terça-feira, 15 de abril de 2025

A culpa é de quem? - Ranier Bragon

Folha de S. Paulo

Terceiro mandato do petista abriga partidos infiéis, mas parece não haver muito para onde escapar

Há cerca de um ano discute-se uma reforma ministerial no governo Lula.

A data parecia definida: o fim de 2024, após as eleições municipais. Seria a hora de realocar partidos, privilegiar vencedores e montar a equipe da segunda metade do mandato.

Um time que, essencialmente, marcharia em busca de um quarto mandato para o petista em 2026.

O tempo passou, 2024 acabou, lá se vão três meses e meio de 2025 e até agora Lula só mexeu peças do próprio PT.

Projeta-se apenas uma troca em pasta do União Brasil, mas porque o titular se enrolou com acusação de desvio de emendas.

Especula-se muito sobre a falta de ânimo do presidente para o rame-rame da negociação partidária, mas há um fato em Lula 3 que Lula 1 e 2 não viveram com tanta intensidade.

O petista abriga hoje uma ampla, mas infiel coalização ministerial —e parece não haver muito para onde escapar.

Em suas primeiras gestões e com popularidade bem mais alta, o PT foi hegemônico e teve o MDB como parceiro secundário, com outras siglas em meras participações laterais.

Os anos passaram, veio Dilma Rousseff, veio o empoderamento do Congresso e, principalmente, veio o furacão da nova direita no mundo e no Brasil.

Ao vencer por uma nesga Jair Bolsonaro (PL) em 2022, Lula correu em busca de Arthur Lira (PP-AL), que dias antes estava no palanque adversário. Distribuiu nove partidos a União, PSD e MDB, depois mais dois a PP e Republicanos.

Mesmo assim, vive tomando invertidas no Congresso, sendo a última a adesão de vários integrantes desses partidos ao requerimento pró-anistia ao 8 de janeiro.

Ele teria como opção promover uma real gestão compartilhada. O PT estaria disposto? Com a popularidade governamental deteriorada e o acirramento ideológico, o centrão teria interesse?

O mundo político está em compasso de espera até o início do ano que vem. Ninguém quer tomar decisões cabais agora, e não serão mexidas no ministério que farão o cenário mudar.

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