O Estado de S. Paulo.
A velha ordem internacional acabou, colocando o Brasil diante de complexas escolhas
Até aqui o governo Lula não parece ter
entendido a natureza do conflito na Ucrânia. Ou pretende não entender.
Não se trata de ação armada fruto de “um
equívoco”, como o presidente descreve a invasão deflagrada por Putin. Na sua
essência, é parte relevante da contestação da ordem que vigorou desde a 2.ª
Guerra Mundial.
A ascensão veloz da China ao papel de
desafiadora do “hegemon” (os EUA), por si só, já seria o grande fator de
contestação. É o que faz os clássicos do hiperrealismo duvidarem que NÃO venha
a ocorrer grave conflito militar entre as superpotências.
Mas tanto China como Rússia “aceleraram” o processo. Ambas enxergam o Ocidente como uma grandeza em declínio. Especialmente Putin juntou o velho imperialismo russo de mais de dois séculos com seu entendimento da “decadência moral” dos países ocidentais.
O resultado é uma profunda transformação na
qual o que parecia garantido – um regime internacional baseado em respeito a
regras e integração cada vez maior de comércio e cadeias produtivas, a tal
globalização – está recuando na própria substância.
Nesse novo contexto, multilateralismo e
“governança” global passaram a ser figuras de retórica, às quais o governo
brasileiro parece abraçado. Assim, é difícil imaginar um eixo sul-sul, em
oposição a um “norte”, quando se percebe que pelo menos dois integrantes dos
Brics estão de um lado no conflito, e não apenas na Ucrânia.
A guerra na Ucrânia não é um episódio
isolado, diante do qual vamos é ficar quietinhos, aproveitar as oportunidades,
tratar de não ofender ninguém e posar de bom moço repetindo platitudes inúteis
sobre “paz” e oferecendo-se para negociar entre beligerantes – o caminho
trilhado por Lula até aqui.
São forças históricas de imensa amplitude
em ação, e que conduzem países como o Brasil (potência média de influência
regional) não propriamente a escolher um “lado”. Mas, sim, a optar por um
“mundo”.
A guerra em curso até aqui desmentiu os
cálculos estratégicos de China e Rússia, que presumiam sobretudo incapacidade
de ação conjunta e coesão por parte do adversário. O campo de batalha da
Ucrânia demonstrou não só a atual superioridade tecnológica ocidental, que a
autocracia chinesa é capaz de superar. A lição fundamental é a de que
sociedades abertas no fundo mudam mais rápido, adaptam-se melhor (a Alemanha
abandonou o pacifismo) e têm melhor desempenho na relação entre poder civil e
operações militares.
O que se explica pelos valores em torno dos
quais essas sociedades se desenvolveram e prosperaram. O Brasil é parte do
mundo ocidental.
2 comentários:
WWaack, analista internacional...
Que babaquice!
Guerra é guerra,não há argumento que justifique.
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