fizemos (Mercosul e México). E essa fórmula (alta do IPI com nível mínimo de nacionalização) apareceu como uma maneira de lidar com questões no contexto que vivemos. O que o governo tenta fazer é que prevaleça a produção interna - disse.
Ao preservar os acordos, o governo reduziu o alcance do aumento da tributação. Levando em consideração o número de carros importados este ano, somente 24% dos 531 mil carros importados sofrerão com o aumento das alíquotas. Dos 531 mil veículos importados entre janeiro e agosto deste ano, cerca de 401,7 mil unidades (76% do total) foram trazidas pelas montadoras instaladas aqui e que estão fora do alcance das medidas por acordos automotivos com Mercosul e México. Portanto, somente 129.281 carros trazidos ao país no período estariam sujeitos às novas alíquotas salgadas, de até 35%, caso as novas regras estivessem valendo.
O alvo das medidas negociadas pela Anfavea, associação que reúne as montadoras com fábricas no Brasil, e o Ministério da Fazenda foi principalmente as marcas asiáticas, especialmente as chinesas, que crescem aceleradamente. No ano, aumentou 474% a venda de carros chineses aqui.
- O mercado interno desacelerou e cresceu muito as importações, principalmente de carros chineses - afirmou o vice-presidente da Anfavea, Rogélio Golfarb, ao comentar as paradas na produção este mês, para ajustar estoques.
Nas revendedoras de importados no Rio imperava a apreensão. Em algumas, houve um aumento no número dos consumidores que queriam adquirir as últimas unidades "com preço antigo". Em outras, vendas não eram fechadas à espera de definições sobre preços e quantidade de veículos ainda faturados na alíquota antiga do tributo.
- Não fechamos nenhum negócio novo, ficamos em compasso de espera. Apenas honramos negociações que já estavam em andamento - conta o vendedor Marco Aurélio de Azevedo Canetti.
Esse é o caso do médico Pedro Paulo Vanzillotta, que está interessado em comprar um Hyundai IX35 para sua esposa. Ontem ele foi à concessionária da marca em Botafogo e disse que estava um pouco preocupado com o impacto da medida nos preços:
- Estou vendo o veículo, mas posso antecipar a decisão da compra se sentir que os preços podem aumentar muito - disse.
sim a professora Cléa Moreira de Oliveira e sua filha Cibele Guedes comemoravam a compra do veículo zero quilômetro de sete lugares:
- Fiquei feliz que assinei tudo na quinta, antes do aumento do IPI.
FONTE: O GLOBO
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