A
nova obsessão do Bolsonaro 4.ª versão é a ‘sua’ vacina contra a ‘dele’, Doria
Em
seu quarto personagem desde a eleição e a posse, há menos de dois anos, o presidente Jair Bolsonaro vai se
metamorfoseando de acordo com as circunstâncias e conveniências políticas, mas
de uma coisa ele não abre mão: dobrar a aposta a toda semana, a toda hora, na
sua versão da “gripezinha”. São 152 mil mortos, mais de 5,1 milhões de
contaminados e o discurso do presidente do Brasil é o mesmo,
inacreditavelmente, irritantemente, negacionista.
Eu
estava no velório do jornalista Alberto
Coura, na quarta-feira, quando Bolsonaro insistiu que a
pandemia é “superestimada”. Como assim? O que mais é preciso, no Brasil e no
mundo, para o presidente admitir para sua gente que o coronavírus é grave,
gravíssimo, uma tragédia na história da humanidade? Ele sabe exatamente o que
se passa, mas não admite por estratégia, por cálculo político. Aliás, como fez
e faz seu ídolo e mentor Donald Trump nos EUA.
Beto Coura, que foi da EBC e assessorou o ministro Celso de Mello na presidência do Supremo, era muito querido em Brasília e casado com a também jornalista Vanda Célia. Tinha 63 anos, passou 84 tenebrosos dias numa UTI e morreu em função do vírus. Como falar que a pandemia foi “superestimada”? Como ouvir isso sem sentir indignação, pelo Beto, pela Vanda, pelos 152 mil mortos e suas famílias? Dói na alma.
Desde
o início – quando o mundo inteiro já estava em alerta, mas ele e Trump davam de
ombros – Bolsonaro não está preocupado com vírus, contaminação, mortes. Só teme
o efeito na sua popularidade, no seu governo e na sua reeleição. A frase dele,
ainda em março, diz tudo: “Se afundar a economia, acaba meu governo, acaba
qualquer governo. É uma luta pelo poder”. Não, presidente, não é uma luta pelo
poder, é uma luta pela vida.
O
atual grande risco é a politização da vacina, única boia salva-vidas contra
esse maldito vírus, que chega numa segunda onda e apavora novamente a Europa.
Não satisfeito em relevar a obrigatoriedade de tomar a vacina, Jair Bolsonaro
não acha fundamental uma vacina para acabar a pandemia, mas que a “sua” vacina
chegue antes da “dele” – a do governador João Doria. Seria só mesquinho, não
fosse odioso.
Ao
dar ouvidos aos terraplanistas do governo, prevendo 3,5 mil mortes, e a
empresários oportunistas, que imaginavam “só” 6 mil, Bolsonaro agia pensando
nele mesmo. Daí vieram: “gripezinha”, “histeria da mídia”, “não sou coveiro”,
“todo mundo vai morrer”, “e daí?”. Desdenhou do isolamento, promoveu
aglomerações (inclusive golpistas), descartou as máscaras, demitiu dois
ministros da Saúde, deixou um general interino por meses, faz propaganda de um
remédio sem comprovação contra o coronavírus e, por fim, ameaça a vacina.
Bolsonaro
já foi anti “velha política” e Supremo, “Jairzinho Paz e Amor”, candidato de
chapéu de vaqueiro e carregando criancinha. O quarto Bolsonaro é pragmático. De
almoço em almoço, café em café, ele está de volta aos braços do Centrão e virou amigo desde
criancinha de ministros do Supremo, enquanto deixa o Posto Ipiranga para lá e
promove o desmanche de saúde, educação, cultura, política externa e meio
ambiente.
Esse
“novo” Bolsonaro faz política, a velhíssima política. E não é que dá certo? Vai
aprovar no Senado um sujeito com currículo todo esburacado para 27 anos no
Supremo, não esquenta a cabeça com queimadas e com as angústias de Paulo Guedes com privatizações e
teto de gastos e vai se consolidando nas pesquisas e construindo a reeleição.
Apesar de tudo...
Inimigos
1, 2 e 3. Eis os maiores inimigos de Luiz Fux na presidência do STF: Marco Aurélio, Gilmar Mendes e Lewandowski, os decanos n.º 1, 2 e 3.
Nenhum deles é de brincadeira.
*Comentarista da Rádio Eldorado, da Rádio Jornal e do Telejornal Globonews em Pauta
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