A aprovação no Congresso de mais despesas piora as expectativas para 2019 e aumenta o desafio ao próximo presidente, algo que o eleitor precisa considerar
Pré-candidatos concentram a atenção nas conversas para montar alianças com vistas ao tempo de campanha eleitoral na mídia eletrônica e à captura de votos pelo país, mas deveriam também começar a se preocupar com o que os espera a partir de 1º de janeiro.
A perspectiva vista do início deste ano não era animadora, mas também não apontava para o agravamento do cenário. A economia se recuperava, mesmo que lentamente, e as contas públicas continuariam em déficit (sem considerar juros da dívida pública, algo como R$ 150 bilhões). Já a inflação permaneceria em rédeas curtas.
Passou-se do meio do ano, porém, e o tempo começou a mudar. O crescimento abandonou as rotas de projeção de 3% e veio em voo planado para baixo, chegando, hoje, ao patamar de 1,5% e 1%.
A greve dos caminhoneiros foi um tranco e tanto no sistema produtivo — provocou, em maio, em relação a abril, uma queda de 10,9% na produção industrial, segundo o IBGE. O sistema de transporte voltou a funcionar, a produção começou a se recuperar, mas o fraco governo Temer cedera, como tem sido seu costume, e em pontos estratégicos. Para atender os caminhoneiros, permitiu a volta do congelamento (do diesel) e do tabelamento (do frete). Um retorno aos tempos pré-Real.
Se o horizonte, em ano eleitoral, já não estimula empresas a investir, as novas incertezas as mantêm em estado de observação. A economia perde velocidade, o desemprego continua elevado, as vendas no comércio não reagem, e os agentes econômicos se fecham mais ainda na retranca, à espera das urnas de outubro.
Pairam, também, sobre o país efeitos do agravamento da guerra comercial deflagrada por Trump contra a China. Tudo está ainda no início, mas o mundo já aprendeu que não se pode ser otimista diante do presidente americano. Se o pior acontecer, o mundo entra em recessão — escasseiam divisas, o dólar sobe mais ainda, e acaba o ciclo de inflação brasileira sob controle. Juros subirão, e virá a retração econômica.
Para arrematar, há os contrabandos feitos no Congresso, na votação da Lei de Diretrizes Orçamentárias para 2019, sempre na contramão da necessidade de uma política fiscal austera. Estima-se que as pautas-bomba de deputados e senadores gerem mais de R$ 100 bilhões em novas despesas. Para medida de comparação: projeta-se para o ano que vem um déficit de R$ 123 bilhões. Os gastos a mais quase duplicariam o rombo.
Temer pode vetar desvarios, mas não se aposta em sua capacidade política de fazê-lo; e, se o fizer, não se duvida que o Congresso derrube os vetos presidenciais.
Piora a herança do próximo presidente, o que deveria preocupar não apenas os pré-candidatos, mas o eleitor. O agravamento de problemas, principalmente no campo das finanças públicas, precisa ser levado em conta nas urnas.
Uma escolha errada causará um grande retrocesso, com a volta de crises já vividas. Mesmo que Trump e Xi Jinping se entendam, a vida ficará mais difícil para os brasileiros.
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