O Estado de S. Paulo
Baixo índice de leitura significa menor compreensão do mundo em que se vive e mais dificuldades no acesso a melhores postos de trabalho
A redução da pobreza e da extrema pobreza no Brasil para os níveis mais baixos já aferidos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) deveria instilar-nos algum otimismo, de que tanto carecemos nestes tempos. Segundo a Síntese de Indicadores Sociais do IBGE, entre 2022 e 2023, 8,7 milhões de brasileiros deixaram a linha de pobreza, outros 3,1 milhões saíram da condição de miséria e a proporção da população considerada pobre diminuiu de 31,6% para 27,4%. O aquecimento do mercado de trabalho e o pagamento de benefícios sociais, como os vinculados ao Bolsa Família, são apontados como fatores decisivos para a melhora, o que mostra a importância desses programas.
Muito lentamente, as condições de vida estão
melhorando para a população mais sacrificada nos tempos de dificuldades e nem
sempre suficientemente recompensada nos períodos de prosperidade. Mas persiste
um quadro social inquietante, dominado por um imenso contingente de pobres.
Ainda há 59 milhões de brasileiros sobrevivendo com menos de R$ 22,17 por dia.
Mais de um quarto da população é muito pobre.
As piores consequências da deformada
distribuição de renda no País têm sido atenuadas por programas sociais e de
serviços públicos, especialmente na saúde. Mais eficácia poderia ser alcançada
com medidas no campo tributário, mas, por conhecidas dificuldades no seu
relacionamento com um Congresso de nítido perfil conservador, o governo não
mostrou disposição de avançar nesse rumo.
São, reconheça-se, caminhos alternativos. O
central é óbvio: oferecer a todos as condições para progredir por meio de uma
educação inclusiva e formadora de cidadãos aptos a desempenhar com competência
e consciência seu papel econômico, social e político.
Não há motivos para animar os que se
preocupam com o futuro. No campo da educação, parece que decidimos parar ou
caminhar para trás. É entristecedor saber que o País, onde se lê pouco, perdeu
6,7 milhões de leitores em cinco anos. A pesquisa Retratos da Leitura no Brasil
(feita pelo Instituto Pró-Livro, Ipec e Itaú Cultural) constatou pela primeira
vez que a maioria dos brasileiros não lê livros.
Falta de tempo, mais dedicação à internet,
televisão e outros motivos foram apontados para a queda no número de leitores.
Quaisquer que se
O reserva-se o direito de selecionar e
resumir as cartas. Correspondência sem identificação (nome, RG, endereço e
telefone) será desconsiderada jam as razões, é um fato preocupante. Baixo
índice de leitura significa menor compreensão do mundo em que se vive, mais
dificuldades no acesso a melhores postos de trabalho e nas demais atividades da
vida em sociedade.
O problema é mais profundo. Mesmo quem lê
entende mal o que lê, como aponta há tempos o Programa Internacional de
Avaliação de Estudantes (Pisa), estudo comparativo realizado a cada três anos
pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). No
último relatório, relativo a 2022 e divulgado no ano passado, o Brasil manteve
os resultados alcançados em 2018 em matemática, leitura e ciências.
Com otimismo, pode-se dizer que o Brasil
mostrou resistência na pandemia da covid19. Não piorou. Mas isso pouco
significa. Em 16 países que fazem parte da OCDE, a média em 2018 foi de 487
pontos em proficiência em leitura; estudantes brasileiros de 15 anos
registraram média de 413 pontos. Esses números mostram que os estudantes
brasileiros não aprenderam a interpretar o que leem (quando leem, pois o índice
de leitura está em queda, como vimos acima) e não estão habituados a ler outras
obras além dos livros didáticos ou as exigidas pela escola.
É claro que os resultados variam de acordo
com a situação econômica e social das famílias. Desigualdades sociais estão por
trás de resultados desiguais alcançados por estudantes pertencentes a
famíforum@estadao.com lias de diferentes situações econômicas. Uma pesquisa do
Insper sobre a democratização da educação profissional e tecnológica constatou
que estudantes de nível econômico e social mais baixo têm menor acesso a esse
tipo de ensino. E esse grupo social é justamente o que mais poderia se beneficiar
com o acesso à educação profissional e tecnológica.
Critérios para a ação do Mi n i s t é r i o d
a E d u c a ç ã o anunciados pelo ministro Camilo Santana apontam o caminho
correto, com prioridade para alfabetização na idade certa, educação em tempo
integral, permanência do jovem na escola e melhoria na formação inicial e
continuada dos professores.
Talvez devêssemos concentrar atenção no
último item. Causa desassossego ter de concordar com o editorial Professores
que não sabem ensinar publicado pelo Est a dão (13/12). Não se trata de
inculpar o professor, mas de defendê-lo. Ele é vítima de um círculo vicioso,
formado por salários inadequados, falta de reconhecimento social de seu papel
vital na formação das pessoas, desrespeito nos locais de trabalho, desestímulo
ao bom preparo didático e ao aperfeiçoamento, baixa qualidade do ensino, alunos
mal preparados e baixos salários. Esse círculo precisa ser rompido, e com
urgência.
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