Raio pode ser causa do blecaute que atingiu 12 estados no sábado
Mônica Tavares, Danilo Fariello, Vivian Oswald e Lucianne Carneiro
BRASÍLIA e RIO - O diretor-geral da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), Nelson Hubner, disse ontem que o apagão que atingiu 12 estados no fim de semana - e não seis, como inicialmente divulgado - poderia ter sido menor se os equipamentos da subestação de Itumbiara, em Goiás, que têm 40 anos, tivessem sido modernizados. Embora os equipamentos não estejam obsoletos, a montagem está desatualizada, explicou, referindo-se ao sistema que leva energia da turbina da usina para a subestação. Segundo o diretor-geral do Operador Nacional do Sistema (ONS), Hermes Chipp, a origem do problema ainda está sendo investigada pelos técnicos, mas pode ter ligação com um raio, já que o tempo estava nublado no sábado em várias regiões do país, inclusive perto de Itumbiara.
- A subestação não suporta a configuração atual do sistema, precisa de atualização - disse Hubner.
Ao todo, 12 estados foram atingidos pelo apagão de sábado - Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso, Acre, Rondônia, Mato Grosso do Sul, Goiás, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Espírito Santo. O desligamento interrompeu uma carga de 8.166 MW (13,4% do total do sistema).
"Coincidência ruim", diz secretário
O ONS admitiu ontem que algumas subestações precisam de modernização. O diretor-geral disse que a usina e a subestação de Itumbiara, que pertencem a Furnas, foram criadas com a finalidade de atender a Goiás e Brasília, mas ganharam importância por causa da evolução do sistema elétrico.
- Não há problemas de manutenção, mas uma necessidade de melhoria dos sistemas em anel das subestações. A subestação tinha uma finalidade e passou a ter outra relevância. Esses arranjos precisam ser revistos - disse Chipp, acrescentando que a Aneel vai enviar um ofício ao ONS para que seja feita uma verificação geral nas subestações mais importantes.
Após o problema identificado em Itumbiara, a Aneel vai determinar que as outras empresas informem como estão os equipamentos de suas subestações e usinas. O objetivo é verificar se esses arranjos estão facilitando a propagação do desligamento da energia, causando um efeito em cascata. O secretário de Energia Elétrica do Ministério de Minas e Energia, Ildo Grüdtner, considerou o desligamento de sábado "razoavelmente grande", classificando de "coincidência ruim" a série de apagões que atingiram o país nos últimos meses - seis desde 22 de setembro.
- Nós trabalhamos constantemente para que isso não se repita ou não ocorra, mas é impossível dizer que não vai ocorrer - disse Grüdtner. - Em princípio, realmente, há uma coincidência ruim, essa sequência de perturbações que temos no sistema interligado brasileiro.
Chipp, por sua vez, avaliou que o que ocorreu no sábado não foi um apagão, quando há um blecaute total, mas "um desligamento seletivo de cargas, que foram rapidamente religadas". Para ele, o corte de energia de sábado não tem ligação com os outros:
- Os eventos foram com origens e causas diferenciadas e não foram grandes apagões"
Verificações desde novembro
Grüdtner lembrou que o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, já determinou ações para tentar evitar que um novo apagão volte a ocorrer. Entre as medidas, está uma verificação nas subestações do sistema de transmissão do país, que teve início em novembro. O ministro não se pronunciou publicamente sobre os novos apagões, mas internamente "foi duro nas cobranças aos órgãos competentes" durante reunião extraordinária que convocou ainda no domingo com o comitê de monitoramento do setor elétrico.
Já o secretário Grüdtner fez questão de destacar que o ministério já pediu investigações e que as ocorrências deste fim de semana nada têm a ver com as ocorridas entre setembro e outubro deste ano.
Fonte: O Globo
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