- Folha de S. Paulo
Disputa de protagonismo entre Câmara e Senado é egolatria estéril, que trava reformas
O Brasil atingiu informalidade recorde no emprego e 40 milhões de trabalhadores vivem de bico. O Banco Central revisou para baixo a expectativa de crescimento econômico para o próximo ano e agora, mais pessimista que analistas do mercado, avalia que o país crescerá menos de 2% em 2020.
Enquanto o PIB patina e há dúvidas sobre o grau de letargia da economia, os presidentes da Câmara e do Senado brigam para ser o dono da bola. O senador Davi Alcolumbre nunca escondeu seu aborrecimento com o papel de destaque da casa ao lado no encaminhamento da agenda econômica, a começar pela reforma da Previdência --já aprovada pelos deputados.
Nas últimas semanas, ele passou a reivindicar que as alterações das regras fiscais previstas numa proposta de emenda constitucional em discussão na Câmara migrassem para o Senado. A ideia seria acoplar o pacote à esperada PEC do pacto federativo, que propõe flexibilizar o Orçamento. A disputa atrasaria o processo em debate já avançado entre deputados. Preocupada, a equipe econômica costurou uma saída salomônica e dividiu tarefas.
Em outro episódio, diante da demora do Executivo em formatar sua reforma tributária, Davi e Rodrigo Maia (Câmara) passaram a rivalizar na condução de propostas diferentes sobre o assunto. O governo tenta solucionar o impasse e criar uma comissão mista para discutir a simplificação dos tributos.
Trata-se de egolatria estéril, que trava reformas prioritárias.
Agrega-se a isso novo elemento. Na operação da Polícia Federal que mirou o líder do governo no Senado, Fernando Bezerra (MDB-PE), a apreensão do celular do político e a involuntária liberação da senha para as autoridades enfureceram caciques.
O acesso a troca de mensagens (republicanas?) do articulador de Jair Bolsonaro com seus pares azedou o angu. Parece concreta a ameaça de barrar a pauta governista até o Palácio do Planalto assegurar desfecho satisfatório para a ação da PF.
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