Depois das eleições internas de hoje no PT, a prioridade de Lula e Dilma será fechar a aliança eleitoral que norteará a próxima reforma ministerial
Depois das eleições internas de hoje no PT, o PED, e confirmada a vitória do eixo personificado por Lula-Dilma-Rui Falcão, com a reeleição deste último para a presidência do partido, as negociações com os aliados para a montagem da aliança eleitoral serão aceleradas. Só então, refletindo sua composição, a presidente fará a anunciada reforma ministerial. Fechada a equação, as prioridades do PT passarão a ser, pela ordem: a reeleição de Dilma, a ampliação das bancadas no Congresso e, por último, a eleição de governadores. Os outros cinco candidatos são críticos da atual política de alianças e têm restrições ao governo Dilma em vários aspectos. Mas, para além de qualquer resultado, no quadro partidário caciquista que temos, o PED do PT é uma demonstração do vigor de sua democracia interna.
Lula, deixando a velha postura de líder histórico, acima das tendências, jogou o peso de sua mística a favor de Falcão, argumentando que, estando em jogo a preservação do governo, o PT precisará de um presidente forte, que lhe garanta o papel central na grande aliança que ele, Lula, já começou a recosturar, buscando isolar o ex-aliado Eduardo Campos, deixando ao PSDB apenas seu aliado histórico, o DEM. Os concorrentes de Falcão — Markus Sokol, Paulo Teixeira, Renato Simões, Serge Goulart e Valter Pomar — têm criticado abertamente a preocupação com a governabilidade e os partidos aliados, especialmente o PMDB. Eles representam, basicamente, as mesmas tendências mais à esquerda que José Dirceu derrotou no primeiro PED, em 2001, para implementar a estratégia de ampliação da candidatura de Lula, que o levaria à Presidência em 2002.
Caminhos distintos
Embora os candidatos da esquerda petista não expliquem como seria possível governar sem maioria, eles e o vértice Lula-Dilma-Falcão buscam, por caminhos distintos, o mesmo objetivo: libertar o PT do jugo fisiológico. Todos defendem a reeleição de Dilma, hoje favorita, embora enfrentando variáveis que podem complicar a vitória, como a difusa desconfiança do mercado em relação à economia, a má vontade do empresariado, fricções com alguns aliados e o imponderável fator Marina Silva. Em caso de complicação mais grave, o PT sempre pode lançar sua bomba atômica: a candidatura Lula.
A segunda prioridade, ampliar as bancadas no Congresso, é o caminho apontado por Lula para mudar o modelo de governabilidade baseado na desgastada política de alianças. A receita recomenda que o PT só lance candidatos a governador onde tiver nomes de fato competitivos. Onde não tiver, deve apoiar o aliado melhor posicionado, lançar um bom candidato ao Senado e formar uma chapão proporcional com vistas à eleição do maior número possível de deputados federais. É o que Lula já garantiu no Espírito Santo, ao cobrar do PT o apoio ao candidato do PMDB a governador.
Elegendo as maiores bancadas, o PT poderia eleger os presidentes das duas Casas do Congresso. Mas isso seria decorrência. O objetivo mesmo seria reduzir a dependência dos muitos partidos satélites que gravitam em torno da coalizão PT-PMDB, num modelo que já rendeu tantos dissabores à legenda. Em 2002, apesar da estrondosa vitória de Lula, o PT conquistou apenas 17% das cadeiras na Câmara. Na montagem do ministério, Lula rejeitou a aliança negociada por Dirceu com o PMDB, o que levou à maior dependência de partidos como PP, PTB e PL. Eles cobraram ajuda financeira do PT para saldar as dívidas de 2002 e para as campanhas de 2004. Os desembolsos irregulares através do valerioduto montado por Marcos Valério e Delúbio Soares, revelados por Roberto Jefferson como“compra de voto” , produziram a narrativa do “mensalão”, uma ferida que ainda sangra o PT e levou à condenação, pelo Supremo Tribunal Federal, de quadros da importância de Dirceu e José Genoino.
Sacrificar candidaturas de petistas a governador para garantir maiores bancadas dependerá, também, dos resultados de hoje. Se o diretório estadual for conquistado por uma das chapas que criticam as alianças, será mais difícil. Se a direção pesar a mão, como já fez no passado, haverá desgaste. E depois, neste nosso sistema de 32 partidos, a dispersão dos votos para deputado dificilmente permitirá que um só partido alcance pelo menos 25% das cadeiras na Câmara. Mas, com Rui Falcão reeleito, o PT seguirá o seguinte roteiro: fazer alianças para, no futuro, precisar menos dos aliados. Eles percebem o jogo, mas precisam continuar a jogar.
Do mato que não se espera, sai
Passou desapercebida uma boa surpresa da semana passada. A comissão suprapartidária da reforma política, criada pelo presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), após três meses de silencioso trabalho, entregou a proposta na quarta-feira. Foi a persistência de seu presidente, Cândido Vaccarezza (PT-SP), diz o deputado Marcus Pestana (PSDB-MG), que permitiu a produção do consenso básico. A proposta traz soluções inovadoras para os principais problemas do nosso carcomido sistema.
Uma deles, da lavra do próprio Pestana, propõe um novo sistema eleitoral para a escolha de deputados, que foge tanto dos modelos majoritários (distrital misto, puro ou distritão), rejeitados pelo PT, como da lista fechada, rejeitado por PSDB e outros. O sistema continuaria sendo proporcional e nominal, como hoje, mas cada estado seria dividido em regiões eleitorais. Cada uma elegeria, segundo o eleitorado, parte da bancada estadual. São Paulo poderia ter nove; Minas, oito; e o Distrito Federal duas regiões. O Tribunal Superior Eleitoral é que fixaria. Eleitos em circunscrições menores, os deputados estariam mais vinculados aos eleitores, que melhor poderiam vigiar e fiscalizar. Na próxima coluna, tratarei de outros aspectos da proposta. Em tempo: o novo sistema iria a referendo na eleição do ano que vem.
Fonte: Correio Braziliense
Nenhum comentário:
Postar um comentário