Folha de S. Paulo
O relatório da comissão vai estarrecer
historiadores e as gerações futuras.
As descobertas da CPI da Covid no Senado
trazem fortes elementos a indicar a duração do bolsonarismo entre nós. Que
outro presidente foi acusado de crimes contra a humanidade no exercício do
cargo, sem estar em guerra com outros países ou em guerra civil, e, ainda
assim, permaneceu no poder e com base social de apoio significativa, como
mostram as pesquisas?
A gargalhada de Flávio Bolsonaro ao tomar conhecimento do relatório também é um lembrete sinistro de que o bolsonarismo terá muitos herdeiros, mesmo que Bolsonaro não se reeleja, fique sem mandato, seja processado e preso. Infelizmente, essa corrente política veio para ficar. Por quanto tempo? Difícil saber, mas é certo que não vai se desintegrar como poeira cósmica, porque se ampara em traços fundadores da sociedade brasileira: violência, desapreço à vida, banalização da morte.
O documento nos confronta com o horror que
seres humanos são capazes de produzir. E isso é o mais perturbador. O mal em
grande escala foi produzido por seres humanos, não por monstros. São pessoas de
índole monstruosa, mas são pessoas, de carne e osso, como eu e você.
Que bom seria se o mal fosse produzido
apenas por monstros do cinema. Mas, repito, o mal em quantidade industrial foi
perpetrado por pessoas. O presidente do país, ministros, autoridades,
políticos, servidores públicos, sabujos e capachos em geral, empresários,
médicos"¦ Além de terem contribuído para a mortandade, zombam dela.
Zombaram no começo da
"gripezinha", zombaram da asfixia em massa, zombaram de um suicídio,
zombarão sempre, porque é da sua natureza fazer e propagar o mal.
O relatório da CPI vai estarrecer
historiadores e as gerações futuras. Eles irão se perguntar: como o Brasil
elegeu Bolsonaro? A pergunta mais difícil e incômoda de responder, porém, será:
como os brasileiros o mantiveram no poder mesmo depois de tudo o que fez e/ou
deixou de fazer? Carregaremos esse horror para o resto das nossas vidas.
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