O Estado de S. Paulo
Dor de cabeça de Lula não passou: 2023 acabou em festa, mas 2024 chega ao fim de mau humor
O presidente Lula superou a nova cirurgia no
cérebro e a embolização, teve alta do hospital e se recupera em São Paulo até
quinta-feira, mas a dor de cabeça com a realidade política e econômica não
passou. Se 2023 acabou em festa, com PIB surpreendendo positivamente, reforma
tributária aprovada e Fernando Haddad bombando, 2024 vai chegando ao fim com
ambivalências, nuvens de incertezas e mau humor.
O Congresso é uma parte importante disso, mas não a única. Lula está proibido de fazer exercícios físicos por um tempo, mas obrigado a fazer malabarismos políticos para a aprovação do pacote do corte de gastos, que ele mesmo questiona, e da regulamentação da reforma tributária, só não abandonada pelo relator, senador Eduardo Braga, durante esse ano inteirinho. Só faltam três a quatro dias até o recesso.
Com Lula internado, os articuladores do
governo abriram caminho para as duas votações, já na sexta-feira, a golpes de
emendas que fizeram jorrar R$ 7,1 bilhões para senadores, deputados e seus
redutos eleitorais. Vitória principalmente do deputado Arthur Lira, que está se
despedindo da cadeira de presidente da Câmara, mas não do seu poder no
Congresso.
Lira, aliás, foi capaz de produzir uma
pérola. Ao alardear uma realidade, a de que o governo não tem votos suficientes
para o pacote, ressaltou que “o BPC, o salário mínimo e o abono salarial são
muito polêmicos”. Ah, sim, tudo explicado. O problema não eram/são as emendas,
mas a preocupação com os pobres e os ainda mais pobres…
Enquanto isso, o mercado continua cego, surdo
e mudo para os dados positivos, como PIB, emprego, renda e inclusão social, e
só tem olhos e ouvidos para os negativos: além da questão fiscal, que neste
momento depende da rapidez e da vontade do Congresso e vai precisar de mais
ajustes e cortes em 2025, o velho fantasma da inflação também ronda a economia.
Os presentes de Natal para o governo, os
brasileiros e o Brasil são de grego. O dólar fechando a R$ 6,09, recorde desde
o Plano Real, de 1994, apesar das intervenções que o Banco Central tentou adiar
ao máximo, mas acabou fazendo. E a pancada de um ponto porcentual nos juros,
com o mesmo BC já sinalizando que vai repetir a dose nas duas primeiras
reuniões de 2025.
Bem… Lula saiu do hospital bem disposto e
bem-humorado e volta a Brasília na quinta-feira já se preparando para as dores
de cabeça do poder, com um detalhe: além de Lira deixando a presidência da
Câmara para seu pupilo Hugo Motta, 2025 vem aí com a presidência do BC saindo
do adversário Roberto Campos Neto para o amigão Gabriel Galípolo. E o que muda
ali e acolá? Nada!
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