Vera Magalhães | O Estado de S.Paulo
A atuação do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), na condução da votação da primeira denúncia contra Michel Temer foi o fator preponderante para seu arquivamento.
O reconhecimento desse papel veio do próprio Temer e de seu entorno no Palácio do Planalto. Nos dias que antecederam e se seguiram à votação, era comum ouvir de ministros a avaliação de que houve um momento, logo depois de 17 de maio, que se Maia tivesse querido embarcar num plano para derrubar o presidente ele teria sido efetivo.
Quando tudo apontava que a segunda denúncia seria mais fácil de descartar – a economia se recuperando, Rodrigo Janot fora de jogo, a proximidade das eleições e a lambança da delação dos executivos do Grupo J&F –, o “fator Maia” vai se mostrando de novo crucial, só que ao contrário.
Ainda não está totalmente claro o que move o deputado do DEM em seu confronto com Temer. Apenas a disputa por deputados no supermercado dos partidos não explica a sanha de romper com o governo a menos de um ano das eleições.
Afinal, se ele quisesse apenas assumir a cadeira, melhor seria tê-lo feito no primeiro semestre. Suceder Temer eventualmente tiraria o presidente da Câmara da disputa pela reeleição para a Casa – e consequentemente para o seu comando. Não é esse, portanto, o combustível a inflamar sua retórica.
Também é difícil imaginar que seu cálculo seja de ficar bem com “as bases”. Mais do que em qualquer outra unidade da Federação, no Rio de 2018 valerá a máxima de que quem tiver um olho (como o comando da Câmara) será rei.
Não é inteligente comprar briga com aquele que vai ditar as regras do jogo da votação da denúncia e tem a pauta das votações de interesse do governo nas mãos. Portanto, a reação do advogado de Temer, Eduardo Carnelós, ao esquisito episódio da divulgação dos vídeos da delação de Lúcio Funaro pelo site da Câmara, foi, de fato, de uma incompetência atroz no sentido político.
Assim, Temer, que teve de recorrer a mais uma carta lamuriosa para tentar conter o estrago do fim de semana, vai engolir o orgulho e tentar conter a rebeldia de Maia. Resta saber se é tarde demais.
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