quarta-feira, 11 de junho de 2025

O ‘jogo do contente’ de Bolsonaro- Vera Rosa

O Estado de S. Paulo

Ex-presidente pede desculpas a Moraes e reduz tentativa de golpe a críticas às urnas eletrônicas

Um outro Jair Bolsonaro apareceu ontem diante do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, relator da ação penal sobre a trama golpista. Sem o estilo explosivo que lhe é peculiar, o ex-presidente baixou o tom e usou a estratégia do “jogo do contente” ao dar outra versão para o que ocorreu no Brasil após a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva, em 2022.

Durante todo o interrogatório, Bolsonaro procurou circunscrever sua participação na tentativa de golpe a uma saraivada de críticas às urnas eletrônicas. Foi muito mais do que isso, como revelaram as investigações da Polícia Federal e a denúncia da ProcuradoriaGeral da República, mas o excapitão adotou essa tática de defesa para reduzir sua pena.

“O sentimento de todo o mundo era de que não tínhamos mais nada o que fazer. Tínhamos que entubar o resultado das eleições”, disse Bolsonaro, quando questionado por Moraes. Em vários momentos, ele também procurou se apresentar como um homem de fé, temente a Deus. “Sempre cumprimos a Constituição, com Deus no coração”, resumiu.

Além de pedir desculpas a Moraes por ter insinuado, sem qualquer prova, que o magistrado estaria levando US$ 50 milhões para fraudar as eleições de 2022, Bolsonaro chegou até a fazer piada. Inelegível até 2030, disse ao ministro que virou seu algoz: “Eu gostaria de convidálo para ser meu vice em 2026”.

Naquela sessão da Primeira Turma do STF ficou evidente que a cúpula da trama golpista vê não apenas o delator Mauro Cid como o ex-comandante da Aeronáutica Carlos de Almeida Baptista Jr. como traidores.

Baptista Jr. contou que, após o segundo turno de 2022, Bolsonaro propôs atentar contra a democracia. “Quem fala demais dá bom dia a cavalo”, provocou o ex-comandante da Marinha Almir Garnier, que mostrou ter memória seletiva ao responder a Moraes. “A gente conhece as pessoas depois que perde o poder”, lamentou o ex-presidente.

Enquanto Bolsonaro está no banco dos réus, a estratégia do Palácio do Planalto consiste em manter a polarização cada vez mais acirrada.

Não foi só para defender Moraes que Lula criticou a movimentação do deputado licenciado Eduardo Bolsonaro nos EUA. O petista chamou Eduardo para a briga porque a ele interessa que o filho do ex-presidente seja seu desafiante em 2026.

O governador Tarcísio de Freitas é desconhecido do grande público, mas não conta com a rejeição do sobrenome Bolsonaro no mercado e nem no meio empresarial. Além disso, nas palavras de auxiliares de Lula, Tarcísio representa a direita inteligente, “que come de garfo e faca”. Pode ser um risco. •

 

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