• Partido, que realiza hoje reunião do Diretório Nacional, quer promover ‘volta às origens’
Vera Rosa, Luciana Nunes Leal - O Estado de S. Paulo
BRASÍLIA - Depois do afastamento da presidente Dilma Rousseff, o PT quer promover uma espécie de “volta às origens” e limitar as alianças nas disputas municipais a partidos do campo de esquerda ou que sejam contrários ao governo comandado por Michel Temer. A orientação para que o PT não se una ao PMDB de Temer nas eleições de outubro deve ser aprovada hoje, em reunião do Diretório Nacional petista, a primeira após o impeachment de Dilma.
O assunto chegou a ser tratado ontem em encontro da Executiva, mas houve dúvidas sobre a viabilidade da medida, uma vez que a maioria dos partidos da base aliada do governo Dilma no Congresso votou a favor do impeachment. Para que o PT não fique isolado nas próximas eleições, porém, a tendência é que os pedidos de coligação sejam examinados “caso a caso”.
Dirigentes do PT observaram, na reunião de ontem, que a sigla também precisa fazer um balanço de seus erros, e não apenas bater na tecla do “golpe”, se quiser enfrentar a crise e sair do “abismo”. A maioria dos participantes do encontro, no entanto, avaliou que “não é hora de fazer isso”.
Mesmo assim, a resolução política a ser aprovada hoje pelo Diretório Nacional deve listar como erros o fato de o partido ter demorado a perceber o que chama de “conspiração” do PMDB e o fechamento de alianças apenas para vencer as eleições, sem dar prioridade para os programas. Além disso, o PT faz uma autocrítica por não ter insistido para que Dilma encaminhasse o projeto de regulamentação da mídia.
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva não comparecerá ao encontro da cúpula petista. Abatido, ainda está consultando aliados sobre o tom da oposição a Temer.
Em conversas reservadas, o ex-presidente tem dito que o PT precisa pôr nomes de mais peso político na direção, como os dos ex-ministros Ricardo Berzoini (Secretaria de Governo) e Jaques Wagner (Gabinete da Presidência). Lula também defende um Encontro Extraordinário do PT, em novembro, para definir a nova fisionomia do partido, que, nas palavras de muitos dirigentes, precisa se “reinventar”.
Rumo. A proposta de antecipação das eleições presidenciais foi descartada ontem pelo comando petista, pois não há acordo para empunhá-la como bandeira, nesse momento. Dividido, o PT ainda está à procura de um rumo a seguir, além do grito de guerra “Fora Temer”.
“Mal começou e o governo usurpador confirma o que já prevíamos. Em sua primeira entrevista (…), o presidente interino anuncia a disposição de avançar em privatizações, em rever políticas sociais e de reforma agrária, bem como de acabar com o multilateralismo da política externa brasileira, retornando à dependência dos Estados Unidos”, escreveu o presidente do PT, Rui Falcão, em artigo publicado no site do partido. “Num ministério sem mulheres e negros, com vários ministros investigados por corrupção, a revogação de direitos não se resume à reforma da Previdência, com fixação de idade mínima.”
O ex-ministro da Previdência Social Miguel Rossetto chamou Temer de “impostor” e disse que o Diretório Nacional do PT vai discutir uma política de alianças para as eleições municipais centrada na “denúncia do golpe” contra Dilma. Rossetto afirmou, ainda, que serão intensificas mobilizações contra o novo governo.
“Vamos fazer ações com PC do B, PT, PSOL, Frente Brasil Popular, grandes mobilizações de posicionamento claro frente ao governo ilegítimo. Temer é um impostor”, disse Rossetto. “Estamos nos preparando para as eleições municipais e nossa política de alianças será ‘não ao golpe e em defesa dos direitos’”, afirmou o ex-ministro, que classificou a intenção de Temer de mudar as regras para aposentadoria como “inaceitável e cruel”.
Embora até Lula considere remota a chance de Dilma retornar ao Palácio do Planalto, após um afastamento de até 180 dias, o PT decidiu fazer forte oposição ao governo Temer. Na Câmara, por exemplo, deputados do PT afirmam que vão obstruir a votação de projetos de lei enviados pelo presidente em exercício, mesmo que o partido tenha defendido a ideia no passado, como é o caso da proposta de recriação da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF).
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