O Globo
Pesquisa dá sinais de que benefícios sociais
já não são suficientes para levar o voto dos mais necessitados
A pesquisa Quaest divulgada ontem, além do
resultado geral que mostra o aumento na desaprovação de Lula para 57% — maior
índice do mandato —, traz detalhes importantes que ratificam a tendência de
queda na popularidade do presidente. Dos não petistas que votaram em Lula em
2022 para derrotar Bolsonaro, 24% hoje reprovam seu governo. Isso demonstra que
quem fez a diferença na recente eleição a favor do presidente pode não estar
disposto a repetir o voto em 2026.
Dificilmente a maioria desses eleitores votará numa chapa que tenha um(a) Bolsonaro, mas poderia votar numa direita mais civilizada, representada pelo governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, ou por outros governadores colocados na largada, como Romeu Zema, de Minas, Ronaldo Caiado, de Goiás, ou Ratinho Jr., do Paraná. Se não houver consenso na direita em torno de um candidato, os votos se dispersarão, ajudando a esquerda. Num segundo turno, porém, esse eleitorado tende a se unir em torno de um nome.
O importante, no entanto, é analisar alguns
segmentos da pesquisa, como os que ganham até dois salários mínimos. Pela
primeira vez, o índice dos que desaprovam o governo Lula está igual ao dos que
o aprovam nessa faixa salarial, a base de seu eleitorado. É um sinal importante
para o governo, que demonstra já não serem suficientes os benefícios sociais
para levar o voto dos mais necessitados. As razões são diversas, mas é possível
que o terceiro mandato, sendo repetição dos outros dois, leve a uma percepção negativa.
Nas demais faixas de renda, a desaprovação prevalece.
Pela primeira vez também, os católicos
desaprovam Lula. Na última pesquisa, havia empate entre eles. Hoje 53%
desaprovam, e 45% aprovam. Isso mostra o desgaste de Lula entre os católicos,
que já foram base importante do petismo nas comunidades eclesiais de base.
Entre os evangélicos, a situação não muda: a grande maioria (66%) desaprova, e
30% aprovam. Esse nicho eleitoral é crucial para definir uma eleição
polarizada, pois é entre os evangélicos que os conservadores obtêm maior apoio.
O resultado do Censo do IBGE que será
divulgado amanhã poderá trazer novos dados sobre esse caso específico. A
relevância eleitoral dos evangélicos tem feito com que os petistas, sem
sucesso, procurem melhorar sua relação com eles, massa eleitoral nada desprezível.
Os católicos brasileiros, segundo o Censo de 2000, eram 73,6% da população
brasileira, índice que caiu dramaticamente dez anos depois, para 64,6%. Os
evangélicos, ao contrário, cresceram nesses dez anos, passando de 15,4% para
22,2%. A expectativa é que, se esses índices se mantiverem, a população
evangélica chegue a 30%, e os católicos tenham continuado a cair, para pouco
mais de 50% da população brasileira. Essa perspectiva assusta a Igreja Católica
na última década.
No entanto indicações empíricas mostram que o
crescimento evangélico tem sido refreado, enquanto a queda dos católicos deu
uma estagnada. Caso se confirmem essas tendências, haverá mudança significativa
no cenário eleitoral brasileiro, mas não exatamente favorável ao presidente
Lula, se bem que prejudicial para os conservadores bolsonaristas. Aliás, o
envolvimento de pastores na política partidária é apontado como principal razão
para um eventual recuo no crescimento dos evangélicos. Os padres, ao contrário,
são vistos como mais afastados da política partidária, dando a seus fiéis,
muitos egressos de igrejas evangélicas, segurança e tendo mais credibilidade na
sua ação pastoral.
Como a pesquisa de ontem mostra que, também
entre os católicos, Lula passou a ser minoritário, ele não se apropriará dessa
mudança, mas as perspectivas eleitorais mudarão. Candidatos mais conectados com
as ambições e visão de mundo das classes menos favorecidas podem alterar o rumo
da polarização.
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