O Estado de S. Paulo
Dar foco excessivo em notícias recentes,
como boletins diários, sobre o mercado cria
A nossa economia está dando bons sinais.
Não que tudo esteja resolvido, mas temos um panorama melhor. A inflação
acumulada em 12 meses está em 3,16%, começou o ciclo de queda da Selic, o
Congresso está em vias de aprovar a reforma tributária e o arcabouço fiscal.
Mas, mal começamos um ciclo mais positivo, e o mercado já está agitado.
As pessoas começam a ser bombardeadas com “oportunidades de investimentos”. No entanto, tomar decisões na pressão não é uma boa. Jean-Jacques Barthélemy tem uma frase que deve nos orientar: “A paciência é amarga, mas seu fruto é doce”. Manter a calma e ter paciência são essenciais para investir com mais equilíbrio entre o retorno desejado e o risco aceitável. É comum em momentos de mudanças rápidas que as pessoas fiquem desconfortáveis e por ansiedade mudem o foco do longo prazo para o curto prazo.
Nas finanças comportamentais, é estudado o
conceito de “recência”, que trata da tendência de dar maior importância a
eventos ou informações recentes ao tomar decisões financeiras, ignorando ou
subestimando eventos passados. Isso pode levar a decisões impulsivas, à falta
de diversificação e à adoção de estratégias de investimento de curto prazo,
prejudicando a saúde financeira de suas carteiras. uma sensação de urgência. A
crise financeira de 2008 sintetizou esse processo. Alguns dos investidores de
longo prazo mais preparados estavam mais céticos nos primeiros dias da crise.
Mas, à medida que a situação foi piorando e o tempo passando, as pessoas
ficaram tão suscetíveis ao medo causado pela espiral descendente do mercado que
perderam a paciência e a disciplina necessárias para manter o rumo.
Para evitar situações como essa, o
investidor deve procurar tomar decisões baseadas em uma análise mais ampla e
fundamentada. Isso inclui considerar o histórico de desempenho, a
diversificação de carteira, ter uma estratégia de investimento de longo prazo e
evitar tomar decisões impulsivas.
O investidor brasileiro de ações que tenha
se mantido firme entre 2002 e 2022, com uma carteira que simulasse o Ibovespa
ao longo desse tempo, teria tido um ganho nesses 20 anos, descontados a
inflação e os tributos, de quase 125% – mais que dobraria o seu capital em
termos reais.
Por outro lado, ter paciência não significa
ser inerte ou negligente em relação ao acompanhamento de suas posições e
desempenho de investimentos. A paciência não implica ignorar completamente seus
investimentos e deixá-los ao acaso. Uma abordagem bem-sucedida requer um
equilíbrio entre paciência e atenção cuidadosa. •
Dar foco excessivo em notícias recentes
sobre o mercado cria uma sensação de urgência
*PROFESSOR DE FINANÇAS DA FGV-SP
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