terça-feira, 20 de janeiro de 2015

Apagão atinge 10 Estados e DF

• Operador desliga sistema para evitar problema maior; em SP, passageiros ficam presos no metrô

Uma combinação de alto consumo por causa do calor e uma falha no sistema de transmissão de energia provocou um apagão em ao menos dez Estados e no Distrito Federal por volta das 15h desta segunda (19). Os cortes duraram em média uma hora e meia.

Com a demanda sobrecarregada por causa das altas temperaturas, o sistema teve de ser desligado pelo ONS (operador do sistema) para evitar o risco de um blecaute de maiores proporções. Especialistas veem risco de novas interrupções no curto prazo.
Em SP, passageiros que estavam no Metrô chegaram a ficar 50 minutos presos em um trem com o ar-condicionado desligado. Alguns desceram do vagão e caminharam pelos túneis ente as estações.

Falha e pico de consumo causaram corte

• Sem queima de capacitor em linha de transmissão, demanda de energia não levaria ao problema, afirma ministro

• Operador não informa claramente as razões nem sabe informar se já ocorreu desligamento semelhante no país

Lucas Vettorazzo – Folha de S. Paulo

RIO - Uma falha no sistema de transmissão de energia elétrica e o alto consumo no início da tarde em razão do calor causaram o apagão que atingiu ao menos dez Estados e o Distrito Federal na tarde desta segunda-feira (19).

Por volta das 15h, várias cidades do país tiveram cortes seletivos de luz. que duraram em média uma hora e meia. Foram atingidos os Estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Paraná, Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Santa Catarina, além do Distrito Federal.

Segundo a Folha apurou, a falha no sistema ocorreu pelo elevado nível de consumo devido ao calor intenso. A demanda teria sobrecarregado o sistema, que teve de ser desligado para evitar o risco de um apagão de maiores proporções e com mais dificuldades para o religamento.

Quase quatro horas depois dos cortes no fornecimento, o ONS soltou uma nota sucinta que não esclareceu completamente o que ocorreu.

Informou que "restrições na transferência de energia das regiões Norte e Nordeste para o Sudeste, aliadas à elevação da demanda no horário de pico, provocaram a queda da frequência elétrica" do sistema, causando o desligamento automático de 11 usinas geradoras de energia no país, que produzem um total de 2.200 MW (megawatts).

A maior das unidades desligadas foi a usina nuclear de Angra 1, com 640 MW de capacidade, e que até a conclusão desta edição não havia sido religada.

O ONS informou que, "visando restabelecer a frequência elétrica às suas condições normais", atuou em conjunto com as distribuidoras das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste, "impactando menos de 5% da carga do sistema".

Ministro
O ministro Eduardo Braga (Minas e Energia) afirmou que houve queima de um capacitor na linha de transmissão Norte-Sul, de Furnas.

Isso ocorreu em momento de pico de consumo no Sudeste. Ao mesmo tempo, houve alteração de frequência na rede da região, por motivo ainda incerto.

Braga disse que o problema não ocorreu devido à demanda dos usuários.

"O pico de consumo houve; no entanto, se não tivesse havido esse problema técnico, não teria tido [o apagão]. Esse pico de consumo aconteceu na semana passada todos os dias e não tivemos problemas."

O ONS informou que a determinação para que haja cortes no fornecimento de energia "eventualmente acontece", mas o órgão não soube informar se já ocorreu um desligamento como o de ontem.

Especialistas no setor afirmam que, quando o sistema está no limite, como é o caso, falhas ocorrem com maior frequência e descontrole.

"Não foi coincidência que isso não ocorreu às 3h da madrugada, quando o sistema está mais aliviado, e, sim, às 15h, durante o pico de calor", afirma Cristopher Vlavianos, presidente da comercializadora Comerc.

Segundo o empresário, restrições de linha podem acontecer por estresse do sistema. "A verdade é que, se houvesse a falha numa situação de nível de reservatórios normais, o resultado seria totalmente diferente", diz.

Atingidos
Pelo menos 2,8 milhões de clientes foram atingidos pelo apagão em todo o país.

Na Eletropaulo, que fornece para a capital paulista e chegou a cortar 700 MW de sua energia distribuída, 854 mil unidades consumidoras foram atingidas, ou 2 milhões de pessoas.

A Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) considera que 1 MW é suficiente para abastecer uma residência durante um mês.

Na Light, que distribui para a capital do Rio, o corte foi de 500 MW, enquanto na Ampla, que atende a região metropolitana fluminense, foi de 100 MW, com 180 mil clientes de 13 cidades atingidos.

O forte calor que atinge principalmente a região sudeste tem feito, desde o verão passado, com que o pico de consumo de energia no país seja registrado no meio da tarde, entre as 14h30 e as 15h30, e não mais à noite.

As altas temperaturas e o comércio a todo vapor têm feito disparar o uso do ar-condicionado nas cidades brasileiras.

Colaboraram Brasília e Joana Cunha, de São Paulo

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