O Estado de S. Paulo
O brasileiro está exausto e Brasília não
percebe, a ilha da fantasia de todo desligada dos anseios do ser real. Brasília
é Barroso flanando na Sapucaí. Todo mundo baleável nas grandes cidades – e o
governo se organizando para combater roubo de celular. Todo mundo baleável – e
a oposição unida pelo perdão a um golpista. Todo mundo baleável – e ministro de
Corte constitucional comparando operação que pegou corruptos de bilhões ao PCC.
Os dias são Toffoli. Brasília, essa imagem, sendo a elite política cuja atividade consiste em convescotes pela manutenção do próprio poder-privilégio – em defesa da democracia. Brasília é quando Moraes encontra Pacheco, quando Dino encontra Alcolumbre. Quando a solução é Motta, o vip do orçamento secreto que respeita os ritos – um Lira democrata. Quando o dissenso é Fux.
O brasileiro exaurido é aquele cuja vida tem
impossível o mais mínimo planejamento. Não sabe se chegará ao mercado. Sabe que
sairá do mercado sem dinheiro e com menos comida do que na semana anterior.
Esta deveria ser a maior inquietação de quem
se aflige com a saúde da República: as gentes, empobrecidas, cada vez mais
apartadas das chances de prosperar, descreem do contrato por meio do qual
delegaram o norte do País. O cara, para quem se prometeu picanha, que não
consegue comprar pedaço de alcatra. Que mudou os hábitos de consumo.
E não importa qual seja o hábito, ainda que o
mais supérfluo, se observa o Congresso e se dá com reserva de R$ 50 bilhões
para emendas – grana cujo paradeiro será a estrada que serve à fazenda de algum
Juscelino. O observador é pai de classe média, que abriu mão da pizza aos
domingos – e que vê togado blindando benefícios que asseguram salários de seis
dígitos.
Todo dia sai pesquisa que aponta a
desesperança das pessoas. Lula ganhou porque a maioria desejava se livrar de
Bolsonaro. A maioria deseja se livrar. A condição do governante é descartável.
Não existe projeto de País. As políticas públicas sendo formuladas no
improviso, sob a encomenda de marqueteiro. Vide o ministro da Justiça sobre
segurança pública: “Essa questão já está sendo atribuída pelo povo ao governo
federal. Há essa percepção da população de que o governo precisa fazer alguma
coisa”.
Armas e drogas entram livremente pelas
fronteiras. E a questão, atribuída ao governo federal porque responsabilidade
também do governo federal, só se tornando agenda porque captada em pesquisa. O
produto é a tal PEC da Segurança Pública, prioridade para a qual não há
previsão no Orçamento.
Todo mundo baleável – e o Parlamento ocupado
em garantir suprimento à Codevasf. Todo mundo baleável – e o STF preocupado com
o encarceramento excessivo. Todo mundo baleável – e o governo cuidando da
violência via Lewandowski. Todo mundo baleável – e a direita amarrada a um
projeto de impunidade para Bolsonaro. •
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