sábado, 9 de dezembro de 2023

Marcus Pestana* - O PISA: o Brasil diante do espelho

Tivemos a publicação dos resultados do PISA (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes), o maior programa global de mensuração do nível de aprendizado e dos resultados dos sistemas educacionais em 81 países. 

Mais uma vez, o Brasil não ficou bem na foto. Ficamos entre os 20 piores em Matemática (65º.) e Ciências (62º.). E entre os 30 piores em Leitura (52º.).

Todos os países da OCDE em média tiveram piora em função da pandemia. O Brasil caiu bem menos, mas não há motivo para comemorações. 

É hora, vez por todas, de abandonarmos a retórica vazia em favor da educação brasileira e fazermos um esforço sincero de diagnóstico sobre as raizes de nosso fracasso e, a partir daí, arregaçarmos as manga desencadeando uma verdadeira revolução educacional com a participação dos governos, da sociedade, do empresariado e dos profissionais da educação. Fizemos a universalização do ensino fundamental, o Bolsa Escola – incorporado ao Bolsa Família, Planos Nacionais de Educação, etc, etc, etc. Mas entra década e sai década e os resultados não aparecem.

É chover no molhado dizer que educação é tudo no desenvolvimento de um povo, de uma Nação. Segurança, saúde, convivência social, cidadania, qualidade decisória, produtividade, renda, emprego, tudo, absolutamente tudo, é reflexo do nível educacional da população. Se não encararmos este desafio de frente, continuaremos enxugando gelo e perdendo relevância internacional. 

Imaginem nossas crianças e nossos jovens chegando assim despreparados em um mercado de trabalho marcado pela inteligência artificial, a robótica, a ciência da computação, a engenharia genética, a biotecnologia? Estamos sequestrando o futuro da garotada. 

É preciso sair da zona de conforto de discursos empolados e inócuos cheios de modismos metodológicos e ideologias, para desencadearmos verdadeiramente uma profunda ação transformadora.

Três entre quatro alunos brasileiros, ou seja, 75%, se encontra no patamar mais baixo de aprendizado em Matemática, base de todo o mundo técnico. Em Leitura e Ciência, metade dos alunos está na faixa de aprendizagem insuficiente. 

O pior é que os resultados são agravados pelas desigualdades regionais e de renda. Os alunos mais ricos ficam em média 77 pontos à frente dos mais pobres, isto equivale a 3 anos de aprendizado. Os resultados dos alunos do Norte e do Nordeste são muito piores que os das regiões Sul, Sudeste e Centro Oeste, que já são decepcionantes.

É preciso determinarmos precisamente aonde perdemos o fio da meada da qualidade de ensino e decifrarmos o que faz nosso desempenho ser muito inferior a países diversos como Cingapura, Coreia do Sul, Estônia, Canadá, Japão, Irlanda, Chile, entre outros.

Impressionantes são os dados sobre a percepção dos estudantes brasileiros. Cerca de 27% se sente solitário na escola, um espaço de socialização e convivência por excelência. Na faixa de 38% não escuta o que o professor diz e 45% admitem se distrair com aparelhos eletrônicos em sala de aula. Entre os estudantes brasileiros 19% se sentem um estranho ou deixados de lado no ambiente escolar, o mesmo contigente que se sente inseguro no caminho para escola. E o pior, os dados recentes mostram que metade dos jovens pobres nem estudam, nem trabalham.

Que futuro podemos esperar desse quadro? Urge uma reação forte e coletiva. Ou o Brasil não terá a menor chance. 

*Economista e Professor. Ex-Deputado Federal pelo PSDB-MG. Secretário de Estado de Saúde de Minas Gerais (2003-2010). Diretor-Executivo do IFI – Instituição Fiscal Independente do Senado.

 

2 comentários:

Daniel disse...

Muito bom! Parabéns ao autor e ao blog que divulga seu trabalho.

ADEMAR AMANCIO disse...

Daniel sempre grato ao blog,eu também sou,mas esqueço de expressar.