• É um avanço a estatal reconhecer que um ex-diretor permitiu o superfaturamento de contratos, mas também é preciso saber por que não se detectaram os desvios
Desde o estouro do escândalo do petrolão, turbinado pelas descobertas feitas pela Operação Lava-Jato, da Polícia Federal, com o Ministério Público e Justiça federal do Paraná, o valor de mercado da Petrobras desabou. A estatal é avaliada hoje pela metade do que era cotada em Bolsa há pouco mais de um ano.
Justifica-se, porque o desvio de dinheiro feito pelo esquema lulopetista incrustado na estatal, por meio do superfaturamento de contratos com empreiteiras, significa, na prática, destruição de patrimônio da empresa, por roubo, em detrimento dos acionistas - o sócio controlador, a União, investidores institucionais e pessoas físicas, dentro e fora do país. Calcular este patrimônio desviado é tarefa da diretoria da estatal, para que, sem prejuízo dos desdobramentos penais, se saiba com qual tamanho a Petrobras ficou depois do assalto praticado no petrolão, com fins político-eleitorais e, como sempre, também enriquecimentos individuais.
No domingo, a "Folha de S.Paulo" informou que auditoria interna apurou em pelo menos US$ 3,2 bilhões o prejuízo causado pela construção da Refinaria Abreu e Lima, de Pernambuco, a que teve o custo inicial multiplicado por dez ao ser executado o projeto - de US$ 1,8 bilhão para quase US$ 20 bilhões. Em nota, no próprio domingo, a estatal não contestou a cifra e, pela primeira vez, admitiu a responsabilidade do ex-diretor de Abastecimento Paulo Roberto Costa. Segundo a estatal, Paulo Roberto decidiu fazer a "antecipação de diversas atividades e alterações nos projetos e na estratégia de contratação, o que levou a grande número de aditamentos contratuais".
Em português claro: antecipou de forma intencional a aquisição de equipamentos e certamente serviços, para permitir aumentos de custos, portanto facilitando o superfaturamento. Foi um avanço a estatal reconhecer desvios de um ex-diretor implicado no petrolão, no momento cumprindo prisão domiciliar, conseguida no acordo de delação premiada que fez com MP e Justiça.Falta muito mais a descobrir - e a admitir. Há, ainda, zonas de sombras em torno da atuação de outros ex-diretores com participação no esquema. Nestor Cerveró, no momento detido mais uma vez, nega ter recebido propinas, mas é acusado pela presidente Dilma de tê-la induzido a erro na compra da refinaria de Pasadena. Além disso, há Renato Duque, outro ex-diretor, este indicado pelo PT, e cujo assessor, Pedro Barusco, reconhece guardar US$ 100 milhões em dinheiro sujo no exterior. A curiosidade em torno de Duque não para de crescer.
A empresa, em nota oficial, reafirma a condição de vítima no petrolão. Na verdade, vítima mesmo são os acionistas e contribuintes, os quais, por meio da União, poderão ser convocados a contribuir para tapar rombos financeiros. Quanto à diretoria e ao conselho, a questão é saber como e por que não foi detectada a tempo a sangria patrimonial da empresa.
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