Especialistas alertam que proposta, como foi feita, terá reações adversas
Juliana Castro, Thiago Herdy
Alerta. Cientistas sociais da PUC, como Luiz Werneck Viana (ao microfone), debateram a necessidade de reformar a política após demonstrações de insatisfação nas ruas
RIO e SÃO PAULO - Cientistas políticos ouvidos pelo GLOBO defendem o debate sobre a reforma política, mas temem que a proposta, da forma como foi apresentada pela presidente Dilma Rousseff, tenha reações adversas. No entendimento do cientista político Fábio Wanderley Reis, professor emérito da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), a realização de um plebiscito "turbina a turbulência" no país:
- É uma reação que redunda em ser algo estimulante para criar confusão. Com uma rapidez inédita, espantosa, foi possível botar para correr um país inteiro e, em um estalar de dedos, o que conseguiram foi nada menos que uma Constituinte, uma nova Constituição.
Para Reis, a discussão da reforma política deveria se dar em outro espaço e em outros termos.
- Ganhar na correria, no meio da rua, uma reforma constitucional, quando fica bem claro que teremos esse tipo de manifestação a qualquer momento, com o poder de mobilização das redes sociais, é grave - resumiu o professor.
Já o cientista político Cláudio Couto, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), considera a proposta de plebiscito "ousada" por acreditar que políticos tradicionais não fariam a reforma, "por medo de não serem eleitos sob novas regras ou perderem poder" em um eventual novo sistema. Para ele, os integrantes desta Constituinte não deveriam ter ligação com a disputa política do dia a dia, mas deveriam ser da área.
Para o cientista político, a medida deverá ter reações adversas, principalmente por parte dos que temem não saber "onde termina" a reforma.
- Se a constituinte for aprovada, deve-se delimitar bem o escopo dela, já no ato de convocação, para não virar a Constituinte "do fim do mundo", que fala de tudo - afirmou.
Reforma não deve ser a toque de caixa
Mais cedo ontem, antes de Dilma defender a ideia do plebiscito, professores do Departamento de Ciências Sociais da PUC-Rio participaram de um debate com alunos e chamaram atenção para a necessidade de se discutir uma mudança no sistema político atual. Para eles, é preciso aproveitar o momento para abrir a discussão, mas ela não pode ser feita a toque de caixa, sob o risco de prevalecer a vontade dos grande partidos.
- O grande problema é que cada um tem uma reforma política. Todo mundo é a favor, mas um entende (a reforma) como o fim do voto obrigatório. Outro entende que é a implantação do voto distrital. Outro entende que é a questão do financiamento exclusivo (de campanha) - destacou o professor Ricardo Ismael no debate "Movimento da hora presente: entre a rua e a universidade", convocado para discutir as consequências das manifestações.
O professor Luiz Werneck Vianna afirmou que o movimento é uma expressão de que o povo cansou das relações de coalizão que se estabeleceram na política brasileira, com o "toma lá, dá cá":
- Está claro: queremos a política. Não esta que está aí. Queremos partidos, mas não esses da forma como se comportam.
Os partidos políticos que se atreveram a ir às ruas e se misturar aos manifestantes foram repreendidos. Essa atitude de repulsa às legendas também é alvo da análise dos estudiosos:
- Me preocupa muito essa questão apartidária. Acho que a luta tem que ser pela política, mas por uma democracia mais participativa para que a mudança social realmente seja possível. - afirmou a professora Angela Paiva.
Fonte: O Globo
Nenhum comentário:
Postar um comentário