O Brasil fechou o primeiro trimestre com a economia bem menos vigorosa que no fim do ano passado. Depois de um ano de firme retomada, produção e consumo perderam impulso, travados pela insegurança de consumidores e empresários. O desemprego permanece elevado e os setores industriais mais dinâmicos são aqueles mais beneficiados pelo crédito e pela exportação. Em março, o ritmo dos negócios foi 0,74% menor que em fevereiro e 0,66% inferior ao de um ano antes, segundo o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), prévia mensal dos dados do Produto Interno Bruto (PIB) divulgada ontem. A perda de impulso fica mais evidente quando se compara a média dos primeiros três meses com a do período de outubro a dezembro. O confronto mostra um recuo de 0,13%.
Mas nem tudo é negativo. A atividade no primeiro trimestre foi 0,86% superior à de janeiro a março do ano passado, segundo as contas do BC. Além disso, o indicador cresceu 1,05% em 12 meses. Números mais animadores foram apresentados na estimativa do PIB da Serasa Experian, divulgada também ontem, pouco depois do IBC-Br. Segundo a Serasa, o PIB avançou 0,1% de fevereiro para março e no primeiro trimestre o resultado foi 0,3% superior ao dos três meses finais de 2017. Nesse quadro, o crescimento em 12 meses chegou a 1,3% – com pouca diferença, enfim, em relação à estimativa do BC. Apesar dessa diferença, os economistas da Serasa avaliam o desempenho da economia como inferior às suas expectativas.
Coincidem, nesse ponto, com os profissionais do mercado financeiro, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Bem antes de publicado o novo IBC-Br, especialistas do setor financeiro e das principais consultorias começaram a reduzir as projeções de crescimento para 2018, como tem mostrado a pesquisa Focus, conduzida semanalmente pelo BC. Na pesquisa divulgada na última segunda-feira, a mediana das projeções do PIB para 2018 foi reduzida para 2,51%. Já havia passado de 2,76% quatro semanas antes para 2,70% na semana anterior. As estimativas para 2019 e 2020 foram mantidas em 3% e 2,50% – de forma um tanto estranha, num momento de tanta incerteza quanto à orientação econômica do próximo governo. Essa incerteza se tem refletido, segundo avaliações correntes, nos mercados de câmbio e juros.
A instabilidade nesses mercados é em boa parte atribuída a fatores externos, como o temor de uma alta de juros mais rápida nos Estados Unidos. Mas o cenário eleitoral e as dúvidas sobre os ajustes e reformas têm sido também apontados como causas de insegurança por analistas e fontes de instituições financeiras e de importantes consultorias.
Um dia antes de ser divulgada a atualização do IBC-Br, técnicos do Ipea anunciaram a disposição de baixar a estimativa do PIB de 2018. A última projeção, publicada em março, indicou a expectativa de expansão econômica de 3% neste ano. Pelo mesmo conjunto de cálculos, o PIB do primeiro trimestre deveria ser 1,9% maior que o de janeiro a março do ano passado e 1% superior ao dos três meses finais de 2017. Não se informou, no entanto, como ficará a nova projeção de crescimento para 2018.
Também na terça-feira a FGV informou o recuo de seu Indicador Antecedente Composto da Economia, em abril, depois de nove meses de alta. O recuo de 0,8% foi determinado pela queda de cinco dos oito componentes do indicador, formado por dados financeiros e índices de produção de bens duráveis, exportação, termos de troca e expectativas. Também declinou o Indicador Coincidente Composto, referente às condições atuais. A baixa, nesse caso, foi de 0,2%.
A piora das projeções tem refletido o menor dinamismo observado no consumo e na maior parte da indústria. O balanço oficial do primeiro trimestre deve ser conhecido no dia 30, quando o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) deverá divulgar o PIB. Então haverá uma nova base para reavaliação das perspectivas, um exercício especialmente complicado pela insegurança de um quadro eleitoral enevoado e preocupante.
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