O Estado de S. Paulo
Ex-presidente pede desculpas a Moraes e reduz tentativa de golpe a críticas às urnas eletrônicas
Um outro Jair Bolsonaro apareceu ontem diante
do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, relator da
ação penal sobre a trama golpista. Sem o estilo explosivo que lhe é peculiar, o
ex-presidente baixou o tom e usou a estratégia do “jogo do contente” ao dar
outra versão para o que ocorreu no Brasil após a vitória de Luiz Inácio Lula da
Silva, em 2022.
Durante todo o interrogatório, Bolsonaro procurou circunscrever sua participação na tentativa de golpe a uma saraivada de críticas às urnas eletrônicas. Foi muito mais do que isso, como revelaram as investigações da Polícia Federal e a denúncia da ProcuradoriaGeral da República, mas o excapitão adotou essa tática de defesa para reduzir sua pena.
“O sentimento de todo o mundo era de que não
tínhamos mais nada o que fazer. Tínhamos que entubar o resultado das eleições”,
disse Bolsonaro, quando questionado por Moraes. Em vários momentos, ele também
procurou se apresentar como um homem de fé, temente a Deus. “Sempre cumprimos a
Constituição, com Deus no coração”, resumiu.
Além de pedir desculpas a Moraes por ter
insinuado, sem qualquer prova, que o magistrado estaria levando US$ 50 milhões
para fraudar as eleições de 2022, Bolsonaro chegou até a fazer piada.
Inelegível até 2030, disse ao ministro que virou seu algoz: “Eu gostaria de
convidálo para ser meu vice em 2026”.
Naquela sessão da Primeira Turma do STF ficou
evidente que a cúpula da trama golpista vê não apenas o delator Mauro Cid como
o ex-comandante da Aeronáutica Carlos de Almeida Baptista Jr. como traidores.
Baptista Jr. contou que, após o segundo turno
de 2022, Bolsonaro propôs atentar contra a democracia. “Quem fala demais dá bom
dia a cavalo”, provocou o ex-comandante da Marinha Almir Garnier, que mostrou
ter memória seletiva ao responder a Moraes. “A gente conhece as pessoas depois
que perde o poder”, lamentou o ex-presidente.
Enquanto Bolsonaro está no banco dos réus, a
estratégia do Palácio do Planalto consiste em manter a polarização cada vez
mais acirrada.
Não foi só para defender Moraes que Lula
criticou a movimentação do deputado licenciado Eduardo Bolsonaro nos EUA. O
petista chamou Eduardo para a briga porque a ele interessa que o filho do
ex-presidente seja seu desafiante em 2026.
O governador Tarcísio de Freitas é
desconhecido do grande público, mas não conta com a rejeição do sobrenome
Bolsonaro no mercado e nem no meio empresarial. Além disso, nas palavras de
auxiliares de Lula, Tarcísio representa a direita inteligente, “que come de
garfo e faca”. Pode ser um risco. •
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