O Globo
Mesmo com a atividade emitindo sinais mistos,
a manutenção de Selic neste nível elevado é mais do que suficiente para levar
inflação à meta
A economia está desacelerando, a inflação de
alimentos dá sinais de alívio, as projeções do IPCA do ano estão em queda. Com
tudo isso, o Banco
Central pode manter a Selic sem alterações na reunião desta semana.
Apesar do terrível quadro internacional que afeta alguns preços centrais como o
petróleo, o nível dos juros já está bastante elevado e a política monetária age
num tempo mais longo. Mantida a Selic em 14,75%, seus efeitos continuarão
atuando para conter a inflação.
Segundo análise do economista José Roberto Mendonça de Barros, alguns produtos ainda pressionam, mas os alimentos estão dando um alívio importante. Na primeira quadrissemana de junho, pela coleta da Fipe, a inflação geral foi de 0,26%, e a de alimentos foi 0,17%. Itens como massas (-0,42%), óleos vegetais (-2,3%) e óleo de soja (-2,35%) estão em queda, assim como as proteínas, com destaque para carne suína, pescado e ovos, este último com redução de 5%. Arroz e feijão caíram. E produtos in natura também recuaram (-1,91%). O que estraga a festa é o café: mesmo entrando a safra, subiu, na primeira quadrissemana de junho, 6,02%.
— É inequívoco que está começando a fazer
efeito essa bela safra que colhemos este ano. Fora o café, os preços
internacionais dos grandes itens de consumo não estão muito pressionados. No
que depende de alimentação, o horizonte é de que a gente vai ter um alívio —
disse Mendonça de Barros.
No Focus de ontem, o IPCA
caiu de 5,44% para 5,25%. Normalmente, as quedas são sempre residuais, no
entanto, em uma semana houve bastante diferença. O
IBC-Br permanece positivo, de 0,2% em abril. Tinha sido de 0,7% em
março. O Bradesco acha
que os indicadores de desaceleração da economia podem ser vistos na produção
industrial, um pouco no varejo e no que eles chamam de “PIB cíclico” que inclui
atividades como a agropecuária, a extrativa, a atividade imobiliária e
administração pública.
É realmente incrível que a economia esteja no
terreno positivo depois de um choque de juros de 425 pontos-base, de setembro
para cá. No relatório do Bradesco, eles destacam isso. “Apesar da taxa real de
juros acima de 8% desde outubro do ano passado, o ritmo de crescimento
econômico tem surpreendido no começo do ano. Em outubro de 2024, o consenso era
que a economia iria crescer 1,8% em 2025 com uma Selic de 10,75%. Hoje os
analistas esperam alta de 2,2% e uma taxa de juros de 14,75%”.
Silvia Matos, coordenadora do Boletim Macro
do FGV Ibre, avalia que os indicadores recentes mostram moderação da atividade
econômica, porém alerta que há sinais mistos, exigindo cautela. Para ela, os
dados são ambíguos.
— Vemos uma atividade mais fraca, consumo das
famílias crescendo após uma queda no fim de 2024. Por outro lado, o mercado de
trabalho segue bastante positivo — afirma.
A economista da FGV avalia que, embora o
mercado acredite na interrupção do ciclo de alta da Selic, não há indicação
clara de que a economia esteja desacelerando de forma expressiva. Por isso, ela
não descarta alguma alta de juros, mesmo que residual, de 0,25 ponto
percentual.
— Ainda não há uma desaceleração
generalizada. Se os dados fossem realmente negativos, já estaríamos discutindo
queda de juros. Mas não é o caso. O Banco Central vai esperar que os efeitos da
política monetária se consolidem, o que pode levar tempo — conclui Silvia
Matos.
O professor Luiz Roberto Cunha, da PUC,
ressalta, como Mendonça de Barros, o alívio em alimentos. Ele diz que os preços
dos alimentos estão em queda em junho e continuarão em julho, podendo subir um
pouco em agosto. Mas lembra que há imprevisibilidades no cenário internacional,
provocadas pela guerra Israel-Irã.
Por causa dela, o petróleo subiu 12% na
semana passada, só que ontem o Brent caiu 1,3%, e o dólar
fechou abaixo de R$ 5,50 pela primeira vez desde outubro. Enfim é
isso, economia desacelerando, alimentos em queda com alguns produtos subindo
como o café, incerteza internacional das grandes. Os juros já estão altos
demais, e sua manutenção é mais do que suficiente para conduzir a inflação à
trajetória de convergência para a meta de 3%, com teto de 4,5%. A hora é de
parar os juros. Aguardemos o anúncio de quarta.
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