Eleitos pela primeira vez ou de volta à Câmara, eles representam quase metade da bancada que o partido terá a partir de 2019. A maioria defende autonomia em relação ao governo de Bolsonaro, além de renovação interna
Silvia Amorim | O Globo
SÃO PAULO - Deputados do PSDB que assumirão uma cadeira na Câmara no próximo ano defendem que o partido adote posição de independência ao governo de Jair Bolsonaro (PSL) e pedem renovação na sigla. Eles são 13 e vão representar quase metade da bancada tucana, que terá ainda 16 reeleitos. Entre os novatos, dez exercerão o cargo pela primeira vez; outros três retornarão à Casa, como o atual senador Aécio Neves.
A eleição deste ano impôs ao PSDB uma redução do seu número de deputados federais: dos 49 atuais para 29 em 2019.
AVALIAÇÃO DE PROJETOS
O GLOBO conversou semana passada com deputados tucanos que se elegeram pela primeira vez. O entendimento deles é que o PSDB não deve dar apoio automático ao governo Bolsonaro, mas definir posicionamento a cada projeto proposto.
—Devemos apoiar o que for importante para o país. Defendo apoio independente a pautas que convergirem com o que defende o PSDB — disse Celso Sabino (PA), o novato mais votado este ano entre os tucanos, com 146 mil votos.
Do outro extremo do país, Daniel Trzeciak (RS) fala em “liberdade” e “autonomia”:
— Não serei favorável nem contrário, mas favorável aos projetos bons para o país. O apoio tem que ser crítico.
Do Ceará, o deputado eleito Roberto Pessoa, que já esteve na Câmara por três mandatos, atentou para outro ponto de convergência entre os novos tucanos: uma eventual participação na gestão de Bolsonaro é condenável por todos eles.
— O governo merece seis meses de tolerância, mas participar dele jamais.
Lucas Redecker, do Rio Grande do Sul, lembrou que um dos maiores erros do PSDB foi embarcar no governo de Michel Temer (MDB).
— Penso que o PSDB tem que apoiar o governo nas reformas, mas não deve compor o novo governo.
PAUTA PRIORITÁRIA
A aprovação de uma reforma da Previdência é a pauta mais lembrada como prioritária pelos novos deputados do PSDB, mas muitos deles evitam se posicionar sobre o texto em tramitação; alguns por desconhecimento dos detalhes, outros pela incerteza do que será a versão a ser votada.
Dos deputados eleitos do PSDB, Tereza Nelma (AL) foi a única que declarou voto em Fernando Haddad (PT) no segundo turno da eleição presidencial. O GLOBO tentou falar com ela nos últimos dias, mas não teve retorno.
O PSDB fará no dia 28 uma confraternização com atuais e novos parlamentares, em Brasília. É esperada a presença de Geraldo Alckmin, que tem mandato na presidência do partido até maio de 2019.
Saído das urnas como a liderança do PSDB com maior peso político, o governador eleito de São Paulo, João Doria, tem feito um movimento de aproximação com Bolsonaro à revelia dos atuais dirigentes do partido. Na semana passada, ele ajudou a organizar um encontro em Brasília com governadores e o presidente eleito.
Renovação interna é outro assunto no radar dos novos parlamentares tucanos. Rose Modesto, vice-governadora de Mato Grosso do Sul e deputada mais votada, proporcionalmente, para a Câmara, defende que a solução é encontrar uma composição entre antigas e novas lideranças para a direção partidária. Roberto Pessoa concorda: — Tem que mesclar. Nem tudo novo, nem tudo velho.
Doria busca maioria no partido para emplacar como sucessor de Alckmin alguém alinhado a suas ideias. O nome cotado é do deputado Bruno Araújo (PSDB-PE).
A reunião do dia 28 também elegerá o novo líder da bancada do PSDB. Até agora, o único candidato ao posto é o deputado reeleito Carlos Sampaio (SP). O novato Celso Sabino chegou a se colocar para a disputa, mas, na última semana, abriu mão da vaga.
O atual líder, Nilson Leitão (MS), disse que o encontro será uma despedida dos deputados não reeleitos e ambientação dos novos. Ele disse que o partido está unido em torno da ideia de atuar no Congresso com independência e responsabilidade diante de pautas relevantes para o país.
Nesta eleição, a Câmara passou pela maior renovação desde 1986: 47% dos 513 deputados eleitos serão novos.
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