Texto assinado por FHC fala em mobilização por ‘polo democrático’; grupo vê pré-candidato tucano como nome ideal para liderar bloco
Pedro Venceslau | O Estado de S.Paulo
Em uma tentativa de evitar a fragmentação dos partidos do “centro” na eleição presidencial, lideranças de PSDB, DEM, MDB e PTB uniram esforços para articular um palanque único na disputa. O movimento conta com a chancela do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
FHC, o chanceler Aloysio Nunes Ferreira (PSDB), o senador Cristovam Buarque (PPS-DF) e o deputado Marcus Pestana (MG), secretário-geral do PSDB, são os primeiros signatários do manifesto intitulado “Por um polo democrático e reformista”, que será lançado em um evento na última semana de maio. O documento defende uma “urgente unidade política nas eleições”.
O projeto surgiu na semana passada, em um jantar na casa do deputado Heráclito Fortes (DEM-PI), em Brasília. Também participaram do encontro o ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann (PPS-PE), o ex-ministro da Educação Mendonça Filho (DEM-PE) e os deputados Jarbas Vasconcelos (MDB-PE), Danilo Forte (PSDB-CE), José Carlos Aleluia (DEM-BA), Benito Gama (PTB-BA), além de Pestana.
O movimento surge no momento que o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), tenta formar um bloco partidário para isolar uma possível aliança eleitoral entre o Palácio do Planalto e o ex-governador Geraldo Alckmin, pré-candidato do PSDB à Presidência da República.
A maioria do grupo entende que Alckmin é, hoje, o nome com mais condições de liderar o bloco, apesar de patinar nas pesquisas de intenção de voto. A cabeça da chapa, porém, não será discutida em um primeiro momento.
“Depois do lançamento, vamos buscar em junho bilateralmente cada um dos candidatos. Esse campo vai dos liberais, como João Amoedo (Novo) e Flávio Rocha (PRB), passa por Paulo Rabelo de Castro (PSC), Rodrigo (Maia), Alckmin e Alvaro Dias (Podemos) – e, no limite, vai até a Marina Silva (Rede)”, disse Pestana.
Perigo. O manifesto, que foi obtido pelo Estado, afirma que essa eleição será a mais “complexa e indecifrável” desde a redemocratização. O texto alerta, sem citar nomes, para o risco de uma disputa polarizada entre um candidato de esquerda e o deputado Jair Bolsonaro (PSL-RJ), que lidera as pesquisas de intenção de voto no cenário sem o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
“À direita, se esboça o surgimento inédito de um movimento com claras inspirações antidemocráticas. À esquerda, um visão anacrônica alimenta utopias regressivas de um socialismo autoritário”, diz o documento. Em outro trecho, o texto afirma que a união das forças do “polo democrático” é essencial para que o futuro “não seja espelhado em experiências desastrosas como a vivenciada pelo povo venezuelano”.
O manifesto também prega reforma previdenciária, “descentralização radical”, com fortalecimento do poder local, e uma mudança estrutural no sistema tributário que promova o ajuste fiscal sem aumentar impostos.
Almoço. A bancada de deputados do PSDB participou nesta quarta-feira, 16, de um almoço na casa do presidente da Câmara. Na ocasião, o deputado Marcus Pestana apresentou uma planilha com os números do primeiro turno da eleição presidencial de 1989 para reforçar os riscos da fragmentação do centro. “Lula foi para o segundo turno com 16,6% dos votos. Brizola teve 16% e Mário Covas teve 11%”, disse o tucano.
Pestana argumentou que se os cinco candidatos com o mesmo perfil em 1989 – Guilherme Afif Domingos, Aureliano Chaves, Roberto Freire, Ulysses Guimarães e Mário Covas – tivessem se unido no primeiro turno, o resultado seria outro.
“Com mais 6%, Covas iria para segundo turno, teria grandes chances de ser eleito o presidente da República”, afirmou Pestana. Naquele ano, Fernando Collor de Mello derrotou Lula no segundo turno.
“Perguntei ao Rodrigo Maia e ao Alvaro Dias se vamos aprender com a história ou repetir os erros do passado”, afirmou Pestana. / Colaborou Adriana Ferraz
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