terça-feira, 10 de junho de 2025

Capitão Fulano, o deputado linha-dura - Alvaro Costa e Silva

Folha de S. Paulo

O crime organizado atua no país inteiro, mas parlamentares são contra a PF liderar as investigações

A farra das emendas bilionárias não chega à segurança pública. Reportagem de Raquel Lopes e Mateus Vargas mostrou que, neste ano, as bancadas estaduais ignoraram a área. Sete unidades que estão entre as mais violentas do país –Alagoas, Amazonas, Mato Grosso, Pará, Pernambuco, Rio Grande do Norte e Sergipe– não receberam um tostão.

O tema que mais preocupa a população é uma mina de votos. O Congresso está tomado por policiais militares e civis e membros das Forças Armadas eleitos com a promessa de combater o crime. A retórica linha-dura serviu para ganhar o cargo, mas nas ruas tudo piorou. A violência aumentou, a sensação de medo explodiu.

É fácil identificar os parlamentares que defendem a repressão a qualquer custo. Agregam ao nome a patente ou o cargo: Capitão Sicrano, Sargento Beltrano, Delegado Fulano. Quem deve assumir como suplente a vaga da deputada fujona Carla Zambelli é o Coronel Tadeu, oficial da PM punido em 2019 por rasgar uma placa contra o genocídio de negros.

Segundo pesquisa do Instituto Sou da Paz, o número de militares e policiais na Câmara cresceu 950% nas últimas décadas. É a turma que se movimenta, com apoio dos governadores de direita, para alterar o que há de melhor na PEC da Segurança: a ampliação do poder da Polícia Federal no combate às milícias e organizações criminosas.

Estas atuam como grandes empresas, fazem fusões e aquisições, estão espalhadas e interligadas no país —na Rocinha funciona um bunker do Comando Vermelho com traficantes do Ceará— e além das fronteiras.

No caso do delator assassinado Vinicius Gritzbach, foram os federais que apontaram a corrupção na polícia de São Paulo por integrantes do PCC. No Rio, o vazamento de informações inviabiliza o trabalho de desarticulação dos territórios ocupados. No início do mês, o traficante Professor, um dos donos do Alemão, apareceu morto. Em maio, um relatório da PF havia revelado que PMs negociavam propina com ele: "Você vende pra caramba, favela grande, e só manda isso aí?".

 

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