quinta-feira, 11 de novembro de 2021

Poesia | Charles Baudelaire - Harmonia da tarde

Chegado é o tempo em que, vibrando o caule virgem,
Cada flor se evapora igual a um incensório;
Sons e perfumes pulsam no ar quase incorpóreo;
Melancólica valsa e lânguida vertigem!

Cada flor se evapora igual a um incensório;
Fremem violinos como fibras que se afligem;
Melancólica valsa e lânguida vertigem!
É triste e belo o céu como um grande oratório.

Fremem violinos como fibras que se afligem,
Almas ternas que odeiam o nada vasto e inglório!
É triste e belo o céu como um grande oratório;
O sol se afoga em ondas que de sangue o tingem.
 
Almas ternas que odeiam o Nada vasto e inglório
Recolhem do passado as ilusões que o fingem!
O sol se afoga agora em ondas que de sangue o tingem...
Fulge a tua lembrança em mim qual ostensório!

(Charles Baudelaire, As flores do mal, 1857, trad. Ivan Junqueira)

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