Passeata que começou pacífica, em São Paulo, descambou. Apesar dos apelos de parte dos manifestantes, grupo tentou invadir a prefeitura, houve incêndios, invasão de lojas, prisões e muita confusão. Protestos se repetiram em outras cidades.
* Passagem mais barata
Governo se antecipou ao protesto de amanhã, no Recife, reduziu tarifas de ônibus em R$ 0,10, mas ato foi mantido. Motoristas prometem paralisação.
* Dilma se diz atenta
Presidente falou sobre os protestos e disse estar ouvindo as vozes das ruas, que querem mudanças. Imprensa internacional destaca a crise brasileira.
* Internet mobiliza
Redes sociais têm servido como instrumento de canalização da insatisfação e ferramenta para organizar mobilizações pelo País e até no exterior.
Clima de paz sofre ataque de vândalos
Protestos. Grupos se infiltraram entre manifestantes e protagonizaram cenas de barbárie. Em SP, saquearam lojas e tentaram invadir a prefeitura
SÃO PAULO - Em mais um dia de protestos por todo o País contra o aumento dos preços das passagens, os gastos astronômicos com a Copa do Mundo de 2014, entre outras reivindicações, as manifestações acabaram manchadas por pequenos grupos que fizeram uso da violência para serem ouvidos. São Paulo foi um belo exemplo disso. Ao menos 50 mil pessoas ocuparam ontem o Centro da cidade de forma pacífica, enquanto a presidente Dilma Rousseff prometia ouvir os milhares de brasileiros que saem às ruas clamando por melhorias na qualidade de vida. À noite, o ambiente mudou. Um grupo tentou invadir a sede da Prefeitura de São Paulo, o que levou à reação da Guarda Metropolitana. As grades de proteção diante da prefeitura foram retiradas pelos manifestantes. Vândalos atiraram objetos contra os guardas municipais, que reagiram com gás de pimenta e bombas de efeito moral.Diante do avanço do pequeno grupo de manifestantes, os guardas municipais recuaram para dentro da prefeitura, enquanto integrantes do protestos se dividiam entre invadir ou não o prédio. Após alguns incidentes, os próprios manifestantes recolocaram as grades de proteção diante da prefeitura e evitaram a invasão.
Ainda diante da prefeitura de São Paulo, no viaduto do Chá, manifestantes incendiaram uma van de retransmissão da TV Record e sacudiram uma caminhonete da Rede Globo. A tropa de choque da PM chegou a entrar em confronto com alguns manifestantes. Em outra parte da cidade, na Avenida Paulista, milhares de pessoas se manifestavam pacificamente durante a noite. "Estou aqui porque quero reclamar de todo este dinheiro usado nos estádios. Quero educação, hospitais, e ao menos ter uma cidade mais limpa", disse a estudante Alina Castro, 18 anos, na Praça da Sé.
O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, do Partido dos Trabalhadores, aceitou rever o preço das passagens de ônibus na capital paulista, após uma reunião com integrantes do Movimento Passe Livre, que prometem manter a mobilização até a anulação efetiva do aumento, de R$ 3 para R$ 3,20.
Em São Gonçalo, no Rio de Janeiro, outra manifestação reuniu milhares de pessoas que caminharam até a prefeitura da cidade, em protesto contra o aumento das tarifas do transporte público. Não houve incidentes durante o trajeto, acompanhado por 200 policiais militares.
Na capital carioca, o dia amanheceu tranquilo após uma noite bastante violenta. O ataque ao prédio da Assembleia Legislativa (Alerj), causou um prejuízo, avaliado pela Casa, entre R$ 1,5 milhão e R$ 2 milhões. Pelo menos 30% dos vidros do segundo andar do Palácio Tiradentes, além de vitrais franceses, foram destruídos pelos manifestantes. Os mármores do imóvel ? tombado pelo Patrimônio Histórico e Artístico Nacional ? acabaram pichados. A ação dos vândalos danificou ainda afrescos das fachadas, peças de mármore, mobiliário e parte do Salão Nobre.
Após edifícios e monumentos do Centro Histórico terem sido pichados e depredados, um grupo, que se mobilizou pela internet, procurou fazer a diferença: organizou um mutirão de limpeza em prédios importantes, como o Paço Imperial, na Praça Quinze. Pela manhã, mais de 2,6 mil pessoas já haviam demonstrado interesse em participar na página que trazia a mensagem: "O importante aqui é deixar claro: queremos construir, e não destruir", dizia o movimento batizado de "Declaração de amor ao Paço Imperial".
Estes estão os maiores protestos no Brasil desde as manifestações contra a corrupção do governo de Fernando Collor de Mello em 1992, que renunciou durante seu julgamento político no Senado. Novas manifestações estão convocadas para quinta-feira em várias cidades do país, incluindo Recife, Salvador e Rio de Janeiro, três das seis cidades-sede da Copa das Confederações. Os protestos poderão afetar a competição amanhã, quando, no Rio, será disputada no Maracanã a partida Espanha x Taiti, e, em Salvador, Nigéria x Uruguai. "O governo está preocupado", afirmou Gilberto Carvalho, chefe do gabinete de Dilma. "Que ninguém se precipite para tirar proveito político de um lado ou de outro", pediu.
Monitoramento
Os Estados Unidos estão monitorando os protestos dos últimos dias no Brasil, afirmou ontem a porta-voz do Departamento de Estado norte-americano, Jen Psaki. "É claro que estamos monitorando os eventos no Brasil, como era de se esperar", declarou ao ser questionada sobre o assunto no encerramento de uma entrevista coletiva regular concedida na sede da chancelaria americana.
"Manifestações pacíficas, como as que estão acontecendo lá no Brasil, fazem parte da própria democracia", disse Psaki, segundo transcrição da coletiva publicada na página do Departamento de Estado dos EUA na internet. "O que está acontecendo é que cidadãos estão manifestando suas opiniões e cobrando seus líderes sobre as questões que importam para eles", concluiu.
Fonte: Jornal do Commercio (PE)
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