sexta-feira, 27 de junho de 2025

As trombadas no Congresso - Celso Ming

O Estado de S. Paulo

Crise política emperra o ajuste fiscal, enquanto a economia avança com desequilíbrios persistentes

Meio ano já se foi, mas com mais oportunidades perdidas do que com conquistas alcançadas. A maior frente de desencontros é política, como as trombadas com o Congresso, no caso da derrubada do IOF, acabam de reconfirmar.

O principal problema da economia não enfrentado foi o do rombo das contas públicas. A dívida bruta alcançou 76,2% do PIB em abril. O compromisso do governo de zerar o déficit está sendo sabotado pelo próprio governo, que se recusa a cortar despesas e teima em aumentar impostos – apesar da forte oposição da sociedade e dos políticos.

O comportamento da inflação está melhor, mas ainda muito acima do centro da meta, de 3% em 12 meses, com 1,5 ponto porcentual de tolerância, para cima ou para baixo. As projeções do mercado, como aponta a Pesquisa Focus, são de que o ano terminará com inflação em 5,3%.

O Banco Central, que elevou os juros para os 15% ao ano – nível mais alto desde 2006, para enxugar moeda, segue trabalhando sozinho no controle da inflação.

Há, ainda, outras fontes de inflação, como o tarifaço do presidente Trump; os conflitos no Oriente Médio; e, no Brasil, a 

Com base nisso, o avanço do PIB nessa temporada de 2025 deve situar-se em torno dos 2,5%, abaixo dos 3,4% registrados em 2024, mas um bom resultado, principalmente por conta do excelente desempenho do agro. Também em consequência da alentada atividade econômica, o desemprego segue em baixa.

O melhor desempenho da economia continua sendo o das contas externas. A balança comercial (exportações menos importações) aponta para um superávit de US$ 74 bilhões.

No acumulado do ano, até a terceira semana de junho, as exportações cresceram 0,5% na comparação com o mesmo período do ano passado e somaram US$ 156,9 bilhões. Além disso, a guerra entre Israel e Irã pode contribuir para o aumento da exportação de petróleo do País mais à frente.

O alto nível dos juros também vem atraindo capital estrangeiro de curto prazo interessado nas operações de arbitragem com juros, que consiste no levantamento de recursos no exterior a custos mais baixos para reaplicação no Brasil a uma remuneração maior. A entrada de Investimento Direto no País está estimada em US$ 70 bilhões.

As tensões nos próximos meses devem se redobrar por conta dos conflitos políticos internos. A campanha eleitoral já começou. Uma eventual vitória do presidente Lula em 2026 tenderia a acentuar o descompasso com o Congresso.

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Se hoje o governo já enfrenta enorme oposição, pode-se imaginar o que aconteceria a partir de 2027, se as forças de centro-esquerda perderem ainda mais votos.

 

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