Folha de S. Paulo
O crime organizado atua no país inteiro, mas
parlamentares são contra a PF liderar as investigações
A farra das emendas bilionárias não chega à segurança pública. Reportagem de Raquel Lopes e Mateus Vargas mostrou que, neste ano, as bancadas estaduais ignoraram a área. Sete unidades que estão entre as mais violentas do país –Alagoas, Amazonas, Mato Grosso, Pará, Pernambuco, Rio Grande do Norte e Sergipe– não receberam um tostão.
O tema que mais preocupa a população é uma
mina de votos. O Congresso está tomado por policiais militares e civis e
membros das Forças Armadas eleitos com a promessa de combater o crime. A
retórica linha-dura serviu para ganhar o cargo, mas nas ruas tudo piorou. A
violência aumentou, a sensação de medo explodiu.
É fácil identificar os parlamentares que
defendem a repressão a qualquer custo. Agregam ao nome a patente ou o cargo:
Capitão Sicrano, Sargento Beltrano, Delegado Fulano. Quem deve assumir como
suplente a vaga da deputada fujona Carla
Zambelli é o Coronel Tadeu, oficial da PM punido em 2019 por rasgar
uma placa contra o genocídio de negros.
Segundo pesquisa do Instituto Sou da Paz, o
número de militares e policiais na Câmara cresceu 950% nas últimas décadas. É a
turma que se movimenta, com apoio dos governadores de direita, para alterar o
que há de melhor na PEC da Segurança: a ampliação do poder da Polícia
Federal no combate às milícias e organizações criminosas.
Estas atuam como grandes empresas, fazem
fusões e aquisições, estão espalhadas e interligadas no país —na Rocinha
funciona um bunker do Comando Vermelho com traficantes do Ceará— e além das
fronteiras.
No caso do delator assassinado Vinicius
Gritzbach, foram os federais que apontaram a corrupção na polícia de São Paulo
por integrantes do PCC. No Rio, o vazamento de informações inviabiliza o
trabalho de desarticulação dos territórios ocupados. No início do mês, o
traficante Professor, um dos donos do Alemão, apareceu morto. Em maio, um
relatório da PF havia revelado que PMs negociavam propina com ele: "Você
vende pra caramba, favela grande, e só manda isso aí?".
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