A presidente Dilma Rousseff tenta se equilibrar, com um pé em cada canoa, em meio às marolas da Comissão da Verdade.
Na canoa da comissão, há uma tendência pela revisão da Lei da Anistia e a possibilidade de julgamento e punição dos agentes da repressão durante a ditadura, tanto civis quanto principalmente militares.
Já na canoa das Forças Armadas, ninguém pode sequer ouvir falar em revisão da Lei da Anistia e condenação de militares apontados como responsáveis por torturas e mortes.
Na comissão, a nova coordenadora vem a ser exatamente a advogada Rosa Cardoso, que defendeu Dilma quando ela própria era uma das perseguidas e torturadas do regime.
"As autoanistias, dentro do direito internacional, não valem", disse Rosa, no balanço de um ano de trabalho, deixando claro que a intenção é permitir a punição de militares, hoje vetada pela Lei da Anistia, ratificada pelo Supremo em 2010.
Já na Defesa, que chefia as três Forças Armadas, o ministro Celso Amorim é enfático ao rebater: "Essa não é a linha do governo. O governo não proporá, não promoverá e não estimulará nenhuma punição nem a revogação da Lei da Anistia".
Rosa é ligada, até pessoalmente, a Dilma. Amorim é ministro da presidente. Se Rosa tem apoio de parte da comissão, incluindo Paulo Sérgio Pinheiro, a posição de Amorim foi reforçada ontem pelo ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo.
De duas, uma: ou o ministro da Defesa desautorizou a comissão e foi apoiado pelo da Justiça, ou Dilma promoveu um acordão com os dois lados para se manifestarem com o mínimo de estrago possível do governo nas esquerdas e na área militar --tipo "cada macaco no seu galho".
O fato é que Dilma não se compromete nem pretende provocar agitação, especialmente numa área tão sensível quanto a militar. Seu escudo é a proclamada independência da comissão. Assim: a comissão é uma coisa, o governo é outra coisa. Será?
Fonte: Folha de S. Paulo
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