O definhamento político do governo Michel Temer (PMDB) parece começar a atingir o pilar mais sólido de sua administração -a unidade em torno da agenda de superação da derrocada econômica.
Desde a crise de maio, o presidente já deixou de lado reformas mais ambiciosas, em particular a da Previdência Social. Agora, surgem as primeiras dissonâncias na equipe encarregada das políticas básicas de ajuste orçamentário e controle da inflação.
Alçado há poucas semanas ao comando do BNDES, o banco federal de fomento, Paulo Rabello de Castro aventurou-se a criticar um projeto elaborado pelo próprio governo para reduzir os subsídios -dinheiro público- embutidos nos financiamentos concedidos pela instituição.
Propositalmente ou não, o economista alinhou-se, dessa maneira, ao lobby empresarial que resiste ao enxugamento das operações subsidiadas e atacava sua antecessora, Maria Silvia Bastos Marques.
De imediato, as declarações provocaram a saída de dois diretores do banco nesta sexta-feira (7).
Rabello nega divergências com o comando da Fazenda e afirma apenas querer debater a forma de implementação da medida. "Acabei de chegar, será que posso dizer uma coisinha?"
Fato é que sua retórica se mostra, com frequência, um tanto imprudente. Tem prometido, por exemplo, "fazer seis anos em seis meses", o que destoa da pregação de austeridade a gerar desgaste permanente para a equipe econômica.
A gestão irresponsável do BNDES, no qual o Tesouro Nacional injetou recursos bilionários para multiplicar financiamentos, contribuiu para o colapso das finanças públicas na administração de Dilma Rousseff (PT).
Mesmo antes disso, as condições favorecidas dos empréstimos a cargo do banco já produziam distorções na economia -num exemplo, os juros das operações não estão vinculados aos do Banco Central, o que torna menos eficaz a política de combate à inflação.
Conforme a proposta ora questionada por Rabello, a taxa do BNDES será equiparada, de modo gradual, à que o governo paga para obter recursos no mercado. Eliminam-se assim, no futuro, os subsídios às empresas beneficiárias dos desembolsos.
Trata-se de uma reforma importante no sistema de crédito do país, no qual a instituição estatal assumiu peso exagerado.
Decerto haverá métodos e ritmos diversos para fazê-lo, mas qualquer sinal de retrocesso é perigoso num momento em que o governo se vê pressionado em razão tanto das virtudes de sua agenda quanto da fragilidade do presidente.
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