sábado, 6 de julho de 2013

Fora da meta

Inflação sobe 0,26% em junho e volta a superar 6,5% em 12 meses. Mas deve cair em julho

Sérgio Vieira

SOB PRESSÃO

RIO e BRASÍLIA - A inflação subiu apenas 0,26% em junho, abaixo das projeções do mercado, informou ontem o IBGE. Mesmo assim, com o resultado de junho, pela segunda vez neste ano, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) superou o teto da meta de 6,5% fixado pelo governo para 2013. A inflação já havia estourado o teto em março, quando atingiu 6,59% no acumulado em 12 meses. Mas, nos próximos meses, preveem analistas, a tendência é de desaceleração no IPCA, que deve fechar o ano perto de 6%.

Além de ter ficado inferior às estimativas do mercado (em torno de 0,33%), o IPCA de junho foi menor do que o apurado em maio (0,37%). E, também, foi a taxa mais baixa desde junho do ano passado (0,08%). No acumulado do ano, o IPCA está em 3,15%.

Ajudou a segurar a inflação em junho uma alta menor dos alimentos e bebidas, que subiram apenas 0,04%, depois de avançarem 0,31% em maio. E houve queda nos preços dos combustíveis, com uma destinação recorde da moagem de cana-de-açúcar para o etanol. O álcool combustível caiu 5,33%, influenciando também na mistura da gasolina, que recuou 0,93%.

Vilão em junho, ônibus dará alívio em julho

Por outro lado, o reajuste das tarifas de transporte público (suspenso depois, na maioria das capitais, por causa das manifestações populares) puxou a inflação para cima. O item ônibus urbano registrou alta de 2,61% e teve o maior impacto individual no IPCA de junho, respondendo por 0,07 ponto percentual do índice. O aluguel residencial também pressionou, subindo 1,04%, devido ao grande número de turistas em capitais que sediaram a Copa das Confederações.

- Os ônibus foram o principal impacto, explicado por Rio, São Paulo e Goiânia. Sem isso, o IPCA ficaria em 0,19% - disse Eulina Nunes dos Santos, coordenadora de Índices de Preços do IBGE.

A suspensão dos reajustes, anunciada no fim de junho, terá impacto na inflação de julho. Por conta disso, alguns analistas já reduziram sua projeção para o IPCA deste mês. O economista-chefe da Gradual Corretora, Andre Perfeito, prevê uma inflação de 0,15% em julho, contra estimativa anterior de 0,20%. A previsão do economista-chefe do banco ABC Brasil, Luis Otavio de Souza Leal, é ainda menor: 0,10%.

- A queda das tarifas, que não entrou em junho, bate forte no IPCA de julho - disse Perfeito.

A inflação deste mês também deve sentir os efeitos das manifestações. Como o comércio ficou alguns dias fechados, devido aos protestos, pode haver redução de preços para vender estoques que se acumularam. Este impacto já foi sentido em junho, no caso dos alimentos.

- Os alimentos estão caindo no mundo inteiro. No mês específico de junho, é muito provável que os protestos tenham tido grande peso. O comércio esteve fechado por muitos dias - avaliou Eulina.

Ata do dólar só terá impacto em agosto

Mas também houve altas entre os alimentos. A maior, do leite longa vida (4,60%), foi provocada pela entressafra no Brasil; por problemas climáticos na Nova Zelândia, que é um grande produtor; e por mais importações da China.

O IPCA de junho ainda não captou os efeitos da alta do dólar nas últimas semanas. Analistas esperam um impacto do câmbio a partir de agosto ou setembro. Com a inflação ainda acima do teto da meta, é consenso no mercado que o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central vá subir novamente, em meio ponto percentual, a taxa básica de juros Selic. O economista Alex Agostini, da Austin Rating, prevê que a Selic, hoje em 8% ao ano, vai chegar ao fim de 2013 em 9,5% ao ano.

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse ontem que o resultado do IPCA de junho foi importante, porque mostrou um recuo nos preços de itens que vinham pressionando o índice, como os alimentos.

- A nova safra ajudou a colocar mais oferta de produtos no mercado, então, todos os alimentos estão para baixo. Isso é um bom sinal e esperamos que continue assim nos próximos meses - disse o ministro.

Mantega afirmou que o IPCA vai voltar a ficar abaixo do teto da meta:

- No segundo semestre, ele vai voltar para abaixo do limite superior da meta.

Fonte: O Globo

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