sábado, 14 de julho de 2018

João Domingos: O papel do PSB

- O Estado de S.Paulo

Ao PT interessa buscar um jeito de inviabilizar a candidatura de Ciro Gomes

O anúncio do governador Paulo Câmara, de Pernambuco, de apoio à candidatura presidencial de Lula, e a pressão pela neutralidade do partido exercida pelo governador de São Paulo, Márcio França, desestabilizaram o PSB. E, pelo menos por enquanto, deram uma esfriada nas negociações dos socialistas com o pré-candidato Ciro Gomes, do PDT. O movimento dos dois governadores levou ainda o presidente do partido, Carlos Siqueira, a adiar a reunião do Diretório Nacional que decidiria com qual candidato o PSB seguirá na eleição presidencial.

O partido, no entanto, não pretende se declarar neutro. “O momento é muito importante, é crucial para o futuro do País. O PSB não pode ficar sem uma posição clara na eleição presidencial”, diz Siqueira. Ele não adianta qual será. Como boa parte dos diretórios é a favor da aliança com Ciro Gomes, dirigentes do partido anteveem a retomada das conversações logo que o choque do adiamento da reunião do Diretório passar. Para todos os efeitos, Siqueira marcou a convenção (chamada de congresso) para o dia 5 de agosto. A reunião do Diretório terá de ser feita antes. E o que a for decidido ali, será levado para a convenção.

Nesse período, o PT pretende fazer de tudo para atrair o PSB para seu lado. Não se trata somente da busca de um parceiro que pode ser enquadrado na categoria de partido médio, com uma bancada de 26 deputados, quatro senadores e cinco governadores, três deles eleitos na cabeça de chapa, em 2014, e dois que eram vice e que herdaram o governo com a saída dos titulares: Márcio França, substituto de Geraldo Alckmin, e Daniel Pereira, que assumiu o lugar de Confúcio Moura, em Rondônia.

E por que segurar o PSB do seu lado é tão importante para o PT? Porque atrapalha a vida de Ciro Gomes, que pretendia anunciar os socialistas como seu primeiro aliado de peso. Depois, tentaria negociar com o PCdoB e com os partidos do Centrão. Se conseguir tal feito, Ciro pretende dizer, na campanha, que é um candidato que buscará a conciliação nacional e que a seu lado cabem nomes da centro-esquerda à centro-direita. Em resumo, todo o País estará representado pelas forças que ele pretende unir.

E por que para o PT é fundamental atrapalhar a vida de Ciro? Porque o PT sabe que a candidatura de Lula é inviável, pois o ex-presidente está enquadrado na Lei da Ficha Limpa. Terá, então, de lançar mão de seu plano B, o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad. Acontece que Haddad é pouco conhecido no Nordeste e dificilmente terá desempenho ao menos parecido com o das eleições passadas. Ciro, ao contrário, é da região. Para se ter uma ideia, não fossem os Estados da Bahia, Ceará, Maranhão, Pernambuco e Piauí, que deram 10,15 milhões de votos de frente para Dilma em 2014, a petista teria perdido a eleição para o tucano Aécio Neves, que conseguiu, com a ajuda de Geraldo Alckmin, 6,8 milhões de votos de vantagem só em São Paulo.

Na eleição passada a maior vantagem de Dilma sobre Aécio (2,4 milhões de votos) veio do Ceará, Estado de Ciro Gomes. Pelos cálculos do candidato do PDT, ele poderá tirar cerca de 4,5 milhões de votos sobre os outros candidatos com os quais disputa a eleição. Então, para todos os efeitos, ao PT nesse instante interessa enfraquecer o máximo possível a candidatura de Ciro Gomes no Nordeste, onde o PSB também é forte. Exatamente por isso a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, correu ao governador Paulo Câmara no meio da semana para prometer a ele apoio dos petistas à sua tentativa de reeleição.

Câmara sabe que Lula é imbatível em Pernambuco. Portanto, anunciar uma dobradinha com o ex-presidente tornou-se fundamental para ele. Por isso mesmo é que Câmara anunciou o apoio a Lula e não ao PT ou ao eventual candidato que vier a ser escolhido para o lugar do ex-presidente, como Haddad.

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