terça-feira, 6 de agosto de 2024

Hélio Schwartsman - Lula deveria segurar a língua

Folha de S. Paulo

Por falar demais, presidente atropela estratégia da diplomacia profissional e cria dificuldades para seu próprio governo

Relações internacionais são um terreno difícil. Elas são o que de mais perto existe do estado de natureza hobbesiano. Sem um poder central que a todos submeta, cada Estado é mais ou menos livre para agir como quiser com seus homólogos. As principais limitações são a força militar de outros países; acordos internacionais, cuja imposição, porém, é fraca; e, no caso de democracias, a repercussão política que as ações do dirigente possam ter para o público interno.

A resultante disso costuma ser uma política externa pragmática (interesses) com algum tempero moral. Diplomatas não são nem padres, que julgam os atos de seus fiéis só por sua dimensão moral, nem milicianos, que não têm constrangimento em extrair por ameaça ou força o que desejam de seus clientes. Se não faz sentido para um país deixar de comerciar com a China porque ela é uma notória violadora de direitos humanos, tampouco dá para fechar os olhos para todo e qualquer abuso cometido por nação ou governante amigos.

O Brasil não poderia ter sido o primeiro país a gritar "fraude" para as fraudes perpetradas por Nicolás Maduro nas eleições venezuelanas. Não seria verossímil, dadas as ligações históricas entre Lula e o chavismo, nem prático. Se Brasília quer conservar alguma capacidade de influência diante de Caracas, precisa atuar com sutileza. Não seria vexaminoso para o Itamaraty cobrar as atas das seções eleitorais antes de caracterizar o pleito como fraudulento.

O problema é que Lula, mais uma vez, atropelou a diplomacia profissional. Falando de improviso, ele praticamente "legalizou" a fraude de Maduro. E o petista é reincidente nessa matéria. Ele também coonestou precipitadamente a reeleição de Ahmadinejad no Irã em 2009, outro pleito repleto de suspeitas. Pega mal para alguém que foi eleito para salvar a democracia no Brasil.

Lula faria um favor a si mesmo se conseguisse segurar a própria língua.

 

3 comentários:

Anônimo disse...

Quanta ingenuidade desse jornalista ou pode ser má-fé
Lula fala o que pensa, é assim que ele é ele não é uma criança levada falando bobagem, ele é um político macaco velho esperto e sempre diz o que ele vai fazer o que ele pensa Pelo menos tem essa virtude
Ele mente descaradamente mas sempre sinaliza sua intenção
E fica o jornalista e um monte de jornais passando pano

marcos disse...

Anônimo é um imbecil. Como alguém que mente sinaliza sua intenção? MAM

ADEMAR AMANCIO disse...

Há dois Lulas,para consumo interno e externo.