Os socialistas conquistaram maioria absoluta no Parlamento francês, dando ao presidente François Hollande as melhores condições para governar, sem precisar fazer alianças para aprovar suas reformas.
Passe livre para Hollande
Socialistas conquistam maioria absoluta, fortalecendo presidente dentro e fora da França
Fernando Eichenberg
O presidente François Hollande conquistou ontem as melhores condições para governar em seu início de mandato: o Partido Socialista (PS) obteve nas eleições legislativas a maioria absoluta de deputados na Assembleia Nacional. O resultado evita que o novo governo necessite do apoio de outros grupos de esquerda para aprovar no Parlamento suas reformas econômicas e sociais, as quais deverão incluir medidas de austeridade para conter o déficit público do país, como cortes no Orçamento e aumento de impostos. No plano europeu, o Palácio do Eliseu se fortalece politicamente em seu embate com a Alemanha da chanceler federal Angela Merkel pela aplicação de um programa de crescimento na zona do euro.
Os socialistas e seus aliados conquistaram 314 cadeiras, um resultado confortavelmente superior ao patamar mínimo de 289 assentos para a obtenção da maioria no Parlamento. Os conservadores, liderados pela União por um Movimento Popular (UMP), do ex-presidente Nicolas Sarkozy, ficaram com apenas 229 assentos. A votação foi marcada por um patamar recorde de abstenção.
O campo socialista sofreu uma emblemática derrota nas urnas: Segolène Royal, candidata do partido na eleição presidencial de 2007 e ex-companheira de Hollande, não alcançou a maioria de votos para se eleger. Embora também tenha ficado de fora do Parlamento, a líder do partido de extrema-direita Frente Nacional (FN), Marine Le Pen, comemorou a eleição de dois candidatos da legenda, entre eles sua sobrinha, Marion Maréchal-Le Pen, que aos 22 anos se tornou a mais jovem deputada da Assembleia Nacional.
François Hollande preferiu manter a discrição e não misturar sua condição de presidente do país com as questões partidárias. Coube ao seu primeiro-ministro, Jean-Marc Ayrault, se dirigir aos eleitores que, com a votação de ontem, conferiram uma maioria socialista nas duas casas parlamentares, o Senado e a Assembleia:
-Vocês confirmaram a vontade de mudança. Vocês escolheram a coerência, e os engajamentos do presidente da República poderão ser colocados em obra - disse o premier socialista em pronunciamento na televisão francesa.
O governo também pôde comemorar a vitória do primeiro-ministro e de todos os ministros candidatos no pleito legislativo, poupando demissões por causa de derrota eleitoral, uma regra previamente determinada por Jean-Marc Ayrault. Já o desânimo era visível no lado perdedor.
- É um dia de derrota, e é preciso reconhecê-la. Uma coisa está clara: nós perdemos - admitiu Jean-François Copé, atual líder da UMP.
Além da perda da maioria na Assembleia, o partido da direita não conseguiu eleger alguns de seus caciques, como os ex-ministros Claude Guéant, Nadine Morano e Michèle Alliot-Marie. O partido de centro, o MoDem, também saiu derrotado ao não conseguir reeleger seu líder, François Bayrou.
Brasileiro naturalizado francês terá um assento
Malograda em sua intenção de entrar para a Assembleia, a líder de extrema direita Marine Le Pen procurou minimizar seu fracasso pessoal, valorizar o desempenho do partido e alfinetar a direita tradicional da UMP:
-Não posso estar decepcionada quando se faz 49,9% contra todos. Perdi por apenas 114 votos de diferença. Mas o fato de estarmos representados na Assembleia é um enorme sucesso. A UMP pagou um alto preço por suas contradições ideológicas e seus compromissos políticos - declarou.
O Brasil, de uma certa forma, estará representado na Assembleia Nacional francesa. O gaúcho Eduardo Cypel, 36 anos, naturalizado francês em 1998, ganhou a eleição na 8ª circunscrição da região de Seine-et-Marne, com 52,77% dos votos, e terá um assento no Parlamento, em Paris. Emocionado, e assegurando estar ciente da "honra e da responsabilidade" de cumprir um mandato legislativo, o brasileiro disse que a difícil tarefa que o governo terá pela frente foi facilitada pelas urnas.
- Nosso negócio agora é trazer crescimento novo. Já tínhamos dito que haveria medidas para a diminuição da dívida. Mas é preciso ter também medidas para estimular o crescimento econômico, tanto na França como na Europa. E é claro que se governa melhor com uma maioria dependendo unicamente de sua própria família política. Mas o que conta é a esquerda dentro desta Assembleia, que hoje é bastante majoritária - disse Cypel ao GLOBO.
FONTE: O GLOBO
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