Folha de S. Paulo
Ameaça de líder de Lula tirou assunto da
Terra plana bolsonarista para relações políticas do mundo real
O governo anunciou que vai dedicar energia à
caça de animais raros, talvez folclóricos. O líder de Lula na
Câmara, José Guimarães, avisou a partidos da base aliada que o Planalto
vai tirar cargos e verbas de deputados que assinaram um pedido
de impeachment apresentado
por políticos bolsonaristas contra o petista.
Se o governo abriu espaço em sua máquina para algum parlamentar interessado em derrubar o presidente ou disposto a embarcar num factoide da oposição, deveria corrigir em silêncio a própria lambança. É mais provável que Guimarães tenha tentado inventar uma espécie exótica de inimigo e, no fim das contas, fabricado apenas uma trapalhada.
O pedido de impeachment contra Lula por suas
declarações sobre Israel tem as assinaturas de um punhado de deputados de
partidos que integram a base de Lula. A lista de
139 nomes explica muita coisa sobre as condições em que o
governo opera politicamente e não revela nada sobre aqueles parlamentares.
O União Brasil tem três ministérios e uma
salada de deputados em suas fileiras. O governo não vai encontrar em seus
cargos nenhum
afilhado de Kim Kataguiri ou Rosângela Moro. Já deputados do PSD
catarinense ganham mais exibindo nas redes suas assinaturas no pedido de
impeachment do que ao lado de Lula.
O jogo de Guimarães não foi combinado com o
Planalto. O ministro Alexandre Padilha mal conseguiu
passar pano para a barbeiragem. Disse que seria "muito
estranho" e "muito inesperado" encontrar algum signatário do
impeachment com cargos no governo. "Algo bizarro", resumiu.
O risco de impeachment é zero. O governo
poderia trabalhar discretamente para desidratar o pedido e aproveitar a
nominata para fisgar um ou outro deputado permeável às regalias do poder.
Pode ser que alguém encontre um traidor na
lista do impeachment. Fará pouca diferença para Planalto e oposição. O único
efeito da ameaça é transportar um assunto da Terra plana bolsonarista para as
relações políticas do governo no mundo real.
Um comentário:
Verdade.
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