sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Analista do fisco diz que deu senha a colega

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Investigada por violação de sigilo de dirigente tucano afirma que precisou de ajuda por excesso de trabalho

Declarações de que as senhas eram tratadas com desleixo podem dificultar a apuração de culpados no caso EJ

Andréa Michael

DE SÃO PAULO - Investigada por acessar sem motivação o sigilo fiscal do dirigente tucano Eduardo Jorge, a analista tributária Antonia Aparecida Rodrigues dos Santos Silva afirmou em depoimento ter entregue sua senha a pelo menos duas colegas do escritório de Mauá (SP) do Fisco.

No depoimento, ao qual a Folha teve acesso, Antonia disse ter compartilhado os dados confidencias para que as colegas a ajudassem, devido ao excesso de trabalho.

Adeilda Ferreira, dona da máquina em que foi acessando o IR do tucano, e Ana Maria Caroto confirmaram ter recebido da colega a senha -com a qual têm acesso a dados de contribuintes.

RASCUNHO

Adeilda afirmou que deixou um papel com a senha da colega em cima de um bloco do tipo "risque rabisque", para rascunhos, em tese ao alcance de outros servidores.

Também afirmou que a senha foi anotada em uma agenda deixada sobre sua mesa de trabalho.

As declarações de que as senhas eram tratadas com desleixo podem dificultar a conclusão das investigações internas do Fisco e a apuração de responsáveis.

Em junho, a Folha revelou que cópia do Imposto de Renda do político constava de dossiê montado pelo "grupo de inteligência" que atuou na pré-campanha da petista Dilma Rousseff.

O sindicato da categoria, responsável pela defesa de Antonia, disse que reafirma sua confiança nela, que nega a quebra do sigilo.

Marcelo Panzardi, advogado de Adeilda, afirmou que a "a vulnerabilidade é do sistema, e se transforma numa falha que também coloca o servidor sob suspeita".

O advogado de Ana Maria Caroto não foi localizado.

Sindicato diz ter confiança em servidora

O Sindireceita, que representa a categoria dos servidores da Receita Federal, disse que reafirma sua confiança nas declarações da servidora Antonia Aparecida Rodrigues dos Santos Silva.

"Haverá o momento, depois de respeitados os ritos da lei, em que ficará provada a versão relatada por ela", disse a advogada Maria Carolina Santos, que juntamente com o colega Rafael Nobre Luiz acompanha a causa por designação do sindicato da categoria, o Sinreceita.
"Minha cliente tem 27 anos de carreira irreprensível", diz Marcelo Panzardi, advogado de Adeildda dos Santos.

E continua: "Quero chamar a atenção: a vulnerabilidade é do sistema, e se transforma numa falha que também coloca o servidor sob suspeita e sem fundamento".

A Folha não conseguiu contato com os demais servidores, ouvidos na condição de testemunha, ou seja, em tese, para prestar esclarecimentos ou relatar circunstâncias ocorridas.

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