Folha de S. Paulo
Acuado, presidente busca proteção para não
ser punido pelos crimes que já cometeu
Jair Bolsonaro acionou um advogado para
tentar se salvar do cerco que se formou contra ele após o 7 de setembro. Com a
ajuda de Michel Temer (OAB 16534/SP), o presidente divulgou uma nota para
afirmar que jamais teve a "intenção de agredir" outros Poderes nos
atos golpistas. O texto pode parecer um recuo, mas é, na verdade, um pedido de
habeas corpus para um político em perigo.
Os dez parágrafos da declaração publicada nesta quinta (9) pelo Planalto dão todos os sinais de que Bolsonaro está em busca de proteção, não de diálogo e pacificação. No texto, o presidente ignora sua ameaça pública de descumprir decisões judiciais e torce para que a manobra seja suficiente para não ser punido pelos crimes que já cometeu.
Dois dias depois de chamar Alexandre de
Moraes de "canalha", o presidente agora diz que tem apenas
"conflitos de entendimento" com ele. Em vez de pedir que o
ministro do STF seja enquadrado, Bolsonaro afirma que vai buscar resolver essas
divergências na Justiça.
A defesa do
presidente vai ter trabalho, já que é impossível destruir as provas
de que ele incitou a desordem e a desobediência, do alto de um trio elétrico e
à luz do dia. Nos protestos do feriado, Bolsonaro disse com todas as letras que
não cumpriria decisões tomadas por Moraes e voltou a lançar suspeitas falsas
sobre a lisura das eleições.
Bolsonaro busca blindagem com o argumento
de que suas declarações "decorreram do calor do momento". Faltou
lembrar que a ameaça ao STF foi gestada por semanas e que suas primeiras
palavras contra o tribunal no dia 7 foram dadas ainda pela manhã, no frescor do
Palácio da Alvorada, enquanto uma criança tocava o hino nacional no piano.
O presidente percebeu que as investigações
contra seu grupo político vão continuar e que conversas sobre um impeachment
começam a ganhar corpo. Ameaçado, ele simula um passo atrás para reduzir
temporariamente as pressões sobre o governo até que fique
confortável o suficiente para atacar de novo.
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