- O Estado de S. Paulo
De Itamar Franco dizia-se que era um presidente da República mercurial: tomava decisões de acordo com o que lhe aconselhava o temperamento. A sorte para o país é que sabia ouvir. Em momento crucial, soube escolher e ceder a um conselheiro mais ponderado para permitir o início de um processo que levou o Brasil ao prumo.
O mesmo já não se pode dizer da presidente Dilma Rousseff que, exibindo característica semelhante de alterações abruptas de humor, não abre mão do uso da irritação pessoal como critério para tomada de decisões. Trata-se de uma temperamental convicta. E inflexível ao limite da insensatez.
Exemplos do método confuso, desprovido de lógica, errático e não raro de resultados desvantajosos para o governo não faltam. Foram vários ao longo dos últimos anos. Vamos, no entanto, nos ater aos dois últimos, começando pelo mais recente, o comentado afastamento de Graça Foster da presidência da Petrobras.
Ninguém discorda, aliás, era quase unanimidade que a atual diretoria da empresa havia perdido há muito as condições objetivas e subjetivas para seguir no comando. A Procuradoria-Geral da República havia aconselhado o afastamento coletivo e a própria Graça Foster, como é de conhecimento geral, pedido à presidente diversas vezes para sair.
Dilma negou, manifestando sempre total confiança na lisura da executiva e amiga. Portanto, imagina-se que a presidente queria evitar que a demissão fosse interpretada como suspeição do envolvimento (por ação ou omissão) de Graça no esquema de corrupção da Petrobras. Uma escolha desgastante, mas uma escolha.
Agora circula no governo a notícia de que Dilma Rousseff mudou de ideia. Por quê? Como é de praxe, ninguém no Palácio do Planalto se sente na obrigação de dar uma explicação clara. Nega-se no oficial e no paralelo prosperam as versões. Fica a suposição de que o motivo seja a dita “irritação” da presidente com a divulgação do balanço (não auditado) da companhia onde se revelava a perda de R$ 88,6 bilhões em ativos.
Segundo consta, Dilma considerou os números “descabidos”, “mal calculados” e, por isso, não deveriam ser dados a conhecer. De onde, talvez, a decisão de substituir Graça Foster. Algumas coisas não combinam nessa história: se houve erro de cálculo, não seria o caso de corrigir e divulgar o número correto? Quem deu o respaldo para a divulgação? Ou não houve respaldo? Se não houve, ocorreu evidente descontrole de informação e, por consequência, de administração, de governança.
Resta ainda a hipótese de o balanço ter sido mero pretexto para justificar uma decisão que já se desenhava óbvia até pela própria atingida, mas que a presidente insistia em não tomar sabe-se lá qual a razão. Teimosia? Dificuldade de perceber as circunstâncias, de reconhecer equívocos?
Se o plano era para demitir a presidente da Petrobras, não se justifica a demora. Politicamente, o que Dilma ganhou foi ver a oposição e o PMDB ontem comemorando por interpretarem o desfecho como derrota dela, considerando o aval anterior à permanência da amiga.
Para efeito do escândalo em si, a saída de Graça não muda nada, pois os desdobramentos dependem da Justiça. Há como demonstrado pela reação do mercado, imediatos de percepção para a empresa, embora não se saiba ainda o que vem pela frente. Isso inclui o decorrer das investigações e o processo de escolha da troca de comando da Petrobras. Este não afastado do risco de ser conduzido sob o signo de mercúrio.
Aqui volto ao segundo dos dois exemplos recentes, citados no início, do critério de irritação aplicado pela presidente a decisões de governo: a derrota para Eduardo Cunha na Câmara. Obra de sua “irritação” com o deputado que virou presidente.
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